domingo, dezembro 25, 2016

A impagável, inimitável, insuportável Porta Portália

A acabar de rever provas do meu romance juvenil André e a Esfera Mágica, que vai ser relançado em Fevereiro pela Bertrand juntamente com um novo título na mesma colecção, o IV volume, deixo-vos com a inimitável, a impagável, a insuportável Porta Portália. É figura recorrente nas aventuras do André. Até a mim me causa perplexidade.




A PORTA PORTÁLIA 

               O ruído de uma porta a bater fê-lo olhar para o lado. Zás! Plás! E ali estava uma porta. Uma porta de carvalho maciço, com maçaneta de rodar em latão brilhante, fechadura sem chave, caixilho, gonzos. Tudo o que uma porta precisa para existir enquanto tal. Só que, ao contrário de todas as outras portas que André conhecera, esta não tinha paredes, nem teto a enquadrá-la.             «Que esquisito», pensou ele, dando a volta para ver o que havia do outro lado.
             Não havia nada. Quer dizer, havia tudo o que lá estava antes. Campo de ervinhas curtas e verdes, semeado de malmequeres brancos.
             — Que raio… — murmurou ele, espantado. — Uma porta que não dá para lado nenhum. Uma porta desnecessária. Uma porta completamente inútil.
             — Alto aí e para o baile! — A voz que disse isto parecia vir da porta. — Inútil porquê, se faz favor? E o que faz aqui um rapaz? Serve para quê, um miúdo neste campo? Não estou a ver utilidade na presença dele. Ai, não estou, não.
             André voltou a andar à roda da porta para tentar perceber de onde vinha o som. A voz era rouca, arranhava um bocadinho os erres, e acabava as frases com um silvo ligeiro. Dava a sensação que saía do buraco da fechadura.
             — Quem está aí? Está alguém escondido atrás desta porta? — perguntou o rapaz, convencido de que alguém estava a troçar dele. Alguém muito rápido, que passava de um para o outro lado, sempre que ele dava a volta para perceber o que significava aquilo.
             — Os seres humanos estão verdadeiramente a ficar mais estúpidos, de geração para geração — resmungou a voz. — Olha bem para mim. O que te parece? — A porta abriu-se. Não havia ninguém de um e do outro lado, a não ser, evidentemente, André. E a própria porta.
             — Tu falas?
             — Não. É aquela árvore ali que gosta de mandar bocas.
             — Qual árvore? — perguntou André olhando em volta, para o mesmo campo onde nada crescia, a não ser ervas e malmequeres.
             — Exato. Então… que te parece?
             — Uma porta que fala?
             — Olha que grande coisa. Por que raios e coriscos os humanos acham que só eles têm voz? Ah… Bons velhos tempos… — A voz da porta era irónica, como se estivesse a fazer um esforço enorme para não começar a rir às gargalhadas. — A propósito, o meu nome é Portália. Sou a Porta Portália. E tu?
             — André. O que está aqui a fazer?
             — O que faço sempre. Abro-me e fecho-me, permitindo, deste modo, que as criaturas possam entrar e sair. E tu, que fazes aqui?
             — Não sei bem, mas por enquanto nada. Num momento estava no meu quarto a olhar para dentro de um berlinde, e no outro estava aqui.
             — O costume. Não sabem o que andam a fazer na vida. Tipicamente humano. Bom, se isso te ajuda… queres entrar?
             — Para onde?
             — Para dentro. A não ser que prefiras sair.
             — Bolas! — resmungou o rapaz. — Sair para onde?
             — Para fora, evidentemente. Pronto, não insisto. Tenho mais que fazer. Olha. Vê se cresces. Cresce e aparece, ’tá bem? Pode ser que nessa altura possamos, realmente, ter uma conversa interessante. Eu e tu. Adeusinho, jovem André.
             E a porta desapareceu. 




 [André e a Esfera Mágica, Bertrand, Lisboa, em data a anunciar]

sexta-feira, dezembro 09, 2016

O anjo da guarda de Variações

O António Variações teve mesmo um grande 'anjo da guarda'. A rever, acrescentar, editar a sua biografia, que vai ser relançada para o ano com a chancela da Bertrand, não resisto em partilhar este pequeno trecho sobre os seus tempos de tropa, por Angola.



