segunda-feira, julho 11, 2011

São João do Porto, Festa dos Tabuleiros, idas à praia. Tudo isto é crise??!!

Todos os dias, em todos os telejornais, o vocábulo crise é usado até à nausea, a propósito de tudo e de nada. De forma ofensiva, abusiva e imbecil. Aqueles jornalistas são MESMO obrigadas/os a fazer esta figura?? E os seus «legitimos superiores» papam estes produtos e devolvem-nos em horário nobre como se fosse normal e decente? A propósito DE TUDO TUDO TUDO e mais um par de botas?
O estacionamento, as deslocações, os aumentos nas portagens, a fruta que se vende à beira da estrada, o festival da canção ou de cinema, ou a ida a Fátima a pé... o São Jão do Porto, as idas ao Algarve...
Mas o pior é mesmo a forma como se encanram coisas há muito tempo implantadas em todos os paises europeus onde, por exemplo, o carro aqui ainda omnipresente está a ser substituido por outras formas de mobilidade, com vantagens para todos.

Exemplos de tesourinhos deprimentes:
Um sol maravilhoso, praias excelentes, autocarros estupendos com ar condicionado a levarem as pessoas à beira mar. Um mar soberbo. Em qualquer outro país, seria o paraíso.
Perguntas dos jornalistas:
- Anda de autocarro por causa da crise? Se pudesse vir de carro, trazia o seu? Ahhhh, então a crise não a/o deixa vir no seu próprio automovel? Ahh, e antes da crise vinha?Ooohhh, então e o bilhete do autocarro aumentou? Acha que o Estado devia pagar estas deslocaçoes das pessoas? Ou as Câmaras? Ooohhhh. E não lhe custa pagar mais para vir à praia assim com o autocarro mais caro?Ahhhh, e leva a comida para a praia? Ooohh, nao há dinheiro para ir ao restaurante? Hummm, então é a crise? Oooh.... E o que traz na lancheira? Humm....
Festa dos Tabuleiros, uma das manifestaçoes mais arcaicas e mais magnificas de uma tradiçao porfundamente enraizada. Um espectáculo deslumbrante que mereceria comentadores à altura de enquadrar esta riqueza patrimonial. Que nada!! Aqui vai disto:
- Entáo e apesar da crise, está aqui a ver a festa? Entao veio de longe/de perto/ é de cá e a crise influenciou a festa deste ano? E vai ao restaurante ou trouxe sandocha por causa da crise? Ahhhh, e antes ia, e o que pensa da crise e dos tabuleiros? Acho que se reflecte?
São João no Porto, um acontecimento nacional incrivel, mais um dos multiplos motivos que coloca a Invicta nos roteiros internacionais:
Ataques verbais dos jornalistas:
- Entao esta aqui para se divertir apesar da crise? E vai comer qualquer coisinha? Ahhh, então em vez de febras e sardinhas fica-se pela fartura? É a crise, certo? E come uma ou duas? Ah, pois que pesa no bolso, certo? A crise, pois. E sente muito? E a crise mesmo assim permite-lhe estar na fila das bifanas? Ahhh, vai comer bifanas!! Mas sente a crise, certo? E o senhor, o restaurante vendeu muitas sardinhas? A crise nao deixa não e?? Ah, pois a crise!
Uma festa MARAVILHOSA, toda a gente a dançar, a saltar, a rir, e o massacre das perguntas sempre a levar para baixo. Sempre a pôr o dedo na puta da ferida.
Que vergonha, meu deus.
Portagens na ponte 25 de Abril em Agosto:
- Ooh, então agora quanto é que vai pagar a mais para ir para  praia? Oooh, acha bem? Então agora por causa da crise tem de desembolsar mais este dinheirito mas vai à praia mesmo assim? Oooh,, hummm, haaaaa, a crise instala-se, certo? O que acha deste aumento? Está de acordo? Pois sente nao sente, ahhh, é a crise.

O que é feito da memória das gentes?
Do tempo em que a praia era um luxo de ricos e férias grandes era uma excentricidade só permitida aos meninos e às meninas que estudavam? O que, depois da escolaridade obrigatória, 4ª classe, excluia quase toda a gente.  Já se esqueceram que lancheiras para a praia, levava toda a gente? Perguntem aos pais ou aos avós. E não fazia mal nenhum comer pão com marmelada ou queijo em vez de bolicaus e outras porcarias. Ir ao restaurante, era uma raridade. Há muito tempo? Bom, há quarenta anos atrás ainda não e Parque Jurássico.
Será que estão a brincar connosco ou é mesmo institucional esta deprimente falta de horizontes?
Que vergonha meu deus.

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1 comentário:

João Nasi Pereira disse...

Não é sequer falta de horizontes, Manela. É pior. P-R-O-V-I-N-C-I-A-N-I-S-M-O (isto é, falta de cultura no sentido restrito, das raízes, da história curta)
Bjs
João