domingo, janeiro 12, 2014

Aviso! Provocam adição compulsiva à leitura e à escrita

Transcrevo o texto que coloquei ontem no FB, na página das Oficinas de escrita:


Brian Dettmer, Knowledge in Depth, 2013
AVISO
 
«As nossas Oficinas de Escrita contêm substâncias indetectáveis, mas potencialmente perigosas, pois têm vindo a registar-se indícios de adição junto de alguns utilizadores, que se inscrevem sucessivamente em novos programas. Entre outros efeitos secundários, destaca-se a tendência acentuada, e nalguns casos compulsiva, para um significativo aumento de actividades como a leitura e a escrita biográfica, ficcional ou ambas. São também de assinalar outros sintomas, como o surgimento de ideias em turbilhão, que os participantes associam a projectos literários que desejam iniciar por sua conta e risco.»
 
Isto como corolário da conversa que encerrou ontem o ciclo de Universos Paralelos, já que todos os/as participantes manifestaram intenção de se inscrever no próxima. Vamos retomar as biografias, novamente com A minha vida dá um livro. E vamos também repetir Universos Paralelos para os e as apaixonadas da ficção. O livro virá a seu tempo. Será o 2º volume destas oficinas.
 
Novidades? Em breve. Muito em breve.

domingo, janeiro 05, 2014

O mais feroz de todos os amantes

A História é o mais feroz, o mais impiedoso dos amantes. Obriga-nos a aprender a amar de olhos abertos, sempre. A arrancar todos os véus. A escancarar todas as janelas e todas as portas. Sem medo, nem pudor.

A enfrentar o sol de olhos abertos.

Lembro-me do olhar aflito de ele: e agora? perguntava. As suas crenças mais profundas, erigidas em dogmas absolutos  de raiz singular, remontavam a outras raízes.  E agora?, repetia na sua aflição. Agora, reencontrava as suas crenças na fonte primeva. E relia as suas histórias sob a forma de outras histórias anteriores, quando o seu sistema de crença nem sequer existia. Quando os deuses que tutelavam civilizações muito mais antigas, eram outros.

E agora? dizia ele, na sua agonia, os meus originais são cópias de cópias de cópias. Histórias contadas em círculo e remontadas de mil e uma maneiras diferentes. E agora?, perguntava de olhos vazios, porque o original da sua fé era o fractal de muitas outras e para o perceber ele teria de recuar muitos passos, e avançar noutras direções, para tentar, um dia, como todos nós tentamos de uma forma ou de outra, conseguir ver o conjunto na sua deslumbrante totalidade.

O fulgor de um palimpsesto revelado em todas as suas camadas, não precisa de destruir nenhuma delas, porque todas elas, a uma nova luz, continuam a ser preciosíssimas. Mas essa nova luz, pode partir um coração mais fraco. Aprender, às vezes, rasga o peito.

A História apunhala-nos de frente. Faz-nos isto muitas vezes. Mas ao fazê-lo abre-nos caminhos novos, em novas direções. Sem limite de tempo, nem de espaço. Solta-nos. Corta-nos todas as amarras.

A História é o amante mais fiel.


Créditos de imagem: RIBEIRO JR., W.A. A "assembléia dos deuses". Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Disponível em http://greciantiga.org/img/index.asp?num=0397#fim. Cons. 05/01/2014.

quinta-feira, janeiro 02, 2014

Só gostas de mim porque respiro

Amas-me? Sim, amo-te. Muito muito, mas mesmo muito? Sim, amor, muito, muitíssimo. Quando eu for velha... vais continuar a amar-me? Vou. Sempre? Claro que sim. E quando eu morrer? O meu amor por ti não morre! E... vais amar-me da mesma maneira? Oh, amor... hum... da mesma maneira... seria difícil, não achas? Além disso, posso morrer primeiro, que raio de pergunta.

Ooooooooooh! Só gostas de mim porque respiro.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

A vida é um colar de instantes

Conheço a maldição da memória e a sua bênção.

Na primeira, os instantes somem-se num leito de areia seca, sem deixar rasto nem lastro. É a doença do esquecimento. Na segunda, brilha a luz dos tempos múltiplos. Mas nos seus caminhos solitários ocultam-se caranguejos descomunais, cujas pinças dilaceram as memórias para as tornar mais vivas, mais pungentes, mais esplendorosas. São as armadilhas da saudade.

A vida é um colar de instantes.


Cancer