Em Luanda, Delfim era taxista e vivia no Bairro da Cuca, perto do cinema Aviz. Casara. Foi então que recebeu uma carta com as seguintes notícias: António, seu irmão, perguntava-lhe pela sua saúde e dava-lhe novas da sua vida. Estava em Angola, no Depósito de Adidos, em trânsito para um qualquer teatro de guerra. Queria saber se e quando poderiam encontrar-se, antes de partir de novo:
– Eu não via o António há 14 anos e notei-lhe uma diferença enorme. Ele tinha uma personalidade forte, era muito senhor do seu nariz. Tinha crescido. Though guy – diz Delfim, textualmente, evocando o reencontro com o irmão que deixara menino em Portugal.
Acontece que Delfim era um homem mais poderoso do que se imaginaria. Ele diz, simplesmente, que “tinha várias influências” e que ele e o comandante, o senhor major Camisão, se davam “como irmãos”. O major tinha sido presidente da Câmara em Sá da Bandeira, onde estivera ligado ao Angola Sport Benfica do Lubango, equipa basquetebol, no início dos anos 60. Delfim, que à época andava pelo mato, chegou a fazer mais de uma centena de quilómetros para assistir aos treinos.
-- Agora, ambos em Luanda, ele no Depósito de Adidos, víamo-nos muitas vezes. Pedi para o chamarem e expus-lhe a situação.
Contado assim, parece de uma simplicidade imaculada. Dois amigos a olharem para o mapa da então província ultramarina portuguesa, e, de comum acordo, a decidirem destinos traçando mudanças no papel. Uma troca de nomes, em suma. Na guia de marcha, o nome do quartel e localidade a que o soldado António Joaquim Ribeiro estava adido, foi rasurado.
– O meu irmão estava para ir para Cabinda, onde a guerra estava bem acesa. E nós pusemo-lo em Sá da Bandeira, [actual Lubango], na Província da Huíla.
Meses mais tarde, um telegrama de António, ainda em Sá da Bandeira, dirigido ao seu irmão Delfim, dava conta de nova transferência iminente, para uma das zonas mais problemáticas da guerra colonial, Quitexe, no Huíge. Este foi imediatamente procurar o seu grande amigo e major do Depósito dos Adidos para lhe contar que “o rapaz agora vai para uma das zonas mais perigosas!”
– Vai daí, diz-me o comandante, “onde queres que o ponha agora?” Ah, digo eu, pode ser lá para o Sul. E o meu irmão foi colocado em Vila Roçadas (actual Xangongo). Depois foi para Pereira d’Eça (actual Ondjiva), no Cunene, onde não havia guerra nenhuma. E a seguir em Caconda, onde até formou um conjunto militar – conta Delfim Ribeiro. (Manuela Gonzaga, biografia de António Variações (em progresso), baseada em António Variações Entre Braga e Nova Iorque, Ancora, Lisboa, 2006).


sexta-feira, dezembro 02, 2016

Efemérides - há um ano eu era (pré)candidata às Presidenciais

Durante quase dois anos -- a entrega à política activa foi muito grande -- não tive espaço mental para a literatura. Por fim, dei um pequeno contributo muito pessoal às Causas que me norteiam. O PAN precisava de um deputado (pelo menos!!) no Parlamento. Só para começar. Mas entretanto, era necessário romper as barreiras mentais que reduziam um partido de grandes causas a uma associação de «tontos e tontas» ao serviço de «cãezinhos e gatinhos». Ainda por cima, com uma dolorosa rotura interna recente. Basicamente, com uma imprensa muito distraída, era assim que nos viam. O trabalho, imenso!, feito nas fileiras e nas rectaguardas, quase sem meios, era desconhecido. Logo desvalorizado e reduzido a estereótipos. 

Todos, no ainda tão pequeno partido, tivemos que dar o máximo em tempo, modos, disponibilidades. E demos. A prova está aí - no Parlamento há uma Voz como nunca se tinha ouvido. Agora, longe e perto, recordo com orgulho, confesso, este pequeno passo, tão gigantesco para as minhas possibilidades. Aterrador, sim. Mas estimulante. Recordo também com uma imensa gratidão o que vi, ouvi, conheci e aprendi. E as pessoas maravilhosas que estiveram connosco, apoiando-me, apoiando-nos com entusiasmo. 

Tudo começou, publicamente, em Agosto de 2015 e terminou a 21 de Dezembro do mesmo ano. Com muitas viagens pelo país fora. Meios reduzidíssimos. Empenho total. E muita alegria. O que me moveu e move?Dar Voz a quem não a tem. Olhar a economia com outros olhos, transformando-a numa ferramenta ao serviço das pessoas, de modo a que todos juntos possamos cortar o ciclo de escravatura económica para o qual estamos a ser arrastados. Todos, sem dó nem piedade, sem fronteiras nem barreiras. Não tenhamos ilusões.  



Hoje, um ano depois desta entrevista, onde abordo as razões desta minha candidatura apoiada pelo PAN, Pessoas, Animais, Natureza,  a minha vida é novamente tão outra. Dois livros a caminho, outro na cabeça à espera de vez para ser escrito, e mais em fila de espera. E Causas, muitas, e sempre. Se todos fizermos a nossa pequeníssima parte, o mundo muda e de que maneira.

Grata, sempre. Muito. 



segunda-feira, novembro 28, 2016

De volta à biografia de António Variações

Está a saber-me tão bem reescrever, acrescentar e preparar a biografia que a editora Bertrand vai relançar em 2017. Agendadas, novas entrevistas com pessoas que também o conheceram e que, na altura da primeira biografia, eu não tive acesso ou conhecimento. Cito: 
«António Variações: “Venho de uma altura em que me chamavam todos os nomes, as pessoas abriam alas para me verem passar e, ou achavam piada, ou massacravam-me com comentários. Sentia-me perfeitamente só, ao ponto de não ter amigos porque se recusavam a estar ao pé de mim. No entanto nunca abdiquei de ser o que sou, e só comecei a ser recompensado por essa atitude quando, há sete ou oito anos atrás houve pessoas que vieram ter comigo e me disseram ter sido eu o ponto de partida para uma estética que eles gostavam mas não eram capazes de assumir. Foi depois de abrir o cabeleireiro no Imaviz, o primeiro misto que existiu em Portugal. Mas é bom, agora, saber que há cada vez mais pessoas a aceitarem-se a si próprias sem estarem condicionadas por fachadas ou puritanismos. […] Há quinze anos que faço virar os púdicos pescoços portugueses. Divido as pessoas, que abriam alas quando eu passava, com a minha maneira de estar na vida. Hoje passo despercebido.” (Monteiro, 1983:36). (em Manuela Gonzaga, António Variações, Entre Braga e Nova Iorque, Lisboa, Ancora, 2006). 
Foto Teresa Couto Pinto 

