Eu sentia-me mais ou menos como a "mãe Natal" com sacos cheios de compras do supermercado aqui perto. Cheguei a casa e pus-me a arrumar frutas, legumes, queijos, etc., não antes sem ter feito, previamente, uma faxina ao nosso laboratório alimentar. Depois chegaram o André e o Eduardo. São os flatmates do Paulo. Também traziam sacos de supermercado. Primeiro puseram-nos em cima da mesa da cozinha, e depois começaram a arrumar no frigorifico um luxo de comidas. Embalagens de hamburguers de borrego, com o saquinhos de molho de hortelã; salmão da Noruega fumado e arenque escocês; lasanhas várias, vegetarianas inclusivé. Finalmente, até o exagero de emblagens de saladas prontas a servir, "mediterrenean style" com o respectivo molho: tomate cereja, cebola em tiras, pimentos amarelos e vermelhos em cubos e rodelas de cougettes. Também tinham trazido humus, uma emblagem média, e um grande bolo de chocolate recheado, na sua caixa de cartão. "Ena, ena, temos festa" -- disse eu, porque não me ocorreu mais nada. "Ah, pois temos." -- disseram eles. Tinham manchas de tinta azul nas mãos.
São estudantes, trabalham, e juntam dinheiro durante meses que gastam em viagens ao Afeganistão, à Índia, à Austrália. "Estas compras custaram um dinheirão!?" -- custava-me a crer, do que conheço deles e dos seus objectivos. Riram-se: "Oh, não! O Tio Mark toma muito bem conta de nós."
"É alguém que deva conhecer?" -- perguntei. Não sabia que tinham familia na Escócia.
"Não é muito aconselhável" -- eles ainda estavam a rir, enquanto ligavam o forno para gratinar as lasanhas -- "é elitista e faz-se pagar muito bem".
Como estava a ajudá-los percebi que as minhas mãos também tinham ficado um bocado manchadas de azul. E então fez-se luz. O "Tio" mora a dois passos aqui de casa. E todos os dias manda para o contentor as embalagens que ultrapassaram a data de validade. Aos iogurtes até os manda furar. Mas as embalagens de comida processada, de resto hermeticamente fechadas, recebem em bloco uma tinta que mal salpica a maior parte delas. Por acaso sai bem com água e sabão.
No "Tio" Mark é tudo muito bom, muito fresco, e a preços elevados, até ir para o lixo. Na verdade, a coisa não está muito facilitada -- o Paulo disse que ás vezes é preciso saltar o muro e tudo -- mas compensa. Por vezes apanham lagosta, com a respectiva maionese. Na semana passada havia peito de pato laminado, e outras coisas muito chiques, pelo que não sendo uma rotina, não deixa de ser um hábito ir espreitar os acessos aos contentores do "Tio" Mark.
O jantar estava muito bom.
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