quinta-feira, janeiro 20, 2011

Através das cores unidas do bairro

O Timóteo toma conta de mim. Por causa dele, obrigo-me a sair de casa, quando não me apetece pôr o pé na rua. Obrigo-me a sair da cama, quando facilmente voltaria a cair no sono. Ele comanda-nos,  apenas, com a força magnética do seu olhar de veludo, inteligente, intenso, banhando-nos de amor total. A sua jovem natureza quer passeio. O seu corpanzil pede exercicio. E aqui estamos nós, à vez, a ondular pelo bairro, na esteira de devaneios do puro prazer que dele emana. Assim, estamos a reconhecer velhos ambientes a uma luz desconhecida e nova. As ruas de todos os dias mudam ao nascer do dia, ao deitar do sol, com bom ou mau tempo, debaixo de chuva, rompendo nevoeiros, ou sob os raios da lua mais louca que vi nos últimos anos.
Ele cheira tudo. Ele espreita tudo. Ele quer ir a todo o lado. Ele sonha apanhar gatos ou pombos. Ele descodifica o aroma de outros cães, de todos os tamanhos e raças e feitios, que ladram das varandas, atrás das portas fechadas, no outro lado do passeio, ou ao virar de esquinas. Cãe que correm ao seu encontro, ou a saltam inutilmente no ar, presos por trelas eficazes nas mãos dos seus donos (odeio esta palavra) de todas as idades.
E assim, no correr dos dias, o Bairro, com todas as suas cores unidas, torna-se cada vez mais nosso, e nós cada vez mais dele.

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