sábado, novembro 19, 2016

Farewell sweet Poeta

O Poeta chegou a casa. O Poeta está em casa. Tem uma família humana maravilhosa, uma praia inteira para brincar, gaivotas atrás de quem corre em vão, cascas de mexilhões que atira ao ar não sei porquê, e dúzias de outros cães tão felizes quanto ele, que correm pela areia gelada das manhãs do outono escocês com a alegria de quem traz o sol sempre consigo. O meu colo vazio recorda-se do peso dele, da maciez do seu corpo de infante, da inteligência feliz do seu olhar. E de tanta coisa mais. E voltamos a Calais, onde estivemos há quase três semanas, estupefactos de frustração, por não podermos embarcar com ele. As vacinas não tinham ainda cumprido o prazo todo, e o passaporte meio destruído pelos dentes de piranha dos cachorros da sua ninhada, na madrugada da partida, alteraram as regras do jogo.

Mas conseguimos, agora estamos de volta, e de algum modo ele está presente, aqui no nosso quarto de passagem, em Calais. embora tenha ficado lá longe, em PortoBello. Quase três semanas, milhares e milhares de quilómetros uma viagem cheia de imprevistos a sensação é de «Missão Cumprida». Missão quase impossível, que resultou em bem. Querido cachorrinho. Querido bebé que (quase) vimos nascer e para quem conseguimos um futuro.
Farewell sweet Poeta you've reached your realm

Já me perguntaram se ia escrever um livro sobre esta viagem. Já me perguntaram se ia escrever um livro sobre os meus, nossos, cães. E gatos. Nunca considerei essa hipótese, para dizer a verdade. Não são histórias excepcionais. São histórias, todas elas, de amor e de resgate como milhares de outras. Nesta fase da minha vida, tudo começou há seis anos e meio com o Timóteo: 4,5 anos de cão grande, aterrorizado e perdido a subir a calçada do Combro, Lisboa, num verão escaldante.

Hipóteses? Chamar a Câmara era condená-lo à morte certa num canil tristíssimo. Ele era demasiadamente grande e adulto para apaixonar por impulso as pessoas que, por impulso, compram ou aceitam cães. Saltando por cima de muitas peripécias, entre as quais um jipe destruído (por dentro) quando ficou uns vinte minutos lá dentro, numa noite em que, de férias em Aljezur, fomos a um café a alguns quilómetros, e ficámos um bocado a pasmar diante da televisão; ultrapassando o nosso pânico inicial quando percebemos que ele nunca, mas nunca, poderia ficar sozinho porque esse é o único trauma que não ultrapassou, tornámo-nos todos estupidamente felizes juntos.

Mais tarde, viemos a saber que era um Pirinéus. O pelo cresceu, glorioso, e aspirar, limpar a casa, tornou-se uma tarefa mais do que diária. Pensámos em iniciar uma pequena industria caseira de tapetes com os tufos que emergiam de todo o lado, mas desistimos.

Este verão, somaram-se mais animais à matilha, que entretanto e desde há dois anos incluíra uma rafeirota velhinha, meia surda ou demasiado teimosa para ligar ao que dizemos, e um pouco cega, ou demasiado obstinada para olhar para onde não quer. A Maia dos Anjos. Onze anos de cadelinha toda torta, magra de meter dó, e com todos os tiques de quem deu à luz em risco, permanente de vida própria e dos seus bebés. Não estava esterilizada... e escondida os brinquedos e a comida sob o colchão do seu cestinho.
Finalmente a salvo

Pois estávamos muito bem na nossa tranquilidade, com estes dois seres maravilhosos que nos deram e dão tanto que não cabe aqui contabilizar, quando uma espécie de loba branca, com um pedaço de corrente pendurada do pescoço passou a aparecer de manhã no jardim da casa que alugámos numa aldeia alentejana perto do Alqueva. Alimentámo-la - estava pele e osso. Mas também estava grávida, como viemos a descobrir quando desapareceu um ou dois dias e fomos visitá-la na casa onde ficara ao abandono, com um balde de ração que nem os ratos cobiçavam e um pote de água erverdeada para lhe matar a sede. Aliás, tinho dado à  luz cinco cachorrinhos minusculos, um morreu quase de imediato, para os quais, no calor de um Agosto inclemente, ela raspara uma parede para os proteger das temperaturas insustentáveis, Um banco de ferro que queimava só de lhe tocarmos, servia de abrigo...

