Há oito dias, Domingo tantos do tal, Feira do Livro, com Carlos Poiares. Uma palestra, portanto. Com meia duzia de pessoas, e a Feira às moscas. Chuva, frio, vento. Livros. O Carlos Poiares é professor catedrádico, na Lusófona, onde dirige o departamento de Psicologia, dando aulas no mesmo curso. Ao ouvi-lo dissertar sobre o «caso clinico» de Maria Adelaide, e os meandros secretos da saúde mental, e seus avatares, tive vontade de ser aluna dele. E disse-lhe, recebendo de imediato autorizaçao para assistir às suas aulas.
Na verdade, as histórias que evocou eram exemplares. Referências a tomar em consideração: o pavilhão dos «loucos políticos» no Júlio de Matos, tutelado pela polícia secreta, ou melhor, pelo regime. Aliviavam-se as estatisticas dos presos politicos, com uma mão cheia de loucos, também eles lúcidos, cuja loucura era ter voz e ideais, noção pungente de justiça e injustiça. Coragem.
No final, duas senhoras vieram ter connosco. Uma delas, Ana Paula, trazia a biografia de Maria Adelaide, que estava a ler. «Viemos de Sintra, com este tempo, para a conhecer, e pedir-lhe que assinasse este livro. Sigo o seu percurso desde os Jardins Secretos de Lisboa. Sou de História, e imagino o trabalho que envolveu fazer esta biografia.»
Disse outras coisas que não vou reproduzir, mas deixo aqui a nota: estas palavras, esta persença, encheram-me de alegria. Num mundo onde é sempre muito mais fácil censurar, criticar, ignorar, recebermos este tipo de dádiva, generosa e anónima, é um tesouro.
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