domingo, dezembro 27, 2009

Sushi time

Dia 23, o Tiago fez o jantar cá em casa. Sushi de salmão. Daqui a uns dias vai para Londres ter com Mia, que vem de NY, e dali os dois seguem para a Índia. O Paulo chegou an 24, de Edimburgo via Frankfurt, um voo por entre tempestades e gelos. O Jerry juntou-se a nós dia 25. Veio de LA por Paris, nem sabe quantas horas voou, mais fusos horários. Foi um belo dia de Natal: quase todos aqui. Menos o Bernardo e Marta, que foram para Gdansk passar a quadra com a família dela.
Depois destas festas, está-me a apetecer tanto sushi outra vez.



André no Colégio Valsassina










No Colégio Valsassina os alunos de duas turmas do 6º ano, prepararam cuidadosamente, nas aulas de Língua Portuguesa, o nosso encontro. Assim, tive diante de mim uma floresta de braços no ar, uma chuva de perguntas, e uma surpresa. Foi muito intenso: perdi mais ou menos a noção do tempo. Como nasceu o «André»?; em que altura do dia, ou da noite, gosto mais de escrever?; como é que as minhas viagens influenciam os meus livros?; qual foi o país que gostei mais de visitar?; como foi viver em África?; Quando soube que queria ser escritora?; porque é que o «André» se chama André?; em que me baseio para escrever os meus livros?; a quem mostro o que escrevo, quando estou a escrever?; e até que passos se devem dar para se conseguir publicar...
No fundo da sala, a minha maravilhosa neta Maria mal aparece nas fotografias. Mas colocou-me a mais improvável das questões: quando começei a escrever (e sim, era muito pequena) gostava que as pessoas vissem o que escrevia?
A resposta só podia ser uma:
«Não!!!».
Surpresa para mim: três alunas do 6º D partiram do capítulo IV de André e a Esfera Mágica, e escreveram a sua própria versão da aventura. Fantástico enredo, muito bem concebido, em qualquer delas!!
Que posso dizer mais? Oh, sim. Adorei este encontro!
Para ver mais algumas imagens seguir o link do Colégio Valsassina http://new.cvalsassina.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=283&Itemid=26

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Os grandes escândalos do século XX

Ontem, num intervalo de natalícias tarefas, encontrei-me com Vera Moura, jornalista da SÁBADO, na Bénard do Chiado, para falar sobre a história de Maria Adelaide Coelho da Cunha. Conversa intensa, agrádavel, muitas notas, muitas notas tiradas. A Vera, que ainda não conhecia o livro, tinha-o recebido dias antes e leu-o, segundo contou, de um fòlego durante o fim-de-semana. «É uma história que não se consegue largar» -- disse.
O artigo, sobre grandes escândalos do nosso século XX, incluí outros casos emblemáticos. Deve sair na última revista deste ano.

Um presente total

Fazer do passado e do futuro um presente e oferecê-lo assim, desembrulhado e tudo, ao meu próprio coração.
Eis o meu sonho, o meu anseio, a minha ambição perene.

sábado, dezembro 19, 2009

Feliz Natal

A tradição perdeu algum, muito, do seu encanto. Entretanto, cada vez menos os cartões de boas-festas são palpáveis, o que não deixa de constituir uma vantagem apreciáve em termos ecológicos.
Aqui fica uma versão virtual passível de muitas cópias:
Run-se uma Santa - Alterar a dança Santa Claus
Festas Felizes a todos!
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Regresso aos Tempos do Sonho


Citando William R. Stimson :
«Avec nos rêves, nous possédons une arme qui peut renverser l’ordre établi en nous amenant à faire volte-face. Les plus grandes batailles de l’histoire se sont déroulées dans l’esprit de quelques hommes et femmes courageux. Tout le reste n’a été que vacarme et la répercussion extérieure de ces grands événements Explorer le rêve, au sens le plus profond, c’est être à l’avant-garde de la révolution qui touche à la conscience humaine»

Pelo décimo ano consecutivo, a organização ONIROS realiza a incubação de um sonho à escala panetária. Temas deste ano? «Regresso aos Tempos do Sonho» e «Pesadelo climático». A noite escolhida para o sonho planetário é a do solstício de Inverno, a noite mais longa do ano. Ou seja, a de 21 e 22 de Dezembro. As noites precedentes e seguintes são igualmente contadas a fim de se reunir o maior número de sonhos. Ou seja: começa esta noite.
So, guys, let's have a huge dream together!!

terça-feira, dezembro 15, 2009

O meu clube de futebol

Conheço pessoas que mudaram de país, quero dizer, de nacionalidade. Sei de outras que mudaram de sexo. E de muitas que trocaram de parceiro, parceira, divorciando-se, casando de novo, com registo, cerimónia ou por palavras de presente como soía fazer-se em tempos de antanho. Que é como quem diz, ajuntando-se ou desajustando-se de muitas e desvairadas formas.
Conheço pessoas que mudaram o sentido da sua crença religiosa ao longo dos caminhos da vida. Eram católicas ficaram ateias ou vice-versa. Eram descrentes, tornaram-se budistas, shintoistas, cristãs. Muçulmanos que esqueceram Meca e se voltaram para Roma. Católicos que passaram a invocar Alá, Judeus que trocaram o judaismo por outro ismo qualquer. Budistas que se viraram para o hinduismo. Abreviemos que as mudanças e permutas são imensas.
Mas não conheço ninguém, nem conheço ninguém que conheça ou tenha jamais ouvido falar de alguém que, uma vez escolhido, tenha jamais trocado ou abandonado o seu clube de futebol. No mundo da impermanência, esta permanência é algo perturbante.

Nota: o meu clube de futubol? A Selecção Nacional.
Créditos da imagem no blogue Perdeu-se o controle
http://canaladidas.blogspot.com/2007/11/as-melhores-imagens-do-futebol-mundial_07.html



sexta-feira, dezembro 11, 2009

Público - Os índios chamavam-lhe o Homem Branco Bom

Um belíssimo e pertinente artigo sobre um homem que quase ninguém conheçe e todos nós devíamos conhecer. Em todo o caso, estão dados os passos para que a sua memória se ergua, luminosa e vasta sobre o pó dos séculos:
Público - Os índios chamavam-lhe o Homem Branco Bom

terça-feira, dezembro 01, 2009

Tornar a língua portuguesa um dos idiomas oficiais nas Nações Unidas

É o objectivo da petição que está a circular na Internet. Uma iniciativa que quer atingir às 20 mil assinaturas em todo o mundo e que não esquece os 250 milhões de falantes da língua de Camões.
Junte-se à iniciativa!
Petição quer tornar português um dos idiomas oficiais nas Nações Unidas

André no Colégio Valsassina

Dia 16 de Dezembro vou estar no Colégio Valsassina com duas turmas do 6º ano. O tema da nossa conversa vai andar em torno do «Mundo de André». Ao que já me constou, a lista de perguntas está a crescer...
E como não podia deixar de ser, uma nova aventura do André já está a caminho. Tenho muitas saudades da sua fantasia que me arrasta por mundos extraordinários e aventuras magníficas.

