segunda-feira, novembro 23, 2015

Activismo e... ARTIVIST porque acordar é preciso

Phill Stebbing, realizador, Artivist Lisboa 2008. Um amigo desde então.


Em 2008, ainda não havia PAN - Pessoas Animais Natureza, envolvi-me a fundo na concretização de um projecto que nos encheu de alegria: trazer para Portugal o ARTIVIST, organização sem fins lucrativos apoiada pelas Nações Unidas e pela Organização Internacional Prémio Nobel, como único festival internacional de cinema dedicado a promover a sensibilização para a interdependência entre a Humanidade os Animais e o Ambiente. Um festival que, desde 2004, projectou mais de 300 filmes internacionais e alcançou mais de 25 milhões de pessoas. 


Dead Line, do realizador Phil Stebbing, Artivis LA e Lisboa. 


Foi a minha grande amiga Mozzaic (Augusta Zé Nascimento), mentora e promotora do evento, que de Los Angeles moveu céus e terra para o fazer atravessar o oceano. Por cá, nem chegávamos a meia dúzia. Basicamente, éramos o Matel (que será dele?) um poço de energia, que fez milagres todos os dias. O André Gonzaga, idem. A Alexandra Melo, que tratou da assessoria do evento. E eu. E a Zé, em LA e em Lisboa. 

Sou, como dizer? pelas chamadas «causas perdidas» como a grande e adormecida maioria nos considera. Estas causas de vanguarda, como o foram as «utópicas» lutas pelas emancipações de grupos segregados em função do sexo ou cor de pele.

Vencemos, certo? Acreditem: venceremos sempre. Nunca sabemos é o tempo que vai demorar até lá. E até podemos nem ser nós, pessoa a pessoa, a colher os frutos da árvore que semeamos. Que importa? Não é por nós que o fazemos. A escala individual é demasiado pequena para esgotar o nosso sonho.

Posto isto: o PAN, que me apoia, é um partido pequeno? Há rios que começam por menos. Um fiozinho de água de nada. E depois, sigam-no até à foz e vejam no que se tornou.

Posto isto: ah, e não tenho experiência? Acreditem, tenho mais experiência de vida do que a maior parte das pessoas para quem o país é uma abstração espalmada em power points estatísticos. Aprendi tudo o que sou de melhor quando passei a ter o coração fora do peito: com os meus quatro filhos. O melhor de mim, é tudo o que os outros me fazem ser. Por amor.

Para além de que não foi por falta de incentivo, sobretudo a partir do momento que passei a publicar os meus livros que fiquei á margem dos chamados grandes partidos, cujas figuras cimeiras cheguei a conhecer, até enquanto jornalista. Ora, não me revendo nos projectos, declinei agradecida, os convites que me foram feitos. E tenho até um grande orgulho em não ter integrado as grandes máquinas partidárias que conduziram, nos últimos anos, o nosso Portugal ao estado em que se encontra.

Voltando ao Artivist: espreitem a nossa fantástica selecção cinematográfica (clicar na lligação). Estava tão à frente, em 2008, que os jornalistas que cobriam o certame só perceberam que o Peter Joseph (Zeitgeist Mouvement) era famoso e importante, quando ele se foi embora. Não sem antes termos andado com ele pelo Bairro a correr as capelinhas, depois dos belos jantares em nossa casa.






No cinema S. Jorge onde uma parte dos filmes foi apresentada. E em  casa, com Peter Joseh e Benedetta. Acima, e muito discreto na assitência, o nosso Matel. 


terça-feira, novembro 17, 2015

Brazilian Fukushima - é tempo de mudar as regras do jogo da Vida

É com o maior desgosto que venho manifestar toda a minha solidariedade com o Brasil. Com rompimento das barragens de dejectos de provenientes da mineração exploradas pela empresa Samarco, em Mariana, no estado de Minas Gerais, deu-se o maior desastre ecológico da história recente brasileira e do mundo.

