Na pequeníssima cidade no Niassa onde a mãe tinha sido colocada, Vila Cabral actual Lichinga, não havia ensino secundário para a minha idade - ou do meu irmão Jorge, que veio também interno para a capital, para o Colégio dos Maristas. Durante anos, recordei os interditos, as muralhas, as proibições e a sensação de ser prisioneira dentro dos muros do colégio D. António Barroso. O tempo ajudou-me a fazer justiça àquela instituição:
Aos 13 anos no Colégio D. António Barroso |
Ali, era impossível não estudar. A imensa sala de estudo onde internas e
semi-internas passavam o tempo, depois do recreio do lanche e até à hora do
jantar, era vigiada com olhar de falcão pelas irmãs presentes, uma em cada
extremidade da sala, sentadas em bancos altos de nadador-salvador de onde, e à
vez, saíam para circular entre as carteiras onde nos debruçávamos sobre livros
e cadernos. O requinte desta vigilância chegava ao ponto de confrontarem o
livro que estávamos tão interessadas a consultar com o ano que frequentávamos.
Foi assim que deixei de estar junto de alunas de anos mais avançados, às quais
pedia os livros de Português para me entreter com os textos, em vez de estudar
as minhas próprias lições.
A certa altura, e isso aconteceu-me no ano letivo seguinte, era tão cansativo resistir contra o sistema, e tão desproporcionada a energia que aplicava face aos exíguos resultados, já que a única coisa que conseguia era baixar as minhas notas para níveis invulgares, que acabei por entrar no jogo.»
A certa altura, e isso aconteceu-me no ano letivo seguinte, era tão cansativo resistir contra o sistema, e tão desproporcionada a energia que aplicava face aos exíguos resultados, já que a única coisa que conseguia era baixar as minhas notas para níveis invulgares, que acabei por entrar no jogo.»
«No Natal, antes das férias, o
colégio organizava um sarau aberto às famílias, pessoas amigas das alunas e
antigas alunas. Teatro, poesia, música e dança faziam parte de um programa que
preparávamos com grande emoção e empenho. O meu ponto forte foi declamar em
francês um poema de Guy de Maupassant, com tamanho sentimento e aprumada
dicção, que umas pessoas na assistência foram perguntar à irmã do Santo Rosário
se eu era mesmo francesa.
E finalmente chegava o momento
de voltar a ser livre, mesmo que por pouco tempo. Um dia inteiro, entre
aeroportos e aviões, entregue a mim própria e antecipando o sabor das férias, a
fumar cigarros no aeroporto da Beira, já sem me engasgar, o reencontro com a
família, amigos e amigas, o primeiro abraço ao meu querido Rigoletto (o cão), o sono até mais tarde, os bailes, os filmes de cobóis,
os dramas musicais indianos, e todos os pequenos grandes nadas que ocupavam a
nossa vida de estudantes em férias. Uma vida tão divertida, apesar da guerra
que se estava a tornar uma coisa tão terrivelmente séria.» em Moçambique para a mãe se lembrar como foi.
O dormitório - durante anos o ruído metálico das argolas das pesadas cortinas, abertas ao som da sineta e da oração do acordar, pelas 6.30 da manhã, perseguiu-me. |
1 comentário:
Era assim mesmo, querida Manuela!!!! Beijinhos grandes e Saúde! Bom Ano!!!! 😘😘😘😘😘
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