domingo, novembro 22, 2009

Tears in rain




«I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain.
Time to die

Blade Runner, Perigo Iminente (USA, 1982).
Um filme soberbo. O tempo não lhe retirou um átomo da sua perfeição. Rutger Hauer num personagem que entrou para a História do cinema; Sean Young comovente, belíssima. Harrison Ford couraçado contra emoções até finamente se deixar levar por elas. Uma tragédia ao sabor clássico que nos transporta para um futuro de ficção cientifica, sequer já tão alheio aos nossos quotidianos. A questão do sentido da Vida, que há mais de seis mil anos surge já num imortal texto Sumério, Gilgamesh, está no âmago desta história. Uma pequena mudança face aos nossos antepassados: os criadores, agora, são homens e não «deuses». E as criaturas, perfeitas e efémeras, são replicantes. Seres geneticamente alterados, para serem utilizados em tarefas duras, perigosas ou infamantes nas novas colónias.
Questão fulcral: o que é a vida? Milhares de anos de perguntas e nenhuma resposta consensual. No filme, um grupo de replicantes revoltosos vem para a Terra à procura do seu criador. Mas sendo a sua presença proibida, foi criada uma força policial especial, blade runners, para os caçar e «reformar» (matar). No centro da história, um ex-blade runner, Deckard/Harrison Ford, volta ao activo para caçar este grupo de seres «mais humanos que os humanos». E, porque não dizê-lo?, muito mais belos.
Ao longo do filme, os replicantes são caçados e mortos, um por um, num processo que os parece humanizar cada vez, à medida que os humanos que os caçam parecem cada vez mais desumanos. E nesse sentido, outro momento inesquecível do filme é o shakesperiano monólogo de Roy Batty/Rutger Hauer. Face à morte, a Vida emerge no seu esplendor efémero. Em breve, todos os seus inesquecíveis momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva: «Time to die.»
Sobre um texto de Philip K. Dick, Ridley Scott construíu uma obra-prima da 7ª Arte.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Do Conde de Ferreira: «Crónica de um erro médico»

«Aconteceu no Porto, entre as paredes deste mesmo Hospital onde eu estou a redigir hoje este artigo. Corria o ano de 1918. Portugal vivia os conturbados anos da Primeira República, presidida naquela altura por Sidónio Pais, com a Grande Guerra a dar os últimos estertores, e a gripe espanhola a assolar mundo. A protagonista foi uma mulher que compensava a sua pequena estatura — cerca de um metro e meio — com uma determinação irredutível para lutar pelo seu amor contra ventos e marés. O seu nome era Maria Adelaide Coelho da Cunha e fazia parte da alta burguesia lisboeta. Era filha do fundador do jornal Diário de Notícias e casou com Alfredo da Cunha, que se iria tornar proprietário do mesmo jornal após a morte do pai fundador. As vicissitudes da sua história, abordadas agora no livro de Manuela Gonzaga “Doida não e não!”, já pertencem ao imaginário popular de Portugal

Começa desta forma uma recensão crítica que muito particularmente me sensibilizou. Publicada na revista Saúde Mental, [Volume XI Nº3 Maio/Junho 2009, pp.40-42], e assinada por Adrian Gramary, médico psiquiatra do Hospital Conde de Ferreira, no Porto, a instituição onde Maria Adelaide passou largos meses na maior amargura e sofrimento físico e moral, a crítica é exemplarmente lúcida. Um médico, psiquiatra ainda por cima, reflecte sem «peias corporativas» acerca de um caso que nos toca a todos.
Como autora, sinto-me profundamente honrada.
Para ler o artigo na íntegra:
http://revista.saude-mental.net/index.php?article=1077&visual=17

André e a Esfera Mágica

O «Mundo de André» vai conquistado o seu lugar, o que me dá alento para prosseguir com a terceira aventura. Respondo assim ao pedidos de jovens leitores que me têm contactado e à editora perguntado (alguns com notável persistência) por anda agora o nosso André.
Assim, no próximo dia 16 de Dezembro vou falar para duas turmas do 6º ano do colégio Valsassina.
Entretanto, foi com muita alegria que soubemos que a capa do primeiro livro esteve entre os dez primeiros lugares, numa selecção feita pelos alunos de uma escola secundária do nosso país. Ora vejam no blogue Ler não é Crime (http://www.lernaoecrime.blogspot.com/) onde e como.

sábado, outubro 31, 2009

He's back, ou reflexões em torno de um portátil

Ao fim de quase duas semanas, o meu computador voltou. Sem memória, e com as configurações de origem. Ao longo do dia, dediquei-me ao trabalho metódico de o «ressuscitar». Está rápido, esperto e nada conflitual. Estamos em boa harmonia, mas a intimidade ainda não é nada por aí além. Estas coisas demoram o seu tempo. Em todo o caso, têm muito que se lhe diga. Há várias questões filosóficas envolvidas e tudo.

sexta-feira, outubro 16, 2009

De novo para o Hospital Conde de Ferreira

«Sob uma chuva torrencial, montada a cavalo no «tal selim» e embrulhada num cobertor, Maria Adelaide teve sempre ao seu lado, a ampará-la, o Manuel. Não fosse ele e teria caído mais do que uma vez. Chegados à taberna para passarem a noite, tinham à disposição dois molhos de palha. Os agentes tinham ficado com a única cama disponível que havia. O frio era intenso, mas muito pior do que o frio era a multidão que enchera a venda. O sentimento de humilhação era esmagador. Sentada no chão, «como qualquer animal», sentia-se trespassada pelos olhares dos captores e dos curiosos, num ambiente «saturado do fumo do tabaco, do cheiro do vinho e da comida, um ambiente de taberna, enfim». Manuel queria convencê-la de que, por certo, não a levariam mais para o Conde de Ferreira, e Adelaide sentiu, mais forte do que a angústia, «rugir dentro de mim uma cólera indomável».
Tinha pedido, ainda no alpendre da casa do Alberto, que lhe mostrassem o mandato de captura. Só lho mostraram quando ali chegara. Lera-o à luz desmaiada de um sujo candeeiro de petróleo. Sem sombra de dúvida era o seu nome: Maria Adelaide Coelho da Cunha. E agora aqui a tinham, por ordem de Alfredo da Cunha, presa e guardada à vista na taberna do Rossão, «como qualquer gatuna vulgar». [Maria Adelaide Coelho da Cunha..., p. 141]

Nota: na imagem a porta da outrora taberna, no Rossão, onde passaram essa terrível noite Adelaide, Manuel e Alberto.

Rossão, os dias felizes






«O dia amanheceu belíssimo. Da janela do quarto o panorama era deslumbrante. Aninhada num vale, sobre uma terra generosa e áspera, a aldeia oferecia-se numa paz de campos semeados, horizonte vasto, pastoral e sereno, com as casas cobertas de colmo a despontar no puríssimo ar da serra, recortada no horizonte. Mais perto, o gado a pastar. À distância, pequenas aldeias com casas brancas destacando-se sobre o verde das árvores e dos campos, e o escuro do granito. Em frente, um cruzeiro. Maria Adelaide lembrou-se, mais uma vez, da mãe, e pôs-se a pensar que tinha sido numa casa como esta que ela nascera. Depois, quando a filha mais velha de Alberto saiu a apascentar o gado, lembrou-se de novo da mãe lhe contar que também pastoreara rebanhos. Apaixonada, e mais do que nunca decidida a enterrar o seu passado de mulher sofisticada, cosmopolita e infeliz, fez apelo às raízes maternas, nem sequer tão remotas, e escreveu:
«Senti circular nas minhas veias o seu sangue campesino.»
Para todos os efeitos, Maria Adelaide era agora a «rapariga do Manuel», a mulher que ele trouxera consigo para casar logo que lhes fosse possível fazê-lo. E foi isto mesmo que ele disse à mãe, mais tarde, depois do jantar, — à hora que nas cidades se come o segundo almoço — quando a senhora «se aproximou de nós». A descrição do encontro tem, no registo autobiográfico, a importância de ilustrar uma cena «com qualquer coisa que fala ao coração dos bons», permitindo também que se avalie melhor «os sentimentos do homem» por quem ela se apaixonou, e que por esse «crime de amor» viria a ser preso.»
[Maria Adelaide Coelho da Cunha: «Doida não e não!», p. 136]

Memórias do Rossão: o ar da liberdade












«Tinham sido acolhidos de braços abertos em casa de Alberto, o primo de Manuel, cuja mulher a tratara com todo o carinho, conduzindo-a à lareira para se aquecer. Estavam todos a morrer de fome. A caminhada, o ar da serra, os sobressaltos da véspera e o cheiro que saía das panelas, penduradas sobre o fogo, ainda mais lhes abria o apetite. Esta cozinha, enegrecida pelo fumo da lareira, com a arca de pão e os enchidos nos fumeiros, lembrava-lhe a cozinha de Carregal do Sal, onde fora feliz nos descuidadosdias da sua meninice.
Ceia simples, mas «saborosíssima». Uma tijela de caldo «como nunca o comera igual», um «copo de água finíssima» e um bom naco de alvo pão, satisfizeram «as primeiras necessidades do meu estômago». Depois um arroz de bacalhau «muito bem feito» e, após as rezas nocturnas -- prática habitual na casa -- um serão de conversas... [in Maria Adelaide Coelho da Cunha: Doida não e não!, pp. 135-136]»
As imagens [Outubro de 2009] documentam a entrada da casa do Alberto Cardoso, no Rossão, a cozinha que Adelaide descreveu e que ainda guarda o cheiro de saudosos sabores tradicionais, com a sua janela que dá para a rua, onde ela assomou tantas vezes. Felicidade intensa mas de curta duração. O hospício aguardava-a. Para eles, Aberto e Manuel, a cadeia.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Histórias da família de Manuel Claro em Rossão

