domingo, julho 29, 2012

Tempo dos Milagres: Cartas de Amor

Mais uma crónica no nosso Boas Notícias.
Um extracto:

«E é isso que digo nas palestras sobre escrita, ou nos pequenos cursos que tenho vindo a desenvolver. Saber escrever é acima de tudo, saber transmitir ideias e emoções. Mais do que técnica, muitíssimo mais do que isso, é abrir o coração, e deixar o sentimento fluir. Erros? Qualquer corretor ortográfico os corrige. Imperfeições? Há excelentes revisores e editores de texto, capazes de o limparem até refulgir.

Mas a verdade, a profunda e intransmissível verdade, só cada um de nós a pode transmitir.»

Para ler mais:
 http://www.boasnoticias.pt/noticias_tempo-dos-milagres-cartas-de-amor_12020.html
http://www.boasnoticias.pt/noticias_tempo-dos-milagres-cartas-de-amor_12020.html

sexta-feira, julho 27, 2012

Os presidentes dos EUA e suas consortes



os presidentes dos States e suas consortes têm muito para nos dar. Hoje brinquei com o Obama e com a Jackie O., os maiores ícones da Casa Branca. Aliás, estão os dois muito perto um do outro. Entretanto,  tirei-os já da porta do frigorífico, onde parece que interferem com os alimentos e fazem muito mal à saúde - os ímans entenda-se - , e pu-los na porta da máquina de lavar. Playground.

quarta-feira, julho 25, 2012

Portugal a arder a arder a arder

Publiquei este desabafo no FB e que gostava que chegasse lá onde os generais estão perdidos nos seus labirintos. 
Vamos definir inimigo. Vamos equacionar ataque. E depois pensar em defesa. Podemos até meter o vocábulo «pátria» à mistura para enfatizar bem o tema. Pergunta: a partir de que momento é licito esperar que as nossas supostas forças de defesa nos defendam? Porque nós sustentamos um corpo militar excessivo, que está nos quartéis a limpar armas e a arrancar ervinhas das paradas, e a jogar às cartas enquanto a PÁTRIA ARDE. Têm todo o equipamento para enfrentar a tragédia, e homens na flor da vida, que nada fazem. Porque a sua sublime missão é prepararem-se para uma guerra de guerrilhas, nas nossas florestas (ahahahaha, quais? por este andar é melhor mudarem os jogos de guerra) se a Espanha nos invadir.
Mas como é o fogo, que se lixe a pátria. Eu, se fosse do Estado Maior, morria de vergonha de me apresentar em público inchada como um peru com o peito estufado de medalhas, e a consciencia de NADA ter feito para defender o meu país ameaçado pela catástrofe. Morria, juro. Mas se calhar somos feitos de massa diferente. (MG).
A fotografia é do mural de Filipa Roxa, juntamente com o seutestemunho. A Filipa é um Soldado da Paz, os verdeiros e únicos heróis. Para seguir o link:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=3466544308496&set=a.1268307273944.2035027.1417691969&type=1&theater

quinta-feira, julho 19, 2012

Parabéns, André!

O André em vésperas de nascer, em LM hoje Maputo, e aos três meses em Luanda. Uma eternidade de tempo passou a correr tanto até hoje, que de algum modo passado e presente se confundem no luminoso agora, onde o presente é ainda mais precioso: a Ana, lindíssima, gloriosa, na iminência de dar à luz o filho do meu filho. O meu segundo neto. O primeiro é uma neta. A Maria, agora a entrar no esplendor da adolescência.

Não há palavras para descrever a nossa alegria.