Manifesto igualmente minha profunda solidariedade para com as populações mártires desta catástrofe ambiental, que acontece na altura em que o Governo e as multinacionais pressionam pela flexibilização das regras de licenciamento ambiental. Baixando ainda mais os índices de segurança exigidos, em detrimento de um lucro cada vez mais rápido e sem entraves. E solidarizo-me com as famílias dos mortos e desaparecidos - em número indefinido, porque os números não coincidem. E, para além das vítimas imediatas, muitas mais se seguirão por envenamento. Sem falar num rio assassinado, na rede freática contaminada, e no abastecimento de água da região, brutalmente comprometido. E nas terras, doravante mortas, logo improdutivas para a longa duração. Muitos milhões de pessoas, que vivem nas margens ribeiras do Rio Doce, estão condenadas à fome por inanição, ou à tragédia do deslocamento colectivo para longe de tudo o que representava o seu mundo e a sua forma de vida.


Profundamente consternada, registo que, na sequência desta tragédia, todo o planeta vai sofrer os seus efeitos. O envenenamento dos oceanos, causado por este rio de lama de uma toxicidade inimaginável, vai causar a subida das temperaturas do ar, e, potencialmente, precipitar as condições climáticas para um cenário apocalíptico. 
Cientistas e técnicos apontam uma solução - desviar esta maré de uma toxicidade sem precedentes, para uma cratera, de forma a impedi-la de atingir os oceanos. Mas as medidas têm sido lentas demais para perigo tamanho. 


Acima de tudo, as regras sem regra de uma economia sem consciência nem ética, têm todas de ser revistas. Acima de tudo, políticas, políticos e governos, escolhidos pelos povos, não podem continuar a ser o eixo de transmissão dos meros valores do dinheiro, colocando-se apenas ao seu serviço e traindo claramente os seus eleitores, legítimos proprietários da terra, da água, do ar, dos bens da Vida que permitem viver. 


A tragédia ambiental do que já é chamado o Brazilian Fukushima tem um preço elevadíssimo. Quem o pagará? Todos nós, porque o Planeta é só um, e porque todos estamos ligados. Quem lucra e lucrou com isto? Os mesmos. Os de sempre. Com a ajuda de ... os mesmos. Os de sempre. 

É tempo de mudar as regras do jogo da Vida.



sábado, novembro 14, 2015

Comunicado sobre os atentados em Paris

Através da secretaria de comunicação, foi enviado para a imprensa, em meu nome, o seguinte comunicado: 

Venho transmitir o meu profundo desgosto pelos atentados gravíssimos em Paris, manifestando os mais sinceros sentimentos de solidariedade para com a França, neste momento tão difícil. Um momento de dor profunda e de estupefação que nos deve, a todos, orientar no sentido de procurarmos soluções mais eficazes na prevenção do terrorismo. O mundo precisa de encontrar rumos e tempos de paz.  
Não descurando a segurança interna que qualquer estado tem o direito e o dever de gerir com rigor, recusemos o automatismo cego do terror, e escolhamos, em consciência caminhos de defesa em liberdade, de expressão e religiosa e de tolerância. Estes são os valores que devemos defender. Recordemos, todos, a reação Londrina aos bombardeamentos nazis. Muitas lojas de vidros partidos e recheio esventrado ostentavam orgulhosas o letreiro "Open for Business".
  
O desafio maior que nos é proposto – para além de encontrar os autores morais e materiais destes crimes – é o de, mesmo assim, ter a coragem de aumentar a nossa solidariedade e não o nosso medo. Possamos nós em cada momento agir para nos tornarmos o que desejamos para nós e os nossos, e não o seu oposto. 
Saibamos ser Humanos.
 
Manuela Gonzaga 
Candidata Presidencial 

Paris já está a arder? Já.