Cresceram a ouvir, quase em segredo, a «história». Era uma vez uma senhora que dizia a quem a queria ouvir: «Não sou, não estou, nunca estive doida.». Depois acrescentava: «Louca, sim. De amor». A senhora à esquerda era uma criança, mas lembra-se do seus tios Manuel e Adelaide, que costumavam aparecer pela aldeia, já a poeira do escândalo e o perigo das perseguições movidas pelo marido dela e seus familiares assentara de vez. A criança que a senhora idosa era, vive na casa que foi também da mãe de Manuel Claro. Chama-se Cidalina Lopes, é filha de Virgínia Lopes, irmã que foi de Manuel. A irmã de Cidalina chamava-se Minervina: «Foi para o Porto viver com os meus tios. A Tia Adelaide ensinou-lhe tudo. Depois ajudaram-na a abrir um restaurante». Coincide com o que escrevemos. É tão bom confirmar!
O casal sorridente está também ligado a esta história. Maria da Encarnação Cardoso Barbedo tem mais quatro irmãs. Por um triz as cinco meninas podiam nem ter nascido! O pai, José Dias Cardoso, estava acabar o seminário em Lamego quando o «crime» foi conhecido. Não lhe dizia respeito, a não ser de forma indirecta. Seu pai e sua mãe tinham recebido Maria Adelaide Coelho da Cunha em sua casa. Alberto Cardoso estava na prisão quando o filho foi expulso do seminário. O futuro padre, excelente aluno, não tinha nada que se lhe apontasse, a não ser o «crime» de solidariedade cometido por seu pai.
Maria da Encarnação recorda que o avô Alberto, quando saíu da cadeia, teve de emigrar para o Brasil para fazer face às dividas. «As terras ficaram todas empenhadas, foi muito dificil. E o meu pai começou a trabalhar como serralheiro e como armeiro, também para ajudar a pagar essas dívidas». Era um músico, um artista, fundou na aldeia uma orquestra de cordas. Violino, guitarra, cavaquinho, acordeão. Escrevia as cartas dos conterrâneos analfabetos. Desenhou os altares da igreja, concebeu a sua escadaria. Quando acabou de pagar tudo, ele e o pai com as remessas da emigração, poucos mais anos viveu. Aos 39 anos, de uma febre, partiu. «Deixou-nos a maior riqueza que pode haver. Todas nós estudámos. Umas são professoras, outras funcionárias. Tivemos um modo de vida».
O marido, Manuel Fernando Duarte Barbedo, também tem ligações colaterais à família de Manuel Claro. Os dois mostraram-nos a aldeia e ajudaram-nos a encaixar as imagens nas memórias.


Maria Adelaide Coelho, memórias do Rossão







Quando fugiu a primeira vez do hospital Conde de Ferreira, ainda em 1918, foi nesta pequena e remota aldeia, na serra de Montemuro, concelho de Castro Daire, que Maria Adelalaide Coelho se acolheu. Era a terra de Manuel Claro, o homem por quem ela tinha abandonado fortuna, um palácio em Lisboa, uma vida de sociedade. Nunca se arrependeu... apesar do preço elevadíssimo que todos pagaram: ela, o companheiro, a família dele que lhes abriu o coração e os braços.
Em Rossão, esta história está a céu aberto. A casa que foi de Alberto Cardoso, o generosíssimo primo de Manuel, onde Adelaide viveu dias de felicidade intensa, ora em ruínas, está a ser recuperada. A casa, onde Manuel vivia com a sua mãe, ainda está de pé. A taberna onde Adelaide, Manuel e Alberto passaram uma noite medonha, à guarda da polícia e dos esbirros do marido que os foram prender, já não existe com essa função, mas as pedras ainda dão testemunho do lugar. Aos poucos, a memória refaz os seus caminhos e recupera um Amor inesquecível. Com um orgulho que já ninguém disfarça.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Os fantasmas da Liberdade

Todos os que rasgam caminhos de liberdade ilustram pontos de partida.
Depois, e em torno da sua gesta cria-se um ponto de chegada, rodeado de altas e orgulhosas muralhas de onde se grita: quem sair destas fronteiras é banido do céu e da terra para sempre.
Mas aqueles em nome de quem se estruturaram tais lugares de cativeiro foram, eles próprios, detractores. Rasgaram laços, quebraram grilhetas, pisaram dogmas de herança tomados, partiram sozinhos incendiados de amor à procura do único tesouro pelo qual vale a pena viver e morrer. Liberdade.
Não olham para trás. E já não estão aqui quando em seu nome se instituem clausuras, a partir das quais é proibido voar.
O mito do eterno retorno da escravidão?

imagem: capucha, in www.feitoria.com.pt

quarta-feira, setembro 16, 2009

Lisboa, o rei, os elefantes e muito mais

Era uma vez um rei que passeava pela cidade de Lisboa com quatro elefantes, um cavalo persa com uma onça de caça deitada na garupa, e um rinoceronte mais à frente de forma que os elefantes não o vissem. Nessa época, toda a gente tinha macacos e papagaios, e os cães e os gatos morriam de ciúmes. Cheirava a canela, a benjoim, a pimenta, incenso e suor, âmbar e a novos frutos e flores, sob o omnipresente cheiro de peixe, frito ou assado em fogareiros de barro, e vendido na rua. E cheirava a merda, a muita muita merda.

Crédito imagem: J. Bosch, O Jardim das Delicias, o Paraíso (detalhe), Museu do Prado, Madrid.

sábado, agosto 01, 2009

Sonhos (acordados) de um dia de Verão

Eva Ave voltou para Albuquerque, New Mexico. Deixou mais dois discos seus cá em casa. Cantou no Chiado com músicos de rua, recebeu uma ovação estrondosa. Tive tanta pena de não ter estado lá. Benedetta multiplica luzes, entre Roma, Veneza, Teerão e sei lá mais por onde. Está a trabalhar no próximo filme de Kiorastami, que não resistiu e acabou também por metê-la na história, a fazer dela própria, julgo. Diz que volta a Lisboa em Setembro. Oxalá. O Paulo também chega em Setembro, que alegria!! Oshun, my sister, quer aparecer no Outono, quando encontrar o intervalo certo entre os seus rituais xamãnicos em Grand Canyon e no Sul de França. Quero fazê-la perder a cabeça por Lisboa. Entretanto, o Lago anda a chamar-nos, ouço perfeitamente a música do seu silêncio. E o meu elefante, desesperado, foge por entre as grades da improvisada arena, enquanto o rinoceronte, porém, «ficou no campo muim seguro, dando quasi a entender ahos que stauam apar delle, com hos geitos, & meneos que fazia, que tinha ha victoria por certa se ho Elephante quisera sperar[1].» Diz quem viu, que nunca se vira nada assim, em Lisboa.
Ah, os labirintos da memória.