A primeira ida ao veterinário

Na quinta, com o burro Tonico que é muito territorial
Numa noite de chuva (Alentejo) a minúscula casa onde estamos a viver provisoriamente abrigou todos


On the road. Holanda, um desvio de coração 

Num restaurante perto de Bordéus

A primeira vez que se viu ao espelho, num hotel em Calais (Ibis)

Durante a viagem começou a sobrar cão e a faltar colo... uma almofada resolveu o assunto

Portobello Edinburgo

Meadows, Edinburgo
Veio connosco quando saímos daquela casa para outra. Aliás, saltou para dentro do carro, num desespero a que não fomos indiferentes. Mas depois... que fazer com tantos cães? Ainda por cima, um outro veio ter connosco à quinta onde estamos. Enorme, mas cachorro (oito meses) focinho de Rafeiro Alentejano, corpo de podengo e galgo, uma grande misturada. O Mascarilha, de patas desfeitas... mal conseguia andar. O fogo de artificio enlouquecera-o de medo... acontece todos os anos e não se percebe porque não se hão-de mudar os festejos...

Bom. O Poeta. O mais contemplativo de toda a ninhada. O maior deles todos (não o mais pesado porém). Já andavam todos a brincar cá fora e ele ainda se mantinha teimosamente dentro do buraco que a mãe lhes arranjou, descartando o belo espaço sob as árvores, com uma mesa, panos a servir de toldo, etc., onde os colocámos quando os trouxemos para a quinta. O primeiro a correr para dentro do abrigo ao menor sinal de «perigo» que não existe ali. Já todos brincavam de um lado para o outro, e o Poeta deixava-se estar debaixo da amendoeira no nosso alpendre a seguir com atenção o movimento das folhas sob a brisa quase imperceptível.

Um lar? Foi fácil. Família, mesmo. Conheceram-no no Verão e quiseram-no. A ele ou a outro, tanto fazia. Mas um Poeta... é a companhia ideal para um bebé que vai nascer. Em Porbello, Edinburgo, diante do mar. Foi fácil, para nós? Não. Foi uma missão quase impossível. Mas cumpriu-se.  Teve tantas peripécias que talvez ainda volte à narrativa que acaba, agora à distância, por ser hilariante.

E a transição entre os braços de uns para o colo de outros está a ser tão suave e tão imperceptível, que não vai sentir a nossa falta. Ou quase nada. Ou durante quase tempo nenhum. Aqui, os dias começam com brincadeiras junto do mar. As pessoas adoram cães. Os cães podem entrar em quase todo o lado. O espaço é muito e há sorrisos na cara de quase toda a gente. Amanhã vamos voltar, e vamos felizes. Vai ser muito bom reencontrar o resto da matilha.

Além disso, o frio no Alentejo nunca é tão frio como nesta Europa do Norte.


segunda-feira, outubro 24, 2016

António Variações, de olhar para trás, pensamento em frente

A ler, a reler, a acrescer, cortar e editar a biografia de António Variações (que era do Benfica!) partilho um retrato da sua chegada a Lisboa, em 1956 MG




Nos idos de 1956, para quem chegava de uma aldeia remota à capital, Lisboa era uma cidade brilhante, magnífica, moderna e a transbordar de optimismo, com os seus cinemas, os seus teatros, armazéns esplendorosos, cafés, praças, e todo aquele movimento de automóveis e autocarros, eléctricos e pessoas apressadas.«O meu irmão adorava Lisboa. Lisboa era… a menina dos olhos dele. Portanto era um minhoto lisboeta. Nunca esqueceu das suas raízes, era muito fiel às suas raízes, mas era um lisboeta por excelência», diz Jaime Ribeiro. 
As marcas da guerra já tinham desaparecido e o luxo, os sinais exteriores do bem-estar moderno, irrompiam por todo o lado. A 15 de Janeiro de 1956, o Tavares Rico reabria as portas. Na Baixa e Chiado,  o Grandella era um palácio com paredes de vidro cheio de móveis modernos, electrodomésticos magníficos, tecidos esplendorosos: “as mais lindas mobílias e artigos de decoração para a sua casinha”. Ao lado, nas montras dos Armazéns do Chiado, criaturas esfíngicas ostentavam casacos mouton doré e estolas de raposa argentée.

