domingo, setembro 18, 2011

O fogo, o fígado de Prometeu e a águia do pai dos deuses


Ele queria tanto ajudá-los. Depois, tinha medo e deixava-os sozinhos, a tremer nas noites intermináveis. Perguntou aos outros se não queriam juntar-se a ele, na partilha do conhecimento proibido. Uns fugiram. Outros riram-se. Outros ainda, apontaram para o alto da montanha onde a águia planava: «Queres alimentá-la do teu fígado, todos os dias, até ao fim dos tempos?». Por fim, ele desceu ao povoado e mostrou aos aflitos seres humanos, que dormiam e viviam entre rochedos ou nas copas das árvores para fugir às feras, que havia luz para além das trevas. Nenhum dos deuses ou dos semi-deuses o acompanhou, mas todos o acusaram:

- Prometeu partilhou com os homens a interdita dádiva do fogo.

Divinamente irado, o deus supremo pregou-o nas montanhas do Cáucaso e entregou-o à sua águia. Desde então, ela continua, todas as noites, a devorar-lhe o fígado que cresce todos os dias. Uns dizem que Hércules, compadecido, o soltou durante o tempo dos heróis. Será verdade? A escuridão ainda é tanta. E o medo de a rasgar maior ainda. Muitos, que sabem tão pouco pouco, negoceiam o conhecimento gota a gota, e sentem-se poderosos. Poucos, que sabem muito, partilham o saber. De graça e por amor. Esses, quase todos, morrem pregados na cruz, queimados em fogueiras, varados de balas, torturados, ou em acidentes que nunca ninguém consegue explicar.

O fogo, porém, cresce. A luz que o acompanha é uma imparável maré.


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