[1] Damião de Góis, Crónica do Felicissimo Rei D. Manuel IV parte.

sábado, julho 18, 2009

O Manuel de Oliveira veio ao meu sonho


II parte
A minha muito jovem professora de surf diz: «vamos começar imediatamente». O mar está diante de nós. Estamos na estrada quase deserta, ela começa a andar na direcção da praia. «Não trouxe fato de banho» – digo. Já não estou tão segura de querer começar as minha aulas de surf. Penso: «Devia ter começado em jovem». A professora atira-me um disco de plástico azul: «Primeiro os treinos, no asfalto». E começa ela própria a deslizar pela estrada, velozmente. Porém, sempre que atiro o disco para o chão, tentando saltar para cima dele, o disco voa. Até que desaparece. Encontro um cesto de plástico, desses de guardar a roupa passada a ferro, e utilizo-o para o mesmo efeito. Descubro que é surpreendentemente fácil, embora exija flexibilidade de movimentos, força de pernas e braços, e firmeza nos pés. Em pequenas estradas secundárias, essas com gente, sinto o prazer imenso de deslizar, a grande velocidade, o meu corpo cheio de uma sabedoria instintiva. Liberdade.
E agora estou de novo junto do mar, com o Manuel de Oliveira a olhar para mim:
«Onde ficava, exactamente, a sua casa?» -- ele pergunta. Tem um mapa na mão. Estamos no Porto. Digo-lhe. Estamos perto, aliás. Ele responde: «não é essa. Onde era a sua casa, antes de nascer?» Julgo que se refere à casa dos meus avós: «Rua Antero do Quental». Acrescento: «o António Lopes Ribeiro mora ao lado. Eram amigos.» Ele parece comovido, porque conheceu o meu avô. Refere factos, datas, locais, que o comprovam. Até conhecia a Tipografia Porto Médico, na Batalha, quer o meu avó fundou e de que era proprietário: «à volta dela havia uma tertúlia de gente muito boa» – acrescenta.
Estamos em casa, numa sala de jantar. A mesa, comprida, está entre nós. Agarro-me ao espaldar de um cadeira com força, para contrariar a sensação de irrealidade que me invade. Penso: «este homem tem cem anos e ninguém lhe daria mais de 70.» Ele tem um fato cinzento, uma gravata clara, o cabelo cor de prata, o sorriso afável e parece estranhamente comovido. Sinto um choque:
– Isto é um sonho, entende? Não estamos aqui. Eu estou a dormir e acabo de descobrir isso mesmo. Só não percebo o sentido disto tudo.
Ele parece sinceramente espantado:
– Como pode dizer uma coisa dessas? Que tolice tão grande, nunca ouvi semelhante disparate. Acha que eu sou uma invenção? Tudo isto que nos rodeia, é uma fantasia? Então e a mesa, não lhe parece suficientemente sólida?
Agorro-me com mais força ao espaldar da cadeira. É sólido, sim, tão sólido como uma coisa sólida pode ser. Fecho os olhos e percebo que se os mantiver assim, mais algum tempo, acabo por adormecer. Logo, estou acordada: «Mas estou acordada dentro do sonho, é o que é» – penso, com profunda convicção.
Abro os olhos e o Manuel de Oliveira ainda ali está, a olhar para mim:
– Vai insistir nesse disparate? – pergunta. Depois continua a falar sobre o meu avô, com o mesmo entusiasmo.

Não respondo. A luz do sol, que entra pela janela grande, desenha um lindo rectangulo dourado sobre o chão escuro à minha direita.

O Manuel de Oliveira veio ao meu sonho

I parte
Presto muita atenção à realidade fluída e banal dos quotidianos sem história. Intensamente. Presto atenção aos meus passos. Aos meus gestos. Aos cheiros, sabores, ruídos, toques que me acordam várias vezes, todos os dias, ao longo do dia.
Há muito pouco tempo – segundos, horas, dias, meses ou anos tanto faz, é sempre antes –, sentia a relva fresca do jardim da Pousada Catarinense, em Abadiânia, afagar-me a planta dos pés nus, os salpicos da água que regava, por etapas, o seu jardim tropical, e, antes de adormecer, segurava com força entre os dedos, os varões da cabeceira de ferro da cama estreita, no pequeno quarto fechado à chave na sua porta de ferro. Muito modesto. Dormia-se tão bem, ali. Depois, os meus passos levavam-me, de manhã e à tarde, à Casa de Dom Inácio, e prestava-lhes, igualmente, atenção com a intensidade de uma criança que brinca. É muito sério, procurar estar acordada dentro da realidade que nos escapa a todos os momentos.
E agora, aqui, antes de adormecer seguro entro os meus dedos os varões de ferro da minha grande e linda cama marroquina de dossel, e digo em silêncio: «isto é verdade, o que estou a sentir é real». Pequenos gestos para nos habituarmos a estar acordados, em qualquer circunstância, tanto tempo quanto nos for possível.
É sempre muito pouco.
Foi neste registo que o Manuel de Oliveira, esse mesmo, esteve no meu sonho esta noite de 17 para 18 de Julho de 2009.

sábado, julho 11, 2009

André e a Esfera Mágica

O primeiro livro da minha colecção «O Mundo de André» entrou para a lista do Plano Nacional de Leitura.
Para o ano, quem sabe? será a vez de André e o Lago do Tempo, e da próxima aventura que estou já a engendrar...
para confirmaçao: http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/upload/obras_recomendadas_actual/5_leit_aut.pdf

domingo, junho 14, 2009

Recordar António Variações


Passaram 25 anos desde que António Variações se foi embora, na madrugada de um dia de Santo António, a cidade em festa.
Ontem, 13 de Junho, em vários programas incluindo o telejornal, a RTP evocou esta figura incontornável do imaginário português.
O jornal I e a Time Out também recordaram António.
André Murraças, criador, assinou uma intervenção singular, em
Braço de Prata, no espaço da Ler Devagar. Chama-se «Experiência Variações».
Outros projectos se desenham já num horizonte não muito distante. É extraordinária a vitalidade deste ícone, a provar que na verdade há «vida» para além da morte.
http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Antonio-Variacoes-morreu-ha-25-anos.rtp&headline=20&visual=9&tm=4&article=226034
crédito imagem: ©Teresa Couto Pinto

quinta-feira, junho 11, 2009

Lourenço Marques, Matola

«Tombe la neige» http://www.youtube.com/watch?v=7A9xWYZD55U
Aos 13 anos apaixonei-me ao som desta música piegas. Foi num baile de garagem, na Matola, durante um fim-de-semana grande em casa dos pais da minha grande amiga Ana Paula. Estava interna no colégio D. António Barroso, Lourenço Marques, a fazer o antigo 3º ano do liceu. Em Vila Cabral, onde vivíamos quando chegamos da metrópole, o ensino só ia até ao primeiro ciclo.
Ainda me lembro do nome dele. António Henrique.
Dançávamos absolutamente sós, fora do tempo e noutro espaço, como nos contos de fadas, só que em vez de nuvens cor-de-rosa à nossa volta, havia paredes de cimento cobertas com girlandas de luzes românticas e cartazes de grupos na moda. Por exemplo, Beatles.
Eu num colégio de freiras, e o meu amor à solta num país tropical. A nossa história não tinha futuro.
«Tombe la neige», e um calor de rachar.

terça-feira, junho 09, 2009

Biografia de António Variações


António Variações, Entre Braga e Nova Iorque, a biografia do cantor de Amares, foi publicada em 2006, teve várias edições, e está, neste momento, praticamente esgotada. Para todos os que me têm contactado a esse respeito, uma indicação. O livro está (ainda) à venda, pelo menos, na TomTom Shop, Rua do Século nº 4 A, Lisboa, 1200-435. Fazem-se envios à cobrança. Telefone:21.3479733.
Entretanto, e a não perder ABSOLUTAMENTE, Experiência Variações, do criador André Murraças, com a produtora Cassefaz, um espectáculo que tem como base a vida e obra do músico e cantor. Trata-se de uma singular instalação performativa, a decorrer em Braço de Prata, homenagem a António Variações (1984-2009).

terça-feira, junho 02, 2009

Entrevista à revista Máxima

A Laura Luzes Torres entrevistou-me e o Pedro Bethencourt assina a fotografia. O resultado, com o título «Coragem de Mulher» saíu na edição de Junho da revista.
Eis o link:
http://www.maxima.pt/0609/mc/100.shtml

quinta-feira, maio 28, 2009

Entrevista a Rádio Clube Português com participaçao de Carlos Poiares

Depois de uma semana praticamente sem me conseguir levantar da cama (raio de altura para ficar doente), levanto-me para ir ao Rádio Clube Português dar uma entrevista ao programa «Minuto a Minuto». Um pouco zonza e contra a vontade da família que acha que ainda não estou em condições de voltar às lides, lá fui eu.
Boa surpresa: o professor Carlos Poiares, director da Faculdade de Psicologia da Universidade Lusófona, junta-se a nós, por telefone, no directo.
Aqui fica o link para o programa:
http://195.23.58.155:8080/streamradio/2009/05/WMS_RM_FILTER/25275082.mp3
Entretanto amanhã vou à Praça da Alegria, RTP, Porto, com Maria Elisa Seara Cardoso Perez, que conheceu Maria Adelaide Coelho quando tinha 15 anos, em casa dos seus pais. Será um excelente testemunho, sem dúvida.
No sábado estou na Feira do Livro do Porto, a partir das 17 horas.

sábado, maio 16, 2009

E por falar em Feira do Livro

Amanhã, Domingo 17 de Maio, pelas 17 horas, vou estar na zona da Bertrand. Amigos, conhecidos, desconhecidos, são todos muito bemvindos.