Imagens em "Restaurante Tavares Rico", Restos de Colecção
Subia-se a Rua Garrett, passava-se à porta do famoso Último Figurino, que assinalava as estações com passagens de modelos, e da Pompadour que promovia cintas e soutiens que devolviam ao corpo a elegância perdida: “não acuse o seu alfaiate se o vestido lhe ficar mal…” No Rossio, a Camisaria Moderna, era uma referência. Mais à frente, ficava a célebre Casa Africana e a Casa Roda, na Rua Augusta, com as famosas gabardines “Neptunus”, em tela inglesa, “confeccionadas nas nossas oficinas”.
Imagens inesquecíveis. 
A 16 de Janeiro o Benfica vencia o Sporting de Braga por 7-1, num Estádio da Luz completamente alagado, os adeptos numa moldura de guarda-chuvas a enquadrar o rectângulo verde. José Águas, Costa Pereira, Caiado, erguiam os rostos debaixo de chuva, numa expressão inebriada que as fotografias de época captaram. Para António Joaquim Ribeiro, adepto ferrenho do Benfica, e acima de tudo, para o miúdo que queria vir para Lisboa, este era um ano carregado de promessas e de futuro. 
Lisboa, 1956. Cidade sedutora, trepidante, cheia de promessas. Renovada, restaurada, polida, «alindada». Especifique-se: quase sem mendigos – esse «cancro social», graças a uma esplêndida operação de limpeza. Sete anos e 223 mil contos aplicados em medidas de prevenção e repressão. A Mitra, «porque o mendigo é um fanático da liberdade, preferindo tudo ao internamento, contribuíra em grande medida para a debandada desses “resíduos humanos”». E o Socorro Social unindo esforços a esta acelerara o processo. Por fim!, os frutos tinham-se tornado visíveis. 
Um artigo de opinião referindo a beleza da capital, que se tornara «numa das mais belas e mais simpáticas e limpas cidades do mundo», enaltecia a sua capacidade de se ter sabido «depurar moralmente» curando-se «das chagas sociais» que tanto a desfeavam. Acima de tudo, das «máculas abertas pela mendicidade na sua polícroma e gloriosa fisionomia». Num tom entusiástico, o articulista referia-se ao amor do lisboeta pela sua cidade, «essa urbe magnífica» tão «horrivelmente maculada» pelo mendigo, louvando o triunfo! «Hoje o mendigo não existe. Agastá-lo, fazê-lo desaparecer, foi um dos maiores serviços que Lisboa podia receber de quem tem a obrigação de a defender de quanto possa inferiorizá-la.» («A Mendicidade…», 1956). 
Que mais transportava consigo o ano de 1956? (Manuela Gonzaga, António Variações...)

quinta-feira, outubro 20, 2016

Al Berto saudades...

Livros. Sempre de roda deles, e agora por motivos especiais, mais ainda. É nestas alturas que surgem os reencontros, as surpresas. A saudade! Caramba, podíamos ter tirado montes de fotografias juntos. Eu devia ter registado momentos, escrito um diário. Devia? Não havia tempo. Andávamos tão entretidos, todos nós, a viver intensamente a vida que nos cabia, e de que nos restam gloriosas memórias, naquele palácio Pidwell a que os meus filhos, tão pequenos nessa altura, chamavam simplesmente 'O Casarão'.

Al Berto, devolvo as saudades com que me dedicaste este que, provavelmente, é um dos teus primeiros livros publicados, com fotos do Paulo Nozolino. Mas agora, as minhas saudades são maiores do que as tuas. É que já não têm remédio. Até sempre, meu Poeta. 




sexta-feira, outubro 07, 2016

Os meus novos livros e a minha casa velha

Com o novo romance de 'O Mundo de André', o 4º da colecção, entregue e a seguir o seu caminho editorial (mal posso esperar para ver as primeiras provas), estou de regresso ao ANTÓNIO VARIAÇÕES!! Obrigada, Editora Bertrand. Quanto ao 'outro' romance vai prosseguir logo, logo. Já está começado, a pesquisa para o suportar encontra-se quase toda reunida, fica a faltar uma viagem de reconhecimento ao passado remoto. Em sentido geográfico e em sentido mental. 

Com uma biblioteca em sacos e caixotes, transitoriamente embora, há que esperar um pouco mais. No princípio do ano, quando assentar arraiais numa casa muito velha que está a ficar nova, sem perder o seu carácter centenário.


sábado, setembro 17, 2016

Malkut a arder, ou o Colibri na floresta em chamas

Dedicado a todas as pessoas grandes, que parecem muito pequeninas, mas que fazem tudo o que podem sem esperar ajuda, recompensa, incentivo para tornar a Terra um pouco melhor. Dedicado aos activistas sociais, ambientalistas e animalistas de todo o mundo. Aos defensores do Reino, este, que indiferentes à troça, ao desânimo, e a todos os fantasmas que rondam à nossa volta para se alimentarem dos nossos medos e fraquezas, persistem em fazer o que é «preciso». 


Era uma vez uma floresta a arder. E era uma vez um colibri que começou a ir e a voltar do rio mais próximo com o minúsculo bico cheio de gotas de água que vertia sobre a árvore mais próxima da orla do incêndio, mesmo sob risco de ser envolvido pelas chamas. Os outros animais olhavam. Assombrados de terror. Estáticos. 
Um deles, talvez o leão, disse assim: 'Colibri és tão tolo. Julgas que as tuas gotinhas de água vão dominar o fogo incontrolável? Ainda te queimas, mazé.' 
O Colibri, sempre de um lado para o outro, respondeu assim: 'Leão, sei perfeitamente que as minhas gotinhas de água não adiantam nada. Mas estou a fazer a minha parte que é tudo o que consigo fazer. Mas se todos fizessem o mesmo, do mais majestoso, ao mais insignificante de nós, este fogo incontrolável como está, poderia ser dominado'.

(baseado num conto budista)

sexta-feira, setembro 16, 2016

As crianças vêm isto?

Cruzando o céu cinzento ao morrer do dia, gaivotas parecem aviões e aviões parecem gaivotas e no ar pesado de chuva anunciada deslizam cardumes de sardinhas por entre quilhas e mastros de navios que emergem na tarde assombrada de naufrágios. As crianças vêm isto?