Imediatamente, ou quase, ao inferno instalado em Paris, seis ataques terroristas em simultâneo, emergiu um movimento espontâneo de apoio, ‪#‎PorteOuverte‬ (Porta Aberta). Franceses, parisienses, estão a oferecer as suas casa a quem necessitar de abrigo: «se alguém precisa», a nossa porta está aberta. Só isto. «Safe place». Só isto, «be safe». 

Enquanto isso, o mundo que sentimos como «nosso» acorda em choque para um horror ainda por determinar - em Paris, mais de cem mortos, mais de duzentos feridos na sequência de tiroteios e explosões ontem, em acções de violência concertada e inimaginável. Concretizadas em espaços de civis: restaurantes, uma sala de concertos, um estádio de futebol.

Os sinais de navegação davam conta deste icebergue? Davam. Era aguardado. Não se sabia era quando e onde, com exactidão. A surpresa não é a dimensão. É a geografia, o palco dos acontecimentos que nos petrifica de horror.

A partir de agora, vamos passar a viver numa outra Europa. A partir de agora, tudo será legitimado. Vão emergir as leis marciais que há muito aguardam nas gavetas do poder. A censura. A vigilância (ainda) maior. Vão erguer-se muros e barreiras. Pactuaremos com prisões e prisioneiros a replicar Guantanamo? É que tudo, a partir de agora, se tornou legitimável e, para quase todos, muito desejável. Porque «aquilo» que se tem passado sempre «algures» com «eles» e «entre eles»; aquelas guerras sujas em lugares feios de tão destruídos - que o mundo civilizado tem vindo a destruir há décadas e décadas - chegou ao coração do mundo bonito. 

A Cidade Luz, de onde emanaram as Luzes, no rescaldo do desmantelar de uma odiada prisão, a Bastilha, está às escuras. E nós todos também. 

Mas em boa verdade, há muito mais tempo que o Mundo tem vindo a escurecer de forma galopante, mas andamos sempre tão distraídos que só agora vamos acordar para esta escuridão. Pois não anda o mundo dito civilizado a bombardear e a matar civis há décadas e décadas nos lugares dos 'não' civilizados? Em África, no Oriente, próximo e remoto. Na América dita Latina. Colocando presidentes, entronizando reis, retirando e destronando uns e outros, invadindo em nome da paz, países que nunca mais conheceram um instante de tréguas? 

Às apalpadelas, alguns de nós persistirão em caminhar na esperança de encontrar a lógica deste caos e de ouvir a razão no meio do clamor dos gritos, para reencontrar os caminhos escondidos pelos sinais contraditórios. Os sinais que vão tentar, e, ai!, vão conseguir,que a maior parte de nós enverede por estradas cheias de sinais de trânsito e semáforos a dirigir-nos para a intolerância. Estradas onde se vai atropelar e tentar matar a Liberdade.  

Entretanto, pessoas de boa vontade já abriram o coração e estão a oferecer as suas casa. Sem condições. Be safe. Feel safe. Estrangeiro, turista, pessoa perdida: a minha casa é tua casa. 

Há, ainda há!, portas abertas. 




sábado, novembro 07, 2015

Prémio Fémina a Sónia Matias?

Retomo a «minha» Xerazade, a propósito da atribuição do Prémio Femina 2015 a Sónia Matias, toureira. O galardão foi criado em 2010 para «agraciar as Notáveis Mulheres Portuguesas», oriundas de Portugal, Países de Expressão Portuguesa, Comunidades Portuguesas e Lusófonas. No quinto aniversário da sua fundação alargou-se o âmbito das distinguidas com «mérito ao nível profissional, cultural e humanitário» no mundo, bem como pelo seu «relacionamento com outras culturas.