Presentes da Feira do Livro

Há oito dias, Domingo tantos do tal, Feira do Livro, com Carlos Poiares. Uma palestra, portanto. Com meia duzia de pessoas, e a Feira às moscas. Chuva, frio, vento. Livros. O Carlos Poiares é professor catedrádico, na Lusófona, onde dirige o departamento de Psicologia, dando aulas no mesmo curso. Ao ouvi-lo dissertar sobre o «caso clinico» de Maria Adelaide, e os meandros secretos da saúde mental, e seus avatares, tive vontade de ser aluna dele. E disse-lhe, recebendo de imediato autorizaçao para assistir às suas aulas.
Na verdade, as histórias que evocou eram exemplares. Referências a tomar em consideração: o pavilhão dos «loucos políticos» no Júlio de Matos, tutelado pela polícia secreta, ou melhor, pelo regime. Aliviavam-se as estatisticas dos presos politicos, com uma mão cheia de loucos, também eles lúcidos, cuja loucura era ter voz e ideais, noção pungente de justiça e injustiça. Coragem.
No final, duas senhoras vieram ter connosco. Uma delas, Ana Paula, trazia a biografia de Maria Adelaide, que estava a ler. «Viemos de Sintra, com este tempo, para a conhecer, e pedir-lhe que assinasse este livro. Sigo o seu percurso desde os Jardins Secretos de Lisboa. Sou de História, e imagino o trabalho que envolveu fazer esta biografia.»
Disse outras coisas que não vou reproduzir, mas deixo aqui a nota: estas palavras, esta persença, encheram-me de alegria. Num mundo onde é sempre muito mais fácil censurar, criticar, ignorar, recebermos este tipo de dádiva, generosa e anónima, é um tesouro.

quinta-feira, abril 30, 2009

Maria Adelaide na Universidade Lusófona

A Primavera vai e volta, misturada com um Verão fora de horas. Viva o sol. O tempo, esse, foge-me entre os poros, e deixa um ligeirissimo travo de remorso, que sacudo. Tanta coisa para fazer, tanta coisa para escrever.
A sessão na Faculdade de Psicologia da Lusófona foi excelente. Bom ver tantos rostos jovens, atentos, curiosos, interessados. Boas perguntas, pertinentes intervenções. Se Maria Adelaide Coelho, nos tempos em que estava enclausurada no Conde de Ferreira, pudesse adivinhar o que o professor Carlos Poaires iria chamar aos cientistas que a interditaram, um clarão de puro gozo inundar-lhe-ia o rosto marcado de tanta dor: «Doidos são vocês!» Disse ela. Carlos Poiares, porém, foi muito mais longe ao analisar os actos médicos subscritos por Júlio de Matos, Egas Moniz e Sobral Cid. Sem meias palavras, nem falinhas mansas, chamou os bois pelos nomes. Que me desculpem os animais.
Monique Rutler, realizadora de cinema, contou coisas de um destes clínicos -- que soube de fonte segura na terra de onde o ilustre fora natural -- que me coibo de reproduzir. Registo, com satisfação, a oportunidade de termos voltado a ver Solo de Violino. Para os alunos da Universidade Lusófona, porém, o seu filme de 1992 foi, ali, estreia absoluta.

domingo, abril 19, 2009

A biografia de Maria Adelaide Coelho na Faculdade de Psicologia da ULHT

O livro Maria Adelaide Coelho da Cunha, «Doida não e não»! passou a integrar as biografias do Curso de Psicologia da Universidade Lusófona, nomeadamente nas cadeiras de Psicologia Forense e de Exclusão Social, e Teorias Psicológicas de Criminalidade, nesta última como bibliografia principal. A indicação foi dada pelo próprio director da Faculdade de Psicologia da mesma universidade, Professor Carlos Alberto Poiares.
Por outro lado, já no próximo dia 23 de Abril, pelas 18.15 horas, no Auditório Alexandre Pessoa Vaz da ULHT (Av. Campo Grande, 376, Lisboa), vai realizar-se no âmbito das actividades complementares de formação, da mesma faculdade, a sessão «Mulher na Psicologia Forense».O programa inclui a exibição do filme de Monique Rutler, Solo de Violino, e a apresentação do biografia de Maria Adelaide Coelho.
Seguir-se-á um debate sobre a menorização da Mulher nas primeiras décadas do século XX, na Justiça e na Psiquiatria, com a realizadora Monique Rutler e comigo, tomando como analisador o caso de Maria Adelaide Coelho da Cunha.
Esta sessão é organizada pelo 2º Ciclo em Psicologia Forense e da Exclusão Social da Faculdade de Psicologia, com a colaboração da PSIJUS – Associação para a Intervenção Juspsicológica.
A entrada é livre!Apareçam!!

sexta-feira, abril 17, 2009

Os meus livros no Jardim da Literatura

http://programas.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=1251&e_id=&c_id=1&dif=radio&dataP=2009-04-09%2013:28:00

quinta-feira, abril 16, 2009

Diário de escritor a vender o seu peixinho: o livro do Mário Contumélias

Lisboa, 16 de Abril de 09: Livraria Fnac, Vasco da Gama
Hoje vou vender o peixinho dos outros. Quer dizer, vou apresentar o novo romance do Mário Contumélias, A Explicação do Sol, da Fronteira do Caos, que a partir de agora já está nas livrarias. Belo texto, muito poético, de um escritor que já vai no seu 23 livro, e que tem andado por áreas tão diversas como o romance infanto/juvenil, a poesia, outros romances, um livro de entrevistas e uma brochura evocativa do 25 de Abril.
O curioso, aqui, é que eu conheço o Mário há muitos anos, desde a fundação – na mítica cave – do jornal Correio da Manhã. Ambos jornalistas, mas ele, por então, já a chefiar a redacção. Assim, dei por mim agora, ao longo do seu novo livro, a reencontrar pessoas nas páginas de A Explicação do Sol, mulheres, sobretudo, mas também um amigo comum de vida brevíssima. O Zé Luis. Em todo o caso, reencontros como o de hoje, graças ao Face Book, registe-se, são muito reconfortantes. Na vida nómada que levamos, eu pelo menos, são sinais de luzes que nao se apagaram. Imagino que mais amigos dos velhos tempos irão aparecer. E nesse sentido, estas reuniões esporádicas têm o sabor de encontros de família. Bons encontros.
Quanto ao meu próprio peixinho: a entrevista à Máxima, que vai sair na próxima edição da revista, dia 8 ou 9 de Maio, fechou um ciclo nesta biografia da Maria Adelaide. Por acaso – não, não foi nada por acaso!! – a Laura Torres é que me pôs em contacto com os actuais donos do palácio onde Maria Adelaide viveu uma parte da vida com o marido, Alfredo da Cunha, e o filho, José. Foi dali que ela fugiu em 13 de Novembro de 1918. E um belo dia, no início de 2007, a Laura convida-me para fazer uma reportagem no mesmo cenário: «é mais do que uma reportagem! Aquela história dá um livroum prazer ainda maior ter a própria directora da Máxima, a Laura, a entrevistar-me ali, onde tudo começou, numa conversa a que depois a Clara Ferraz se juntou. As fotografias foram a seguir. Vesti e despi os lindíssimos vestidos que escolhemos, para a produção, na BCBG MAXAZRIA, e divertimo-nos muito, todos, ao longo da sessão.