A história das duas irmãs

andam sempre de mãos dadas uma traz a outra no regaço beijam-se na boca são irmãs sem uma não existiria a outra nasceram com a invenção do tempo móvel chamamos-lhe vida e chamamos-lhe morte 

terça-feira, agosto 30, 2016

O novo livro da colecção O Mundo de André


Terminei ontem o meu novo livro. É um romance, o 4º, da colecção O Mundo de André. Destinada a um público juvenil, com o chancela do Plano Mais de Leitura, a colecção está presente em numerosas escolas do país, de Norte a Sul. Durante alguns anos, andei a falar com e para uma população estudantil de idades que variavam entre os 10 e os 15 anos. Foi extremamente estimulante.

Depois, interrompi. Outros projectos, outros livros. Em boa hora, a minha editora Bertrand ficou na posse dos três primeiros títulos - André e a Esfera Mágica; André e o Lago do Tempo; André e o Segredo dos Labirintos, que irá reeditar em simultaneo com o lançamento da nova aventura cujo título em breve se saberá.





Para quando? No início de 2017. Em breve, mais detalhes sobre este romance trepidante, assustador, comovente e inesperado. Até para mim própria. Houve alturas que pensei (e penso sempre isto nos livros do «André») e agora? Como é que ele se safa desta? Uma noite de sono e de sonhos trouxe-me sempre a solução.

Um extracto:
 [...]
—Tenho máscaras que me permitem passar pela mais ínfima das minhas servas. Pelo ajudante do ajudante dos jardins. Sei tudo o que se passa, em todo o Palácio e o Palácio é um reino de dimensões que não imaginas. Corro riscos. Uma vez, um guarda ia espancar-me, na presença de outros. Tive de deixar cair a máscara da serva para reaparecer diante deles em majestade. Caíram fulminados de terror, foi tão divertido. 
—Mandou-o prender?
—Não. Isso quebraria a cadeia de autoridade e submissão. Ele estava a cumprir o seu papel, apesar de não ter qualquer motivo – riu, como se recordasse um episódio agradável. — Apenas queria bater em alguém, e a serva, eu, era um bom alvo. 
—Mas podia dar-lhe uma lição para ele não voltar a fazer mesmo. 
—Não sabes nada sobre o Poder. Não se trata de justiça ou injustiça. Trata-se do equilíbrio, sempre incerto, entre os que mandam e os que obedecem. Se começamos a castigar os que mandam por exercerem o poder contra os que obedecem, é o caos. A crueldade é um efeito secundário.

—Sabe tudo o que se passa, e não corrige injustiças?
— Oh, o conhecimento que obtenho serve objectivos muito maiores!! Este episódio, muito antigo, instalou a dúvida em todos os súbditos – como imaginas, a história correu o Palácio. Desde então, nunca sabem se sou eu por detrás daquela touca, debaixo daquelas roupas, ou escondida naquela cara. Mesmo quando estão sozinhos, alguns, muitos, dos meus súbditos, têm sempre medo. Dos mais humildes aos mais poderosos. Ah, André… as máscaras são maravilhosas. Permitem o poder absoluto. Sabes em que assenta?
— No medo?

[...]




terça-feira, agosto 09, 2016

Let's fall in love

Apaixonemo-nos. 


Por ideias, por ideais, por causas, por pessoas. Nas mais variadas conjugações do amor e da paixão, sem freio, sem cálculo, sem precisarmos de ler os rótulos. Andemos na vida de peito aberto aos ventos de viver. Sejamos marinheiros, mesmo que nos espere o naufrágio. Pior do que naufragar vivendo, é não viver de todo. De que serve a vida se a guardarmos às escuras, no canto do medo como se o medo fosse um certificado de aforro sem garantia alguma? Navegar é preciso, mas sem olvidar toda a experiência que nos permite passar para o outro nível. 


terça-feira, julho 26, 2016

A nossa tão querida Ana Maria Metello Casimiro

Ela está presente nas memórias dos nossos dias de ontem. Em Tete, Moçambique, que foi quando nos conhecemos. Maravilhosa Ana Maria Metello Casimiro. Um Sol! Quando nos reencontrámos, por cá, a amizade estava inteira, embora a vida não tivesse permitido aquele retomar mais constante de laços, pelas distâncias.


Voltámos a encontar-nos numa daquelas celebrações a que quase nunca posso ir (neste caso o almoço anual dos Amigos de Tete), e foi mágico, por ela, por nós todos, por tudo. Muitos não se viam desde África. Mas, décadas depois, foi como se não se tivesse passado quase tempo nenhum. Na nossa mesa, adolescentes de 50 e 60 anos conversaram e riram e trocaram informações, telefones, registos de vida. Dançámos. Muito. O almoço, com sala e orquestra só para nós (à moçambicana, mesmo) prolongou-se para além da hora do jantar.

A partir daí a proximidade fez-se maior. E o meu irmão mantinha-me, mantinha-nos, ao corrente, pois estava frequentemente com eles. Quando lancei Moçambique para a Mãe se Lembrar como Foi, tive o gratíssimo prazer da sua luminosa presença, com outros amigos e amigas desses tempos. Que, aliás, estão nas páginas do livro e são mais do que memórias. São vidas e vivências que procurei eternizar pela magia da palavra escrita.

De tudo isso, que é muito mais do que consigo dizer, memórias, e imagens, num relance do fulgor que ela emanava.