A premiada lidando um bezerro já bem causticado

"É a memória um jogo? 
O meu Touro abriu as asas. Céus, como ele ri! Amor, muito antes de Creta, entre mulheres e touros existe uma aliança. As mulheres não ferem o touro, brincam com ele. As mulheres não matam o touro. Amam-no. Que algumas reclamem para si a arena, a espada, a verónica, o cavalo e as bandarilhas, prova apenas o quanto nos afastámos da essência. Do fruto, sobraram as cascas. A semente perdeu-se há muito. Do gesto, secreto, resta, em mímica adulterada, a profanação de um mistério transformado espetáculo, e sem sentido algum. A não ser o mais primário de
todos os sentidos. O prazer de cheirar e ver correr sangue. Muito sangue.
 
Desde que não seja o nosso.
[...] 
 
O que sobrou do velho culto? Um arremedo. O touro, a arena e um virtuoso. O Matador que demanda assistência e bebe aplausos, na encenação de uma morte precedida por uma espécie de bailado em pontas, gestos largos, ondular de capote, e muitos ferros cravados num corpo palpitante, perante uma assistência que respira o cheiro do medo e rejubila com a agonia, e reclama a estocada final. Mas antes, é preciso provocar, magoar, perseguir sem descanso. No lugar do círculo, sob a claridade estonteante do meio-dia, o toureiro encomenda-se à Virgem, cujo filho se ofereceu em holocausto, tomai o meu corpo, tomai o meu sangue, como símbolo de Redenção e aliança. Que ironia. 
Sob a pretensa invocação de um arquétipo do herói, a larva transmuta-se em pequenos tiranos enfeitados de sangue e jóias falsas. 
Pensa: por que motivo, na arena, o macho se traveste, meneando as ancas, as pernas desenhadas nos colãs cor-de-rosa, as nádegas evidenciadas no fato brilhante, justíssimo, resplandecente de luces, citando o outro macho, em trejeitos de mulher--dama, chamando-lhe «bonito», chamando-lhe «belo»? É para juntar mais um engano ao enredo de enganos. O touro confia na mulher. A mulher ama o touro. Deixa-se levar por ele, sobre as águas." 


Em Xerazade, a Última Noite, Lisboa, 2015, Bertrand, pp, 107-108.

quinta-feira, novembro 05, 2015

«Quando nós, mulheres, precisámos de lutar para ser livres»


«Quando nós, mulheres, não tínhamos voz precisámos de lutar para ser livres.»



Começando em seio burguês, o movimento pelo direito ao voto das mulheres, entre outros, veio, inevitavelmente, a envolver-se na luta pela redução do horário de trabalho, paridade nos salários, e outras reivindicações operárias. É aqui que entronca a origem do Dia Internacional da Mulher em 1910 (consagrado em 1911). Baseado em fatos reais, As Sufragistas, da realizadora Sarah Gravon, recria a história, verídica, das mulheres envolvidas no movimento sufragista inglês. 

O filme conta com Helena Bonham Carter no papel de Edith Ellyn, uma ex-professora que ajudou a organizar e promover as campanhas da organização "Women's Social and Political Union", tendo percorrido a Inglaterra para mobilizar mulheres a lutar por seus direitos, a começar pelo basilar direito ao voto. Meryl Streep interpreta Emmeline Pankhurst, líder do movimento e fundadora da WSPU. Carey Mulligan interpreta Maud Watts, uma jovem operária que, juntamente com o marido trabalha numa lavandaria e que acaba por se juntar ao movimento sufragista.

A propósito deste filme a NOS organizou uma exibição no CCB, a 3 de Novembro, precedida por um debate moderado pela jornalista Maria Flor Pedroso. Fui uma das quatro candidatas presidenciais 2016 convidadas para a antestreia deste filme belíssimo, brutal e pungente. Obrigatórios, aliás, para nunca nos esquecermos que, quando não tínhamos voz, houve quem falasse por todas, desse a vida por todas nós e tivesse sido torturada em nome de direitos que a todos nos eram devidos. 

A essas heroínas quase esquecidas do grande público, devemos a homenagem da memória. E porque, no pequeno vasto mundo em que vivemos, grande parte das mulheres ainda precisa de levar a cabo, recordamos e acordemos esta luta que é de toda a Humanidade.