segunda-feira, março 30, 2015

Do palco à caverna

«Já o teatro propõe-nos o caminho inverso – o regresso ao útero da história. A cortina só se abre quando o público mergulha na escuridão. É então que tem início o ofício sagrado, já que o que se passa no palco, iluminado por velas, tochas, reflectores, holofotes ou luminárias, é sempre um exercício que busca religar a humana transcendência à sua fugidia existência.» 


Edinburgo - durante o Festival. 
Mas sempre que entro num teatro, seja qual for a sua dimensão, sinto um frémito de reverência. Não pelo espaço em si, mas pelo que ele comporta, guarda e permite transpor. Sentia exactamente o mesmo no tempo em que trupes de saltimbancos, palmilhando o mundo de terra em terra, levavam esta magia no bojo das suas miseráveis carroças de mulas, que, num desdobrar de tendas, numa fanfarra de músicas, e num artifício de corpos e adereços, pelo poder sagrado da palavra, devolviam à vida enredos de comédia ou tragédia, que ignorados demiurgos haviam engendrado. Quem eram eles? Nunca sabíamos. Não queríamos realmente saber. Não eram os autores das histórias que nos importavam.» - p. 10, Xerazade - a última noite.

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