Twist ou Yéyé? Ana Maria, João Nasi, Fernandinha e Manuel Anselmo, em Tete, Moçambique. anos 60 de um século ido
Serra da Caroeira, Tete, o piquenique das nossas vidas. Jorge Tomás Metello (Tojú), de guitarra e a irmã. Ana Maria; Zé Álvaro, Jorge Gonzaga, Micó e João Nasi Pereira, Mário Ladeira, Clarinha Oliveira, Lurdes Dias (Dicas), e Rajú Tulcidás
 Da esquerda da para a direita, Tojú, Ana Maria, José Álvaro,  Micó, João Marta, eu, Jorge Gonzaga, Fernanda Dias, Rajú Tulcidás, Lurdes Dias 


Durante o lançamento de Moçambique para a Mãe se Lembrar Como Foi, no Bicaense (de Moçambicanos), uma festa com marrabentas e sabores de lá. Ana Maria, maravilhosa, e outros punhado de amigos de sempre. O António Pinheiro,que nunca falta!, o Quim, O Mário e a Cila Ladeira, o Manel Casimiro, e tantos e tantas mais.
[...] quando voltei da Beira, comecei a recusar praticamente todos os convites para festas, bailes e outro tipo de convívios. Quem me queria ver, que fosse a minha casa. Então, um belo dia, a minha querida Ana Maria Metello bateu-me à porta para me convidar para a sua festa de anos ou outra festa qualquer. [...] Estava acompanhada pelo seu amigo Armando, cujos olhos não desfitavam os meus, enquanto eu tentava arranjar desculpas para recusar o convite, rapidamente atalhadas pela minha mãe que adorava a Ana Maria, «a miúda mais chique desta terra, parece uma lisboeta de gema»: – Evidentemente que ela vai. Vêm buscá-la e trazê-la?[...]
– Mas eu não quero ir a porcaria de festa nenhuma.
A minha mãe levantou os olhos ao céu:– Na tua idade, o que eu não teria dado para me deixaram sair e conviver, por pouco tempo que fosse. Mas andava sempre de chaperon, com uma ou duas tias atrás a verem e a ouvirem tudo o que eu fazia e dizia, e com quem e quando. Sabem lá vocês a sorte que têm.»  
[...] 
 Voltando a Tete. Algumas das minhas amigas tinham casamento agendado num horizonte próximo. Como a Mimi Teixeira, que um dia, em Tete, no pátio de recreio do colégio de São José no final do nosso 5º ano, correra para o meu lado, com os olhos a brilhar comoção e felicidade, e, metendo a mão no bolso da bata, extraiu um envelope: Ele escreveu-me!!! 
[...]Quem também namorava naquela altura para casar e serem felizes para sempre, era a minha querida Ana Maria Metello, cujo namorado, o alferes Casimiro, se transformara rapidamente em seu noivo e um ou dois anos mais tarde, não sei quando, em marido. Reencontrei-os também por cá, ao fim de tantos anos. Maravilhosamente juntos.» 
(em Moçambique para a Mãe se Lembrar como Foi) 

Uma pessoa não se esgota nos fragmentos de memórias que cada um cultiva, para, em última análise, se perpetuar a si mesmo. Portanto, na incompletude de um registo que precisa de muito mais contributos, os contributos de toda a gente e todos os seres a quem ela tocou, acrescento: da Ana Maria, tudo o que há para dizer é bom. Uma mulher adorada pelo marido que ela amou também ao primeiro olhar; um extraordinária mãe de família; um pilar para todos os seus; uma acérrima defensora de animais errantes e abandonados. Uma amiga inesquecível. E tanto, tantíssimo mais.

A nossa tão querida Ana Maria Metello Casimiro.

A nossa tão querida Ana Maria Metello Casimiro

Ela está presente nas memórias dos nossos dias de ontem. Em Tete, Moçambique, que foi quando nos conhecemos. Maravilhosa Ana Maria Metello Casimiro. Um Sol! Quando nos reencontrámos, por cá, a amizade estava inteira, embora a vida não tivesse permitido aquele retomar mais constante de laços, pelas distâncias.


Voltámos a encontar-nos numa daquelas celebrações a que quase nunca posso ir (neste caso o almoço anual dos Amigos de Tete), e foi mágico, por ela, por nós todos, por tudo. Muitos não se viam desde África. Mas, décadas depois, foi como se não se tivesse passado quase tempo nenhum. Na nossa mesa, adolescentes de 50 e 60 anos conversaram e riram e trocaram informações, telefones, registos de vida. Dançámos. Muito. O almoço, com sala e orquestra só para nós (à moçambicana, mesmo) prolongou-se para além da hora do jantar.

A partir daí a proximidade fez-se maior. E o meu irmão mantinha-me, mantinha-nos, ao corrente, pois estava frequentemente com eles. Quando lancei Moçambique para a Mãe se Lembrar como Foi, tive o gratíssimo prazer da sua luminosa presença, com outros amigos e amigas desses tempos. Que, aliás, estão nas páginas do livro e são mais do que memórias. São vidas e vivências que procurei eternizar pela magia da palavra escrita.

De tudo isso, que é muito mais do que consigo dizer, memórias, e imagens, num relance do fulgor que ela emanava.

