quarta-feira, abril 23, 2008

Finalmente esperança para o Zimbabwe?

Apesar do agravemento da crise tremenda que assola o país desde as eleições, um extraordinário movimento de solidariedade emergiu na África do Sul e está a incendiar a região. Tudo começou quando os estivadores dos portos sul-africanos com o apoio explícito do seu sindicato, se recusaram a tocar num carregamento de armas chinesas destinadas ao Zimbabwe. Agora, sob a pressão crescente dos media, e sob o olhar do mundo inteiro, a China começa a hesitar. É possivel até que considere voltar a atrás com este envio, recolhendo as armas. Neste contexto, um pequeno gesto pode fazer diferença. Assinar a petição abaixo, por exemplo:

Click below to sign a petition to keep arms away from Zimbabwe. The petition will be launched at a press conference in Johannesburg before the end of this week, and used to lobby key leaders until the crisis ends. Join the call now: http://www.avaaz.org/en/no_arms_for_zimbabwe/5.php/?cl=78908395

terça-feira, abril 22, 2008

"Uncle Mark takes good care of us"

Eu sentia-me mais ou menos como a "mãe Natal" com sacos cheios de compras do supermercado aqui perto. Cheguei a casa e pus-me a arrumar frutas, legumes, queijos, etc., não antes sem ter feito, previamente, uma faxina ao nosso laboratório alimentar. Depois chegaram o André e o Eduardo. São os flatmates do Paulo. Também traziam sacos de supermercado. Primeiro puseram-nos em cima da mesa da cozinha, e depois começaram a arrumar no frigorifico um luxo de comidas. Embalagens de hamburguers de borrego, com o saquinhos de molho de hortelã; salmão da Noruega fumado e arenque escocês; lasanhas várias, vegetarianas inclusivé. Finalmente, até o exagero de emblagens de saladas prontas a servir, "mediterrenean style" com o respectivo molho: tomate cereja, cebola em tiras, pimentos amarelos e vermelhos em cubos e rodelas de cougettes. Também tinham trazido humus, uma emblagem média, e um grande bolo de chocolate recheado, na sua caixa de cartão. "Ena, ena, temos festa" -- disse eu, porque não me ocorreu mais nada. "Ah, pois temos." -- disseram eles. Tinham manchas de tinta azul nas mãos.
São estudantes, trabalham, e juntam dinheiro durante meses que gastam em viagens ao Afeganistão, à Índia, à Austrália. "Estas compras custaram um dinheirão!?" -- custava-me a crer, do que conheço deles e dos seus objectivos. Riram-se: "Oh, não! O Tio Mark toma muito bem conta de nós."
"É alguém que deva conhecer?" -- perguntei. Não sabia que tinham familia na Escócia.
"Não é muito aconselhável" -- eles ainda estavam a rir, enquanto ligavam o forno para gratinar as lasanhas -- "é elitista e faz-se pagar muito bem".
Como estava a ajudá-los percebi que as minhas mãos também tinham ficado um bocado manchadas de azul. E então fez-se luz. O "Tio" mora a dois passos aqui de casa. E todos os dias manda para o contentor as embalagens que ultrapassaram a data de validade. Aos iogurtes até os manda furar. Mas as embalagens de comida processada, de resto hermeticamente fechadas, recebem em bloco uma tinta que mal salpica a maior parte delas. Por acaso sai bem com água e sabão.
No "Tio" Mark é tudo muito bom, muito fresco, e a preços elevados, até ir para o lixo. Na verdade, a coisa não está muito facilitada -- o Paulo disse que ás vezes é preciso saltar o muro e tudo -- mas compensa. Por vezes apanham lagosta, com a respectiva maionese. Na semana passada havia peito de pato laminado, e outras coisas muito chiques, pelo que não sendo uma rotina, não deixa de ser um hábito ir espreitar os acessos aos contentores do "Tio" Mark.
O jantar estava muito bom.

domingo, abril 20, 2008

Morningside Road

A chuva ficou por Lisboa. O tempo por aqui tem estado esplêndido. Mas há sempre uma pausa para passear no hiperespaço e encontrar os amigos que andam por aí, para lá do tempo e da distância. A internet é um instrumento maravilhoso a maior parte das vezes e para a maior parte de nós. De modo que continuo a estar com a Xana, aRita, o Rui, a Benedetta. E com a Marta, evidentemente, mas com ela é mesmo mais o telefone. E com o D., que não usa, não suporta nem tem telemóvel, não usa nem quer saber como se usa a internet para lá do serviço de email e da pesquisa muito especifica, mas que está acessível do outro lado dos telefones fixos, graças a Deus.

"The world is full of ridles that only the dead can answer. "

Ben Okri

Só descobri agora este magnífico escritor e poeta nigeriano, pluri-premiado. Não tenho tido praticamente tempo para ler romances fora do âmbito da minha tese, ou dos livros que tenho vindo a publicar (e que também me motivam pesquisas nas respectivas áreas). Deixo assim o encontro com os romances ao sabor do acaso ou então releio livros de autores que venero particularmente. Há livros que podem acompanhar-nos uma vida inteira sem que nos cansemos deles. De tantos em tantos anos revisitamo-los e tiramos dessas leituras um prazer sempre renovado.
Voltando ao Ben Okri. Entretanto o Paulo, da última vez que lá esteve, há muito pouco tempo, deixou em Lisboa um dos seus livros, The Famished Road. Trouxe-lho e vim a lê-lo na viagem. Ainda não parei. Em Edinburgo, tem sido uma companhia constante e arrebatadora. Vou comprar os outros livros dele. Conseguem-se encontrar alguns a preços muito acessiveis em alfarrabistas ou lojas de caridade que existem por toda a cidade. Entretanto já me ofereceram outros livros. De Neil Gaiman, American Gods, e uma recolha de lendas populares da Escócia, Irlanda, Gales e Cornualha, feita por Joseph Jacobs, Celtic Fairy Tales, com ilustrações de John D. Batten. De resto cá por casa casa há muito por onde escolher e a única dificuldade é mesmo a escolha... Portanto, entre várias coisas que vim fazer à Escócia, vou aproveitar estas duas semanas para passear por esta cidade que adoro, e ir até ao Norte, e ler pelo prazer único e indizivel de ler.
Em Lisboa esperam-me outras tarefas e de novo não vou ter tempo para ler romances fora desse âmbito muito especifico. Entre outros, vou finalmente ler Glória, de Vasco Pulido Valente. Tenho de mergulhar nas primeiras décadas do seculo XX. Uma mulher muito particular aguarda-me, tenho de conseguir dar da sua vida um testemunho digno da sua coragem exemplar.
Página de Ben Okri: http://www.myspace.com/ben_okri