quinta-feira, agosto 27, 2015

Ainda se lembram quem matou Laura Palmer?

A propósito de algumas das minhas afirmações; a propósito de alguns dos meus textos; a propósito de defesas de causas que eu tomo ou não; a propósito de diferenças e semelhanças. Tenho recebido mensagens em privado e trocado opiniões com pessoas que seguem a minha candidatura presidencial e que são suficientemente gentis para considerarem que sou bem intencionada - e assim, discordando frontalmente com algumas das minhas tomadas de posição, alertam-me para a contabilidade eleitoral. Para o ganha perde dos votos.

E eu fico gratíssima e em grande aflição. Não por perder ou ganhar votos. Mas porque no mundo onde me movo, o mundo que eu vejo é tudo menos normal. 

Quem matou Laura Palmer, lembram-se?

- Não há qualquer espécie de normalidade na guerra. 

- Não há qualquer espécie de normalidade na fome.

- Não há qualquer espécie de normalidade na violência exercida pelos mais fortes sobre os mais frágeis, os mais vulneráveis, os mais indefesos. 

- Não há qualquer espécie de normalidade na apropriação dos bens de todos por parte de alguns, muito poucos. E por bens, entenda-se tudo, desde o que é necessário à vida, a começar pela água; pelo chão que se pisa; pelo tecto que nos abriga; pelo alimento que nos alenta, pelo manto que nos cobre. 

- Não há qualquer normalidade na forma como tratamos a Natureza, como se fosse uma «coisa» com que se brinca até se lhe retirar tudo o que nela vive, matando-a, floresta após floresta; montanha após montanha; rio após rio; mar após mar. 

- Não há qualquer normalidade na forma como usamos e abusamos dos animais que partilham connosco o planeta. A crueldade que exercemos sobre eles é indizível. E porém, toleramo-la. 

- Não há qualquer espécie de normalidade no desamor que leva a que se mate ou se abuse de uma criança. E quantas vezes essa morte em vida que é o abuso, é perpetrado no seio do lar?

- Não há qualquer normalidade nos chamados «crimes de amor» que ao amor nada devem, porque é apenas o egoísmo, a ignorância e a prepotência que leva agressores/as a agirem contra agredidas/os. Isso e a noção de impunidade com que agem. 

- Não há qualquer normalidade em tanta coisa que achamos normal, ou que toleramos como se o fosse: o roubo, a calúnia, a desfaçatez, a injustiça, a indiferença de muitos que levam tantos ao desespero e à ruína. A inconcebível tolerância do mal. 

Depois, querem que eu volte sobre os meus passos e retire as minhas palavras de apoio, quando a questão é meramente do foro íntimo de cada um, como por exemplo, duas pessoas do mesmo sexo amarem-se como se amam pessoas de sexos opostos e assinarem um documento em conservatória do registo civil, que as consigna como parceiros com direitos adquiridos e etc., vulgo casamento? Num mundo onde o ódio é considerado «normal», e por vezes até aceitável e legítimo, o amor, por ter um rosto diferente, é abominado como uma abominação. 

E isto é que não é normal. 

Já agora, ainda se lembram quem matou Laura Palmer?






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