segunda-feira, julho 16, 2012

Os meus adorados livros das férias grandes

Estavam em caixotes no sótão de onde só saiam em meados de Junho, quando as férias grandes começavam. Ali se encontravam aninhados uns contra os outros, com muitas bolas de naftalina e outras coisas que não me lembro que coisas eram, para os proteger da humidade e do bolor. Na época não se dizia «banda desenhada» mas sim «livros de quadradinhos». Por algum motivo, os pais achavam que era literatura menor que não estimulava suficientemente os nossos cérebros, pelo que só tínhamos acesso a eles uma vez por ano. Tio Patinhas, Zé Carioca, Mikey e Minie, Fada Sininho e Capitão Gancho, nunca saberão o quanto vos amei!! E o Capitão Dan Dare mais o tenebroso Mekon, Artur, o Fantasma Justiceiro, as Aventuras do Timtim, que ocupavam um lugar à parte, porque «tinham conteúdo». Os meus pais perdiam-se por estes.
Aquelas cores, aqueles desenhos, aquelas aventuras, à luz do Verão, esmaltavam-se de magia. Eram ocupação de meio da tarde, tempo de sesta, quando estava demasiado calor para se estar na praia. Ou ao fim do dia, porque se já havia televisão, faltava por completo a vontade dos adultos de a termos. 
Outros amigos que saiam desses caixotes eram os contos de encantar, Grimm, Condessa de Ségur, Lendas portuguesas (essas achas que nunca emigravam das estantes para os caixotes...), histórias de aventuras, e outra literatura de pura diversão. Os Cinco eram acolhidas com delírio. E tocávamos deliciados as suas capas gastas, folheávamos de novo as suas páginas  muito manuseadas, com uma alegria que não é possível descrever.
O reencontro era, invariavelmente, comovente e alvoroçado. Alguns estavam mais ou menos esquecidos, e, como a amigos de campos de férias, abraçávamo-los e dizíamos ai que bom, que bom!. Outros, sabíamo-los de cor, mas era sempre uma excitação voltarmos a tê-los ao nosso lado.

Recordo-me disso agora que estou a guardar as toneladas de apontamentos e fotocópias e papéis, e a reorganizar as prateleiras para devolver tantos tantos livros empilhados estrategicamente pela sala e pelo quarto, no rescaldo do livro que acabei de escrever.

sexta-feira, julho 13, 2012

Contos da Loucura Normal, recordar Bukowski


 Não me recordava quão belo era este filme. Os actores são perfeitos. Ben Gazzara, Ornela Mutti. A realização poética e segura. E o guião, que invoca constantemente as palavras de Charles Bukowski, faz-lhe uma justa homenagem. A descoberta de um sítio fabuloso, onde este e muitos outros tesouros nos aguardam, permiu-me levantar voo durante o fim do dia de ontem. Hoje, direita à biblioteca, no caos da sua reorganização pós fim do meu último livro, para encontrar os livros que tenho deste «monstro» da literatura universal, poeta, escritor, conferencista. Genial.
Deixo ligação a um sítio onde sua biografia é evocada e alguns dos seus poemas acessiveis:

Charles Bukowski (16 August 1920 – 9 March 1994 / Andernach)  

 O filme, com belíssimo texto introdutório, e fixa técnica, reencontra-se num local de culto: http://myonethousandmovies.blogspot.pt/






http://myonethousandmovies.blogspot.pt/2010/04/contos-de-loucura-normal-storie-di.html

quinta-feira, julho 12, 2012

Quem era Hannibal Lecter?

Vi o Silêncio dos Inocentes há muitos anos. Por várias vezes quase abandonei a sala. Mas o filme, com dois atores fabulosos (Jodie Foster, Anthony Hopkins), tinha uma direção soberba (Jonathan Demme e resisti.

Nunca li o livro. Nem tive vontade. Não sou especialmente fã de horror, suspense e géneros adjacentes. Normalmente é má literatura.

Mas, entretanto, caíu-me no colo o início daquela que já é uma saga. Um pequeno livro (bolso), esquecido na Flor Fina, o cabeleireiro de bairro que frequento. Comecei a ler, logo ali. Entre verniz das unhas e escova no cabelo, alheei-me, desde as primeiras páginas, da voz das apresentadoras de um programa da tarde onde se discutia se as lágrimas das mulheres afastavam os homens, ou o contrário. Um painel de convidados debruçava-se sobre o assunto e havia depoimentos telefónicos ao longo do programa. Mais aterradores do que as páginas do livro onde mergulhei, emergindo a espaços. Uma mulher falava das tareias que levou durante 30 anos, e de como ficou lesionada de um rim por causa disso. Como se tudo isto fosse banal, e horrivelmente, é. São os serial killers domésticos que temos na silenciosa guerra civil que o poder e os cultos religiosos toleram, com o seu silêncio cúmplice ou envergonhado ou simplesmente preguiçoso e irresponsável.

