sexta-feira, outubro 16, 2009

Memórias do Rossão: o ar da liberdade












«Tinham sido acolhidos de braços abertos em casa de Alberto, o primo de Manuel, cuja mulher a tratara com todo o carinho, conduzindo-a à lareira para se aquecer. Estavam todos a morrer de fome. A caminhada, o ar da serra, os sobressaltos da véspera e o cheiro que saía das panelas, penduradas sobre o fogo, ainda mais lhes abria o apetite. Esta cozinha, enegrecida pelo fumo da lareira, com a arca de pão e os enchidos nos fumeiros, lembrava-lhe a cozinha de Carregal do Sal, onde fora feliz nos descuidadosdias da sua meninice.
Ceia simples, mas «saborosíssima». Uma tijela de caldo «como nunca o comera igual», um «copo de água finíssima» e um bom naco de alvo pão, satisfizeram «as primeiras necessidades do meu estômago». Depois um arroz de bacalhau «muito bem feito» e, após as rezas nocturnas -- prática habitual na casa -- um serão de conversas... [in Maria Adelaide Coelho da Cunha: Doida não e não!, pp. 135-136]»
As imagens [Outubro de 2009] documentam a entrada da casa do Alberto Cardoso, no Rossão, a cozinha que Adelaide descreveu e que ainda guarda o cheiro de saudosos sabores tradicionais, com a sua janela que dá para a rua, onde ela assomou tantas vezes. Felicidade intensa mas de curta duração. O hospício aguardava-a. Para eles, Aberto e Manuel, a cadeia.

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