terça-feira, abril 14, 2009

Diário de escritor a vender o seu peixinho

Lisboa, 13 de Abril de 09: Você na TV, e Revista Máxima.
Dia cheio. De manhã TVI, «Você na TV». Chego às 10 horas como combinado. Em 15 minutos estou maquilhada e penteada, a postos para o directo com o Manuel Luís Goucha e a Cristina Ferreira. A propósito da história de Maria Adelaide Coelho, a produção encontrou três mulheres para testemunhar sobre as suas opções amorosas. Vivem com homens mais jovens, e «arriscaram tudo por amor». Senhoras na casa dos 50, 60 anos. As diferenças nem são tão grandes assim, quer nas idades, quer nos patamares sociais de onde procedem os seus companheiros. E os riscos, bem vistas as coisas, resumiram-se mais ao medo do que as «pessoas podiam pensar» ou algum desconforto por parte de familiares. Ou nem sequer isso! Mas, e isto é que importa, os seus casamentos são felizes, e resistem há décadas à usura dos anos. Uma foi madrinha de guerra de uns 17 soldados. Apaixonou-se por um deles, e vice-versa. Estava no Norte de Moçambique. Tinha menos seis anos do que ela, e finalmente face a face, era muito mais baixo do que ela o imaginara. Casaram pouco depois dele ter voltado do Ultramar, e ainda hoje os dois se adoram. Ele era de Comunicações e não conheceu os horrores da morte em directo. Mas perdeu muitos amigos, soldados como ele, e viu outros chegarem desfigurados, mutilados no corpo e na alma, alguns para sempre. Mas nunca fala da Guerra.
Antes de entrarmos, e já no estúdio, assistimos às actuações de duas crianças, um rapaz e uma rapariga, aí de uns 9, 10 anos. Eram os eliminados de um programa onde outras crianças também cantam, não sei o nome. Iam voltar para casa, e tinham dormido umas três, quatro horas. Tinham bonitas vozes mas resulta estranhíssimo ver um miúdo daquela idade a cantar:
corpo de linho/lábios de mosto/quem faz um filho/fá-lo por gosto.
E uma chavalita da mesma idade, abanando-se ao som de um êxito das Doce, trauteando em voz fresca e infantil:
Vem amor que a noite é uma criança/ e depois/quem ama por gosto não cansa/
E por aí fora.
Entretanto, chegou a nossa vez. Primeiro, os testemunhos das outras convidadas. Depois, a «minha» Adelaide. Os apresentadores tinham, naturalmente, lido o livro, e o Manuel Luís estava maravilhado com as peripécias da senhora riquíssima que «tudo deixou por amor» ao seu Manuel Claro, motorista, motivo pelo qual ambos foram presos, ela num hospital de doidos, ele numa prisão:
– Mas acabou tudo bem, não foi? – perguntou o Manuel Luís Goucha.
– Sim. Estes dois ficaram juntos.
– Mesmo depois de morrer, não foi? – insistiu ele.
– Mesmo depois da mortos – disse eu.
E pronto, estava feito, e é incrível porque muita gente viu, mandou mensagens, passeou pelo blogue à procura de «Doida não e não!» ou de «Maria Adelaide Coelho». Ou até do nome da escritora que ali esteve a vender o seu peixinho.
Mas não acabou aqui. Táxi, Lisboa, Chiado, almoço no vegetariano, e depois passagem pela Séfora, a comprar toalhetes desmaquilhantes e uma garrafinha de água hidratante. Na própria loja, sentada num banco e com um bom espelho à frente, apliquei-me a tirar os quilos de base e pó e sombras e rimel, e pus-me a caminho de São Vicente onde ia dar uma entrevista à Máxima. E onde, mais uma vez, me puseram base, e pó e sombras e batons e rímel.
Fica para outro post.

quinta-feira, abril 02, 2009

Isto Só Visto no Palácio de São Vicente

O programa Isto Só Visto cobriu o lançamento da biografia de Maria Adelaide Coelho que, quase cem anos depois, regressou assim ao seu palácio para ser figura principal de um evento lindíssimo. Ora vejam:
http://195.23.58.155:8080/streamtv/2009/03/WMS_RM_FILTER/24434163.wmv

Leituras das Marias

Pela blogosfera, esse virtual mundo virtualmente sem fim, começam a somar-se as referências à biografia de Maria Adelaide. Neste caso, e porque se trata de um blogue de culto, deixo o rasto da notícia e o link para o seu destino, que vale a pena seguir em termos regulares. Leituras das Marias é um posto de observação independente, onde se fala sobre livros. É visivel e notório que as pessoas que o fazem, estão profundamente familiarizadas com o objecto acerca do qual escrevem. O que também é digno de referência.
Um excerto do comentário crítico:
«Esta história surpreendente, que me deixou sem fôlego tal o enredo que a própria autora, Manuela Gonzaga, tão bem urdiu, surgiu através dos actuais donos do palácio de São Vicente, que em 2003 descobriram que de um fundo falso de uma pesada secretária, surgiu «um precioso acervo de minutas de cartas, bilhetes e notas enviadas a quem privou com o casal (Maria Adelaide e Alfredo da Cunha) – amigos, familiares e antigos serviçais do palácio - , a quem se pedia depoimentos sobre os tempos felizes de São Vicente».
http://leiturasdasmarias.blogspot.com/2009/03/doida-nao-e-nao-maria-adelaide-coelho.html

terça-feira, março 31, 2009

Maria Adelaide voltou ao palácio de São Vicente

Às vezes, uma imagem vale mesmo mais do que mil palavras. Neste caso, é um pequeno filme. O programa Só Visto transmitiu no domingo dia 29 de Março (2009) uma reportagem sobre o lançamento da biografia de Maria Adelaide. Justiça mais do que poética: quase cem anos depois, ela voltou pela porta grande aos salões onde costumava brilhar. Ao palácio de onde fugiu a 13 de Novembro de 1918. Novidade: em glória, com descendentes seus e de Manuel Claro finalmente juntos. E amigos, amigas que a conheceram em vida, como Maria Elisa Seara Cardoso Perez.
Link para o programa:
http://195.23.58.155:8080/streamtv/2009/03/WMS_RM_FILTER/24434163.wmv

quinta-feira, março 26, 2009

Peter Joseph in the New York Times and... in Lisbon!

He has been in Portugal, some months ago during Artivist Film Festival to present his second Zeitgeist. Very crowdy and warmy and participated session! Portugese press, altough, ignored him. He was not yet «mainstreem» in Lisbon. We had wonderfull moments altogheter, and a very nice dinner at my place: in the photo Peter Joseph and our dear friend Benedetta Scatafassi, an italian artist. And a botlle of a great Portuguese wine. Well... two botlles, we were seven.
To read some more about his work, follow the link to this article: They’ve Seen the Future and Dislike the Present
By ALAN FEUER
«Hundreds of people gathered Sunday for an evening-long forum with Peter Joseph, the director of the “Zeitgeist” films and a futurist, to celebrate Z-Day in Manhattan.»

terça-feira, março 24, 2009

Maria Adelaide Coelho no Top 10 Bertrand

Pela terceira semana, a biografia da filha e herdeira de Eduardo Coelho, fundador do Diário de Notícias, mulher de Alfredo da Cunha e encerrada num manicómio por um «crime de amor» continua no Top 10 Bertrand. Esta semana, «Doida não e não!» subiu para 7ª posição.
http://www.bertrand.pt/

sábado, março 21, 2009

Entrevista a Vidas Alternativas

«São 4 as entrevistas deste programa 162.
Abrimos o programa dando voz à literaratura e na pessoa da escritora ja sobejamente conhecida,Manuela Gonzaga,a propósito da sua última biografia”Doida,nao ,e nao”!,a hsitória de uma mulher, filha de magnates portugueses que em 1920, em plena I República quiz ser livre para amar o homem que amava:o seu próprio choffeur.Foi desde logo considerada louca, e internada num manicómio.Graças á sua enorme coragem, contra o machismo burguês e contra a ciência médica que a interditava,libertou-se e foi feliz!»
Entrevista radiofónica:http://va.vidasalternativas.eu/wp-content/uploads/audio/VidasAlternativas162.mp3

