terça-feira, setembro 09, 2008

Por uma carroça de livros

Este cavalo tem oito anos e está a puxar uma carroça no meio do trânsito. A carroça tem caixotes e mais caixotes. Cheios de livros. O homem insensível está a carregar a carroça, sem contemplações. Ele tem um sorriso mau. O pequeno cavalo olha-me assustado. Meto-me no trânsito e desato a berrar contra o homem, mas o homem ri-se e puxa a carroça para sitios da estrada onde não consigo chegar, e eu no meio de riquexós e porshes, quase fico esborrachadinha. "Vocês não podem permitir isto!", grito para os condutores e para os transeuntes. Acordo a discutir, em inglês, com um casal de turistas, esparramados num riqxó, que olham embevecidos, e dizem que é tudo tão deliciosamente typical. Inclusivé uma mulher, eu, aos berros no meio do trânsito de uma cidade que parece um cruzamento entre o Rio de Janeiro e Nova Iorque, com um toque de Bombaim, por causa de um cavalo assustado a puxar uma carroça cheia de caixotes cheios de livros.
Resultado: larguei tudo e vim apanhar sol e dormir, e passear no campo. Estamos no Algarve, perto de Aljezur.
Mas na primeira noite:Martinhal. Fomos os últimos hóspedes. Em poucos dias vão demolir os pequenos apartamentos em frente da praia. Em dois anos, naquela paisagem de sonho, vai surgir um hotel pequeno. O projecto é muito bonito. Sagres é que não. É uma terra desolada.

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