A seguir ao nosso primeiro Natal em África, passado na Pousada da então Vila Cabral, actual Lichinga, fomos para Meponda, Lago Niassa onde deixámos para trás o ano velho, tão repleto de novidades, emoções e mudanças extraordinárias e saudámos o ano novo. Ao frio das memórias dos meus muito poucos natais passados, sobrepunha-se agora o bafo equatorial da estação quente no seu esplendor. Partilho um extracto de Moçambique para a mãe se lembrar..., que me devolve a memoria daquelas paisagens inolvidáveis.
« [...] Aconteceu em Meponda, no Lago Niassa, uma tão grande extensão de água doce que tinha ondas e marés, e águas cor de turquesa riquíssimas em peixe das mais delirantes cores. Um verdadeiro paraíso terrestre, de areias douradas e finíssimas, à distância de umas cinco ou seis horas de Vila Cabral, (actual Lichinga) se tudo corresse bem. O percurso, 60 km, era longo. A estrada, uma picada de terra batida, com as suas valas inesperadas, buracos enormes, lagos de lama no tempo da chuva e os mais variados acidentes e caprichos do terreno, era muito mais apropriada para Land Rover ou viaturas militares, do que para o valente carocha onde muitas vezes nos deslocávamos. Mas aqueles sessenta quilómetros tão compridos resultavam muito recompensadores, pois, assim que chegávamos e arrumávamos a bagagem leve de fim-de-semana, corríamos para a praia, e íamos tomar o primeiro de um número intermináveis de banhos. Na transparência cristalina das águas cálidas, deslizavam os peixes de cores mais alucinantes que alguma vez vi na minha vida. Pura alegria.
Ir para Meponda, tornou-se um programa regular. Sexta-feira, depois das aulas, nós os quatro e a mãe, partíamos rumo ao Lago, às vezes no jipe do senhor Paiva outras vezes com um jovem professor primário que conduzia o Volkswagen. Ali chegados instalávamo-nos em dois quartos da Pousada de Meponda. Os três rapazes num, eu, a mãe e a Bé noutro. Os quartos, diante do lago, eram pequenas construções em pedra e cal, em forma de cubatas, com telhado de colmo à vista, revestidos de traves e de madeira e paredes imaculadamente caiadas, por fora e por dentro. Simples, mas muito bonito. As refeições eram tomadas na casa grande, onde funcionava a recepção, e que era também a morada do casal que explorava turisticamente aquele paraíso tão remoto.
lago Niassa, Moçambique cortesia de May Duarte |
« [...] Aconteceu em Meponda, no Lago Niassa, uma tão grande extensão de água doce que tinha ondas e marés, e águas cor de turquesa riquíssimas em peixe das mais delirantes cores. Um verdadeiro paraíso terrestre, de areias douradas e finíssimas, à distância de umas cinco ou seis horas de Vila Cabral, (actual Lichinga) se tudo corresse bem. O percurso, 60 km, era longo. A estrada, uma picada de terra batida, com as suas valas inesperadas, buracos enormes, lagos de lama no tempo da chuva e os mais variados acidentes e caprichos do terreno, era muito mais apropriada para Land Rover ou viaturas militares, do que para o valente carocha onde muitas vezes nos deslocávamos. Mas aqueles sessenta quilómetros tão compridos resultavam muito recompensadores, pois, assim que chegávamos e arrumávamos a bagagem leve de fim-de-semana, corríamos para a praia, e íamos tomar o primeiro de um número intermináveis de banhos. Na transparência cristalina das águas cálidas, deslizavam os peixes de cores mais alucinantes que alguma vez vi na minha vida. Pura alegria.
Ir para Meponda, tornou-se um programa regular. Sexta-feira, depois das aulas, nós os quatro e a mãe, partíamos rumo ao Lago, às vezes no jipe do senhor Paiva outras vezes com um jovem professor primário que conduzia o Volkswagen. Ali chegados instalávamo-nos em dois quartos da Pousada de Meponda. Os três rapazes num, eu, a mãe e a Bé noutro. Os quartos, diante do lago, eram pequenas construções em pedra e cal, em forma de cubatas, com telhado de colmo à vista, revestidos de traves e de madeira e paredes imaculadamente caiadas, por fora e por dentro. Simples, mas muito bonito. As refeições eram tomadas na casa grande, onde funcionava a recepção, e que era também a morada do casal que explorava turisticamente aquele paraíso tão remoto.
[...] A noite, que em
África cai de chofre apagando as chamas do céu cor de fogo, tornava-se ali ainda
mais misteriosa na solidão entrecortada de luzes petromax, e iluminada pela lua
e pelas estrelas do hemisfério sul que se reflectiam na massa escura, informe e
imensa do Lago onde o luar rasgava uma formidável esteira de prata. Na sala da
Pousada, uma árvore de natal tão deslocada naquele calor, cheia de flocos de
algodão e bolas de todas as cores, um presépio pequenino, uma ceia muito pouco
tradicional, e nós a ouvir Nat King Cole, Mornas de Cabo Verde e The Platers
num gira-discos minúsculo, vezes e vezes sem fim. Only youuuuuu.»
Vila de Meponda, cortesia de Observer |
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