Papi Jan


He come into my life trough the door of the stories his son used to tell me so often. He was a traveller. He went on the road, when there were no roads. He took some gold and a huge bread, the gold inside the bread. Those days money use to be what it always has always been: just not valuable paper money trusted by nobody. Beyond the gold and the bread, he had an iron horse, a fantastic motorcycle, and a great group of friends. They left from Groningen, Holland, and reached Rome, Italy. They crossed a smashed Europe under million of bombs, its roads devastated, its dead fields and cities fallen over themselves. They flew over the chaos and pain, and sang a holy song of joy for the end of the nightmare.
I cannot imagine what it would have been going on a trip like that.
He travelled during all over his life. On the back seat of his car he carried enormous suitcases that would fold on themselves and opened like an accordion, as I’ve pictured it in his son’s description. Inside this accordion 500, 600, and even more shoes, rubber boots, boots and slippers and house shoes travelled, but only left feet. He showed them trough Dutch villages, small towns and cities. He accomplished that with a genuine pleasure that exceeded the mere business insight, far beyond barriers of the bookkeeping columns where he inscribed orders and profits, amounts, references, debits, credits. He performed his work with the seriousness and the concentration of a playful child. That’s why he could count so many friends instead of just customers.
Then he was also a traveller who shared the pleasure of the journey with his family. What was his car like? On his side, mother has a candy bag on her lap and a small grocery store on her feet. How can she manage it? The car not yet left the city and everyone is already chewing. On the back seat four blond heads, many elbows, a sharp confusion of arms and acute knees, spiky tongues. She needs to keep her kids busy. Mostly eating candies instead or before they start biting each others. Later, they cross North routes to the South countries in a caravan. In winter they would go all together to Switzerland ski resorts. In summer they went to Mediterranean seaside, landing in sparkling camping parks its new grass and equipment about to be use for the first time. Groningen periodical even published a photograph of the family leaving to foreign countries in their great caravan. Everybody talks about that.
Later, a flagman police in the South cities would stop the traffic for this group of golden ducklings, who communicate in strange signs and Nordic sounds, and their young and pretty parents could cross the road in safety. Local people, dark eyes and dark hair, stare in an astonished silence this golden Dutch family:
-They used to put their hands through our hair and said “bianco, bianco!" By those days, almost nobody travelled like we use to do -- his son told me.
We saw each other two, three times? We exchange hesitated sentences in English, and confident and warm smiles in universal language. Language was not a barrier. He looked my feet and he liked my shoes. He touched them. He described them. I suppose he wanted to know its origin. Years later, we took a walk trough the canals of the city where he was born, grew and lived, whenever he was not travelling. The city where he loved, married and his children had been born. It was January the canals were almost frozen, but the boat still cross the waters to the flavour of a life full of history. All the memories I have about him – sequential and short by direct experience, or other people's memories – come always loaded of joy:
-My mother lived here. My father met her here. My sisters were born there. My parents use to live there for some years.
The day Papi Jan left, the very same hour, we were speaking about him,and his son had laughs in his voice and tears in his eyes as he told same old stories and quite new ones. Very pragmatic, he added: «I know but the good part of histories about him. I left home many years ago.»
Last Sunday it was a splendid sunny afternoon. News came shortly afterwards. An old gentleman his body tired of intense and joyful life freed his soul.
We so miss him.
Lisbon, 17 of March, Manuela

quarta-feira, março 18, 2009

Maria Adelaide Coelho nas Tardes da Júlia

A história seduziu não só a apresentadora e jornalista Julia Pinheiro, como a equipa toda. Produtores e realizador incluídos. Daí o «peso» que o tema ssumiu num dos programas (45 minutos!) com recurso a reportagens de exterior, e conversa em estúdio. No palácio, filmaram ambientes e documentação. Ouviram histórias. E seguiram o fio desta meada antiga.
O link dá remete para uma parte do programa:
http://195.23.58.155:8080/streamtv/2009/03/WMS_RM_FILTER/24184574.wmv

segunda-feira, março 16, 2009

«A história de uma mulher que não ficou calada»

Um dos jornalistas presentes na sessão de lançamento da biografia de Maria Adelaide Coelho, José António Machado, da revista Rosa 10, escreve citando o historiador Fernando Rosas:
“Manuela conta-nos a história de Maria Adelaide Coelho da Cunha com pormenor e rigor, como uma boa historiadora o sabe fazer. A história de uma mulher que não ficou calada, que não se submeteu, que não aceitou o hospício e a humilhação. Uma mulher que fez várias coisas espantosas, como deixar tudo para se entregar ao amor de um homem que era seu motorista e tinha metade da sua idade”, afirmou Fernando Rosas, que no final da sua intervenção referiu que este livro merecia ser adaptado para o cinema.»
Créditos da imagem e para ler mais: http://www.rosa10.com/detalhe.php?id=11170

Lançamento do meu livro no palácio de São Vicente




Na fotografia durante o lançamento, com o historiador Fernando Rosas a apresentar o livro. Estou-lhe muito grata pelas palavras com que apreciou estas páginas que rasgam uma janela sobre quotidianos e condição da mulher no primeiro quartel do século XX. Eduardo Boavida, director da Bertrand, ao lado direito, eu à esquerda, Clara Ferraz, actual dona do palácio, e Ana Gorjão Henriques, pela Penha Longa. O grande salão onde Maria Adelaide Coelho declamava os versos do marido e do filho, e as outras salas e os lindíssimos jardins, engalanaram-se para receber de volta a senhora que fugiu daqui no dia 13 de Outubro de 1918, e que só voltou agora... em biografia. Segundo a editora estariam umas 15o pessoas no palácio para este evento.

sexta-feira, março 06, 2009

«O escândalo por amor no séc. XX»

"Doida não e não!" é o modo de Manuela Gonzaga fazer justiça a uma mulher que trocou o luxo pela paixão -- é este o título do artigo publicado no Jornal de Noticias de 6 de Março de 2009, com assinatura de Liliana Carvalho Lopes:
"Está nas livrarias desde 20 de Fevereiro o sétimo livro de Manuela Gonzaga. "Doida não e não!" é a segunda biografia da escritora e será apresentado no dia 10, no Palácio de São Vicente de Fora. Maria Adelaide Coelho da Cunha, herdeira do fundador e co-proprietário do "Diário de Notícias", foi declarada louca e presa num manicómio pela sua ousadia. A 13 de Novembro de 1918, uma mulher rica, de 48 anos, troca a família e toda uma vida de riqueza e bem-estar pelo motorista, de 26, para viver o verdadeiro amor. [...].
Para ler mais: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1158498

quarta-feira, março 04, 2009

A história de Maria Adelaide Coelho no Porto e em Braga

Foi uma verdadeira «tournée» a ida ao Norte com a história desta Mulher na agenda de contactos. Saldo, para já: um excelente artigo na página da Cultura do JN, com assinatura de Liliana Lopes; o feliz reencontro com algumas das pessoas que me documentaram sobre os ultimos 40 anos de vida de Maria Adelaide Coelho da Cunha e Manuel Claro, e uma deslocação a Braga para o programa «Livros e Rum», que, no seu segundo ano de vida, é já um culto. Uma hora de conversa intensa e interessantíssima com o investigador e autor, António Ferreira. A entrevista vai para o ar esta quinta-feira.
Adoro Braga, mas desta vez estive lá apenas o tempo deste encontro. Mas valeu a pena!!!
António Ferreira - Livros com Rum - Rádio Universitária do Minho: http://www.rum.pt/
Entretanto segunda-feira, na Antena 1, passou a entrevista com Ana Aranha, «À volta dos Livros», sobre esta biografia. E ontem, dia 3 de Março, na «energia» de um directo, «Portugal no Coração», tive a oportunidade, mais uma vez, de divulgar a história de Maria Adelaide, em entrevista conduzida com sensabilidade por Tânia Ribas e João Baião, estarrecidos pela força desta Senhora.

