sexta-feira, maio 27, 2011

Boas Notícias - Tempo dos Milagres: A casa das vespas

Era uma vez... Santo André. Casa nova, pinhais, o mar no fundo das dunas, e... uma colmeia de vespas. E duas crianças sábias. E um punhado de gente boa. Inesqueciveis e douradas memórias.
Those were the days.

Boas Notícias - Tempo dos Milagres: A casa das vespas

terça-feira, maio 17, 2011

Não te compreendo disse ele

E queria tanto compreender-te. Ela não respondeu. A sério, disse ele. Não entendo porque dizes o que dizes quando dizes e o que fazes quase nunca é o que julgo que vais fazer. Ela encolheu os ombros, estava a pensar em tantas coisas diferentes ao mesmo tempo. Às vezes acho que sim. O quê? Que percebo. Ah. Mas depois acho que não. O quê? Isso, que não te entendo. Ah. Ajuda-me. Em quê? A perceber como és. Ela não respondeu. Agora já não estava a pensar em muitas coisas ao mesmo tempo. Estava a fazer um esforço insano para não se rir na cara dele. Ele a falar comigo como se eu fosse o quê? Uma máquina de lavar com instruções em chinês? Um televisor sem comando à distância? Que mania. Se nem eu me entendo tantas vezes. Só queria rir, rir, rir. Então disse, não me entendas que não adianta nada. Aceita-me, e pronto.
- E ele?
- Disse, está bem. Mas também não percebo isso.

sexta-feira, maio 06, 2011

A Lenda de Gaia no TEDx O'Porto 2011




Na casa da Música, a sensação inexprimível de ter chegado... a casa. O «meu» Porto onde nasci há tanto tempo.

quinta-feira, maio 05, 2011

Fábula das duas rãs

É uma história sobre a persistência dos que não desfalecem. E é, também, uma viagem ao tempo dos milagres. Acima de tudo, esta crónica permitiu-me, sem ter dado conta disso quando a escrevi, exorcizar de vez um velho fantasma. Com ela dou início à minha colaboração no mundo solar das Boas Notícias.
Pequeno extracto:
«Fiquei sem palavras, assombrada diante dele. Tinha 24 anos e ainda hoje recordo a sensação da minha cara em chamas como se tivesse sido brutalmente esbofeteada. A dor, porém, era muito pior e doeu durante muito, muito tempo. Em segundos, aquele desconhecido desvalorizava totalmente o meu adorado trabalho e arrasava a minha identidade cultural. Por puro preconceito. Pior, ao fazê-lo nos termos em que o fazia, acusava-me implicitamente, de a troco de favores –obviamente sexuais –, ter conseguido em Moçambique e em Angola quem escrevesse por mim os textos que eu assinava
Para ler mais: Boas Notícias.

quarta-feira, maio 04, 2011

Parábola do amor mudo

- Lembro-te tão bem da primeira vez que te vi. Estávamos na praia, tinhas acabado de sair da água, o sol tinha sido inventado nesse dia para te fazer brilhar, lembras-te?
- Eu...
- E eu tinha acabado de comprar um gelado, um picolé, como lhe chamávamos naqueles tempos, e ofereci-to, estava embrulhado e tudo e tu...
- E eu...
- começáste a rir, a rir, a rir, e respondeste que não me conhecias de lado nenhum, e eu...
- E tu...
- apresentei-me, nome, idade, número do bilhete de identidade, morada, nome do pai e da mãe...
- A tua mãe onde...?
-  e depois descobrimos que o toldo ao lado do teu, do vosso, era de uns nossos amigos desde sempre...
- Os pais do Carlos Filipe ia mesmo perguntar-te...
- ... e fomos todos juntos jantar ao chinês, recordo-me de tudo. De tudo! O que vestias, como andavas, as covinhas no teu rosto, o ar amuado, a cicatriz na palma da mão, estavas no 6º ano do liceu, e...
- Estava no sétimo ano, porque...
- ...e eu ia ter contigo à porta do colégio, vínhamos os dois de mota, as freiras torciam o nariz...
- Já não eram freiras, saí das freiras no sexto-ano qua...
- ... mas nós não ligávamos nenhuma. Oh, que saudades, o que é feito de ti?
- Agora trabalho em...
- Sabes onde vivo, certo? Que coincidência, estes anos todos e nunca nos encontrámos. Afinal, estamos praticamente a viver na mesma cidade, em que zona vives?
- Muito perto de...
- Eu fiquei sempre na zona onde os meus pais viveram, porque...
- Ainda são vivos?
- ... vagou uma casa ao lado do Lucas, lembras-te do Lucas?
- Aquele rapaz de cabelo rui...
- Pois eu fiquei com a casa dele. Para o meu trabalho é ideal, sabes que sou...
- Não, não sei, adeus, adeus.
- Já? Temos tantas coisas para dizer um ao outro!! Espera! Não vás! Para onde vais?

ah, meu grande idiota, vou para um sítio onde possa gritar tudo o que não me deixaste dizer, nem quiseste ouvir, para chorar a minha decepção, movi céus e terra quando soube onde estavas, arranjei este pretexto para nos encontrarmos como por acaso, para saber o quanto de ti ainda existe em mim, e o quanto de mim tu carregas, mas tapaste a minha voz, amordaçaste as minhas palavras, e agora só me apetece gritar e dar-te pontapés...

- Espera! Espera! Espera por mim!!

-

segunda-feira, maio 02, 2011

Parábola do amor surdo

- Amo-te
- Muito?
- Nem tu sabes quanto.
- Dá-me uma medida de grandeza, para poder avaliar.
- Hã? Sabes que te adoro! Não chega? Amor não tem fita métrica, amor.
- Eras capaz de me dar um rim?
- Para que queres um rim?
- Sei lá, se eu precisasse. Eras?
- Passa-se  alguma coisa? Estás doente, amor?
- Não.
- Diz a verdade. Agora deixaste-me muito preocupado. Sabes que podes contar comigo para tudo, o que se passa?
- Nada, já disse. Era só para saber. 
- Tás a gozar comigo?
- Não. Estou a falar a sério.
- O que se passa? Deixaste de gostar de mim, é isso?
- Não, adoro-te seu tonto.
- Se gostasses de mim não te punhas com essas conversas parvas. Quem é o outro?
- O outro? Tás a viajar. Bolas, és insuportável.
- Desculpa, tu é que és. Se não estás a mangar comigo, estás no limite do irracional. Onde é que queres chegar?
- A lado nenhum. Agora nem me apetece falar mais contigo.
- Não ouviste nada do que eu disse, pois não?
- E tu?
- Hã???
- Nem respondeste se me davas a merda do rim. Que raio de amor é o teu?