Twist ou Yéyé? Ana Maria, João Nasi, Fernandinha e Manuel Anselmo, em Tete, Moçambique. anos 60 de um século ido
Serra da Caroeira, Tete, o piquenique das nossas vidas. Jorge Tomás Metello (Tojú), de guitarra e a irmã. Ana Maria; Zé Álvaro, Jorge Gonzaga, Micó e João Nasi Pereira, Clarinha Oliveira, Lurdes Dias (Dicas), e Rajú Tulcidás
 Abaixo, da esquerda da para a direita, Tojú, Ana Maria, José Álvaro,  Micó, João Marta, eu, Jorge Gonzaga, Fernanda Dias, Raju, Lurdes Dias 


Durante o lançamento de Moçambique para a Mãe se Lembrar Como Foi, no Bicaense (de Moçambicanos), uma festa com marrabentas e sabores de lá. Ana Maria, maravilhosa, e outros punhado de amigos de sempre.  
[...] quando voltei da Beira, comecei a recusar praticamente todos os convites para festas, bailes e outro tipo de convívios. Quem me queria ver, que fosse a minha casa. Então, um belo dia, a minha querida Ana Maria Metello bateu-me à porta para me convidar para a sua festa de anos ou outra festa qualquer. [...] Estava acompanhada pelo seu amigo Armando, cujos olhos não desfitavam os meus, enquanto eu tentava arranjar desculpas para recusar o convite, rapidamente atalhadas pela minha mãe que adorava a Ana Maria, «a miúda mais chique desta terra, parece uma lisboeta de gema»: – Evidentemente que ela vai. Vêm buscá-la e trazê-la?[...]
– Mas eu não quero ir a porcaria de festa nenhuma.
A minha mãe levantou os olhos ao céu:– Na tua idade, o que eu não teria dado para me deixaram sair e conviver, por pouco tempo que fosse. Mas andava sempre de chaperon, com uma ou duas tias atrás a verem e a ouvirem tudo o que eu fazia e dizia, e com quem e quando. Sabem lá vocês a sorte que têm.»  
[...] 
 Voltando a Tete. Algumas das minhas amigas tinham casamento agendado num horizonte próximo. Como a Mimi Teixeira, que um dia, em Tete, no pátio de recreio do colégio de São José no final do nosso 5º ano, correra para o meu lado, com os olhos a brilhar comoção e felicidade, e, metendo a mão no bolso da bata, extraiu um envelope: Ele escreveu-me!!! 
[...]Quem também namorava naquela altura para casar e serem felizes para sempre, era a minha querida Ana Maria Metello, cujo namorado, o alferes Casimiro, se transformara rapidamente em seu noivo e um ou dois anos mais tarde, não sei quando, em marido. Reencontrei-os também por cá, ao fim de tantos anos. Maravilhosamente juntos.» 
(em Moçambique para a Mãe se Lembrar como Foi) 

Uma pessoa não se esgota nos fragmentos de memórias que cada um cultiva, para, em ultima análise, se perpetuar a si mesmo. Portanto, na incompletude de um registo que precisa de muito mais contributos, os contributos de toda a gente e todos os seres a quem ela tocou, acrescento: da Ana Maria, tudo o que há para dizer é bom. Uma mulher adorada pelo marido que ela amou também ao primeiro olhar; um extraordinária mãe de família; um pilar para todos os seus; uma acérrima defensora de animais errantes e abandonados. Uma amiga inesquecível. E tanto, tantíssimo mais.

A nossa tão querida Ana Maria Metello Casimiro.


sábado, julho 09, 2016

Mentiras e máscaras e bailes de monstros.

Mentiras e máscaras. Bailes de monstros. Festas tristes e festas alegres. Festas com encontros aterradores... fugas com ajudas surpreendentes, de onde e de quem menos se espera. Perigos atrás das portas. Uma Biblioteca sem fim à vista. Um Palazzo. Um Banco de Sementes sem fim. Uma alucinante viagem. Reencontros. Enigmas. O malambe, a semente do embondeiro, a mais misteriosa árvore que existe, resolve o mistério e faz surgir uma mulher negra, aterradora e belíssima cujo poder alcança os três reinos por onde decorre a aventura.  É ela que detém o poder de resolver o enigma. 
E mais, muito mais. É disso que trata o meu próximo livro. 
A vida real é uma fonte inextinguível de inspiração. Outra fonte de inspiração: como fazer das adversidades aliadas, das alegrias faróis, e depois pegar em tudo, embrulhar, baralhar e dar de novo. Para crianças e jovens de TODAS AS IDADES!! É o «Mundo de André» a girar. 




O misterioso e maravilhoso embondeiro


Esta coleçção, com todos os títulos de minha autoria, tem a chancela LER + Plano Nacional de LeituraOs livros estão actualmente na Bertrand Editora. 
O quarto e último, André e o Baile de Máscaras, é uma estreia e acabou de ser lançado no mercado. 
O primeiro, André e a Esfera Mágica, foi agora relançado. Ambos com capas do pintor Gonçalo Jordão (que integrou a equipa distinguida com um 
Óscar) do filme O Grande Hotel de Budapeste, de Wes Anderson,  Gonçalo Jordão  vai ilustrar  as capas de toda a colecção «O Mundo de André), aí se incluindo os anteriores que vão ser igualmente, reeditados e as novas aventuras que entretanto irão surgir.

Anteriores e para reedição:



André e o Lago do Tempo
André e o Segredo dos Labirintos