domingo, março 01, 2009

Nós e os outros, a propósito dos casamentos gay

Até agora, os argumentos do «Não» ao casamento gay deixam-me abismada. Um pouco mais e recorrer-se-ia ao Génesis. Espera: já se recorreu! Pela parte que me toca, nunca consegui descobrir se alguém era inteligente ou burro, decente ou canalha, solidário ou egoísta, através da sua cor de pele, religião, clube, sexo, ou orientação de género. Na verdade, já sou muito velha, e tenho uma imensa memória. A memória dos escritores. Por exemplo:
-- Cresci a ouvir chamar terroristas a pessoas que trinta anos mais tarde foram saudadas como nossos irmãos de luta e como heróis. Eram combatentes pela liberdade das suas pátrias, que eram a «nossa»: Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Principe, Timor.
-- Cresci a ouvir defender, por gente mais ou menos próxima, mais ou menos remota, a superioridade de uma raça -- qual? tanto faz, mas no caso era aquela -- em deterimento da fatalidade genética da outra. Pois se deus tinha dado tanto sol e tantas bananas aos povos daquela região do globo, na verdade dispensara-os de trabalharem os seus cérebros. Aí chegaram os outros, os da «civilização», para equilibrar as coisas. Por acaso até foi deus que os enviou.
-- Cresci a assistir à submissão de grande parte das criaturas do sexo feminino ao paradigma bíblico. Pois se até eramos o subproduto de uma parte do corpo deles!
-- Cresci a ouvir dizer que a «nossa» era a única, a melhor, a total religião. Cresci a ver, com o olhar intenso da infância, com o olhar feroz da adolescência, e com o olhar espantado da juventude, gente muito boa, gente muito má, e gente banal ou excepcional, ao leme dos seus destinos.
-- Cresci ainda mais e, mergulhando no rio do tempo, percebi linhas de força aterradoras a nortear o poder subjacente aos destinos da casa de deus. E vi que Deus, o «meu» Deus, que aprendi a amar e tento guardar nos caminhos de cá, não morava ali.
-- Cresci cresci cresci e na tentativa de me manter criança, procuro guardar a inocência do olhar que não julga, nao mede, não fecha o coração ao coração dos outros. E depois, cansada de não encontrar deus em clubes restrictos povoados de hipócritas, encontrei este lema na essência das religiões quase todas. Não digo todas, porque não as conheço. Mas também vi que quase todas o perderam na estrutura temporal da sua vaidade e obsessão de poder.
-- Cresci a ouvir falar de decência e moral. Os pregadores -- de todos os sexos e de vários credos -- gritam muito alto, e cobrem-se de véus que facilmente se rasgam. Por baixo deles, estão invariavelmente nus. E cheios de feridas indecentes.
Cresci tanto que abandonei o «rebanho. Pensei: se deus quisesse que fossemos ovelhas ou vacas, ou animais que precisam de pastores, não nos dava cordas vocais sofisticadas -- para dizer muuuuuuuuu ou béeeeeeeeee -- intelecto, e um cerebro poderosíssimo do qual usamos uma minúscula parte. Além de que pastores e rebanhos é a velha história que termina no matadouro municipal ou na matança da aldeia. Não é uma relação em pé de igualdade.
Cresci ainda mais, e começei a navegar no rio do tempo.
Muitos mais véus se rasgaram. Senti-me muito só.
Mas muito muito livre. Graças a Deus.
--

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

terça-feira, fevereiro 24, 2009

«Doida não e não!»

A voz de Maria Adelaide Coelho está de novo a fazer-se ouvir pelo país todo. O DN publicou um artigo da Fernanda Câncio, que na sua «mesa de montagem» mental cruzou a leitura atentíssima do livro com a conversa de quase duas horas que tivemos. Fica um extracto e link para o artigo completo:
"Quis fazer justiça a uma mulher extraordinária" FERNANDA CÂNCIO
«Manuela Gonzaga. Jornalista grande parte da vida, 'passou-se' há nove anos para o lado dos livros. A apaixonante (e apaixonada) história de Maria Adelaide é o seu sétimo livro. Uma biografia apaixonante e apaixonada que revela uma heroína portuguesa A narração desta vida é também a da condição da mulher há cem anos [...]»
http://dn.sapo.pt/2009/02/21/dngente/quis_fazer_justica_a_mulher_extraord.html
Entretanto, ontem, segunda-feira, entrevista à Antena 1, programa de Ana Aranha, «À volta dos livros». Cinco minutos de grande síntese. Gosto muito da forma como ela organiza o tempo, fazendo acontecer tanta coisa em escassos minutos. Amanhã, entrevista com Dina Gusmão, Correio da Manhã. Quinta-feira, no Porto para uma agenda já bem preenchida...
Équase comovente a força desta mulher, Maria Adelaide Coelho, que nasceu no século XIX, em Lisboa, morreu a meio do século XX, no Porto, protagonizando um escandalo de enormes dimensões, e que ainda desperta tanto interesse à sua volta...

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

A capa do meu novo livro

Está finalmente na gráfica o meu novo livro que por volta de dia 20 de Fevereiro vai para as livrarias. Mais um. E de cada vez é mais dificil... Quero dizer, nesta fase em que a sua imaterialidade toma corpo e forma e nos sai das mãos, para ir fazer companhia a milhões de outros tão belos, tao decisivos, tão importantes, tão fundamentais (para quem os escreveu) como o nosso.
Pois é. Em todo o caso, é sempre e também uma alegria. Ele aí está!

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Biografia de Maria Adelaide Coelho

O meu próximo livro está quase a sair. É biografia de Maria Adelaide Coelho, filha mais velha e herdeira de Eduardo Coelho, fundador e co-proprietário do Diário de Notícias.
A história, tal como lhe peguei, começa a meio, mas este «meio» é um principio: aos 48 anos de idade, Maria Adelaide abandona uma vida luxuosa e muito cosmopolita, um marido a quem já não ama, e que, segundo ela, mostrava pagar-lhe na mesma moeda, e ...foge com o motorista de 26 anos. Troca assim um magnífico palácio -- São Vicente -- por um primeiro andar alugado em Santa Comba Dão. Peles, sedas, cetins, jóias, por uma saia de chita, coberta com um avental e um lenço na cabeça, «à espanhola». Um marido poeta, escritor, jornalista, por um «chauffeur».
Está apaixonada, e farta do que chama o «teatro da vida». Corre o ano de 1918... Em breve, o idílio é interrompido e Maria Adelaide é internada no Hospital Conde de Ferreira, uma instituição para alienados, no Porto...
E isto é só o começo.

domingo, janeiro 04, 2009

Homem-mouton desculpa, mas o nosso ADN está a mudar

A tentar moderar os comentários do post sobre entrevista que a Teresa de Sousa fez ao Jaime Nogueira Pinto a propósito do livro que este acabou de lançar, e do link para o artigo sobre os chineses em Angola, que também me interessa muitíssimo, acabei por mandar tudo para o lixo. E não consegui recuperar a informação. Além disso, o artigo dos chineses em Angola, desaparecia mal se linkava o blog onde ele estava. Desaparecia literalmente!
Assim, e enquanto nao recupero os links, deixo um atalho para «contos de fadas» do século XXI: O nosso DNA está a mudar. E isto é mais emocionante, ou pelo menos tanto, acho, do que os imperialismos New Age. Ora vê:
http://www.luisprada.com/Protected/dna_changes.htm
Pssst: na verdade nem percebo quase nada de ADN...

sábado, janeiro 03, 2009

Quinta do Lago Silencioso


2009 não podia começar melhor: voltámos a Aljezur. À Quinta do Lago Silencioso, agora cheio de patos mergulhões, e com as carpas escondidas no fundo do lago, à espera de dias mais quentes. Tão perto desta praia belíssima em qualquer parte do ano.