terça-feira, fevereiro 02, 2010

«Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal»

Faço parte do grupo alargado dos que estremeçem só com a ideia de que os jornais, em papel, estão ameaçados de morte a curto ou médio prazo. E certo que muita da informação está já on-line. Mas o prazer do encontro palpável com o corpo da notícia, em trabalhos de referência, não é dispensável ou substituível. Nem pela net, onde já consumimos grande parte da informação disponível. Afinal, os dois suportes são complementares.
É como com os livros: sim, inevitavelmente sim, ao E-book, mas que isso não implique a abolição do objecto livro tout court. Guardo, dias a fio, semanas a fio, anos a fio, noticias, recortes, de imprensa. Pela força da sua mensagem, pela coragem da denúncia, ou por vezes apenas pela beleza formal dos textos. O último -- uma mistura de tudo isso -- foi a soberba entrevista que Ana Gerschenfelda fez a Christophe de Dejours, no Público de 1/02/2010, com o título:

"Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal"

Vale a pena ler tudo. É imprescindivel fazê-lo, acho. Afinal, afecta-nos a todos, o que se está a passar no «submundo» da gestão empresarial. Citando:
« Nos últimos anos, três ferramentas de gestão estiveram na base de uma transformação radical da maneira como trabalhamos: a avaliação individual do desempenho, a exigência de “qualidade total” e o outsourcing. O fenómeno gerou doenças mentais ligadas ao trabalho. Christophe Dejours, especialista na matéria, desmonta a espiral de solidão e de desespero que pode levar ao suicídio. Psiquiatra, psicanalista e professor no Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris, Christophe Dejours dirige ali o Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Acção – uma das raras equipas no mundo que estuda a relação entre trabalho e doença mental. Esteve há dias em Lisboa, onde, de gravata amarela, cabeleira “à Beethoven” e olhos risonhos a espreitar por detrás de pequenos óculos de massa redondos, falou do sofrimento no trabalho. Não apenas do sofrimento enquanto gerador de patologias mentais ou de esgotamentos, mas sobretudo enquanto base para a realização pessoal. Não há “trabalho vivo” sem sofrimento, sem afecto, sem envolvimento pessoal, explicou. É o sofrimento que mobiliza a inteligência e guia a intuição no trabalho, que permite chegar à solução que se procura»

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