De modo que Hannibal me conquistou de imediato. Uma criança particularmente inteligente, cujos primeiros anos de vida são passados no castelo que o seu antepassado, Hannibal the Grim (1365-1428) construiu. Uma mãe adorável, uma irmã mais nova que irá amar para sempre, um lago com cisnes e patos selvagens, professores particulares, que desenvolvem as capacidades daquele rapaz que percebe e fixa tudo, e que adora matemática. A guerra (II Guerra Mundial) na frente oriental precipita a vida de todos num pesadelo. Em poucos anos, da criança feliz resta um miúdo que perdeu a voz e todos aqueles que amava. De forma brutal. Aos nove anos, está preso por uma corrente de ferro ao pescoço, quase morto de fome no pavoroso orfanato instalado no castelo da família, quando o tio, um consagrado pintor, o descobre. De imediato, resgata a criança que  leva para França onde com a ajuda da sua exótica e belíssima mulher, Lady Murasaki, Hannibal vai recuperar a voz e transformar-se num dos mais brilhantes alunos da escola médica de Paris.

Os fantasmas e os demónios, que nunca o abandonaram, transformar-se-ão no seu objetivo de vida. Um por um, aguardam-no, sem o saberem. E ele descobre a alegria, o prazer, o fascínio da caça ao monstro. Transformando-se ele próprio num.

Extremamente bem escrito, é de leitura compulsiva. A quem o esqueceu na Fina Flor, na mesa de trabalho da Maria, na Calçada do Combro, bem haja!




terça-feira, julho 10, 2012

sexo explicito e biografias


Há uns dois anos, um grupo de leitoras honrou-me com um convite para um jantar temático em torno das refeições de Maria Adelaide Coelho da Cunha, com o pretexto da sua biografia. Como da muita riqueza, a Senhora de São Vicente passou à muita pobreza – que felizmente ultrapassou ao lado do seu Manuel Claro – as leitoras viram-se aflitas para pescar uma refeição satisfatória. Encontraram-na sem dificuldade, nos tempos em que os dois viveram um idílico maravilhoso na aldeia do Rossão. Época de muito amor e muita fartura, e saborosas feijoadas. E feijoada jantámos. Por fim, o diálogo. Uma questão prendia-se com a ausência de descrições de carácter erótico, numa história de amor que se percebia ser intensa, tórrida, fatal. Ora se aquele romance tinha tudo… porque motivo a autora, eu, tinha ficado à porta da alcova? Não era uma crítica, era uma perplexidade.
Eu adoro quando chamam «romances» às minhas biografias. É um elogio imenso. Mas se me estou a reportar a factos, não quero, não devo, não consigo, falsear as regras. Além disso, tudo está lá. A começar pelas tardes em que Adelaide sai do palácio com a desculpa da neurastenia e vai passear a pé até à baixa, regressando a casa à hora do jantar. Os processos de tribunal, que consultei, colocam-na nesses tempos e nessas horas, num quartinho esconso na Rua de São Nicolau, onde se encontrava com o Manuel. Bem como as referências que ela faz ao preço que teve de pagar pelos «nossos beijos». Santo Deus, isto é tão erótico. Em 1920! Não é difícil imaginar o resto, e nem sequer é precisa muita imaginação. Encher páginas com arroubos e suores, gemidos e uma confusão de corpos nus e arfantes, quando não há testemunhos orais ou escritos que suportem a narrativa, está para lá do que posso ou quero ousar. Porque as pessoas cuja intimidade desvelo, existiram mesmo.
Outro tanto não digo quando os personagens saem diretamente do poço sem fundo da imaginação onde nadam nas misteriosas águas do indiferenciado à espera de se fazerem história. Já no romance tenho essa liberdade.
Preconceito? Medo? De forma alguma. Coerência e fidelidade. Quando necessário, as palavras não me faltam. Nem a vontade de as organizar em descrições. Mas esse é outro debate. 
Kama-sutra à Khajuraho. Um caderno de viagens com uma bela explicação destas imagens.