sexta-feira, outubro 16, 2009

De novo para o Hospital Conde de Ferreira

«Sob uma chuva torrencial, montada a cavalo no «tal selim» e embrulhada num cobertor, Maria Adelaide teve sempre ao seu lado, a ampará-la, o Manuel. Não fosse ele e teria caído mais do que uma vez. Chegados à taberna para passarem a noite, tinham à disposição dois molhos de palha. Os agentes tinham ficado com a única cama disponível que havia. O frio era intenso, mas muito pior do que o frio era a multidão que enchera a venda. O sentimento de humilhação era esmagador. Sentada no chão, «como qualquer animal», sentia-se trespassada pelos olhares dos captores e dos curiosos, num ambiente «saturado do fumo do tabaco, do cheiro do vinho e da comida, um ambiente de taberna, enfim». Manuel queria convencê-la de que, por certo, não a levariam mais para o Conde de Ferreira, e Adelaide sentiu, mais forte do que a angústia, «rugir dentro de mim uma cólera indomável».
Tinha pedido, ainda no alpendre da casa do Alberto, que lhe mostrassem o mandato de captura. Só lho mostraram quando ali chegara. Lera-o à luz desmaiada de um sujo candeeiro de petróleo. Sem sombra de dúvida era o seu nome: Maria Adelaide Coelho da Cunha. E agora aqui a tinham, por ordem de Alfredo da Cunha, presa e guardada à vista na taberna do Rossão, «como qualquer gatuna vulgar». [Maria Adelaide Coelho da Cunha..., p. 141]

Nota: na imagem a porta da outrora taberna, no Rossão, onde passaram essa terrível noite Adelaide, Manuel e Alberto.

8 comentários:

Rock In The Attic disse...

Boa Tarde,
tenho este livro na minha lista de livros a comprar, mas ainda não o adquiri. Ao ler os excertos que aqui coloca, ainda fico com mais vontade de o ler. Será uma das próximas compras, certamente.

Manuela Gonzaga disse...

Fico muito contente por ter a «nossa» Adelaide na sua lista. Estas pessoas, o seu imenso amor e indomável carácter,são um orgulho para todos nós, portugueses. Obrigada pelo interesse.

Tétisq disse...

Eu já li e achei fantástico!
É maravilhoso que uma história que lemos e nos encantou possa ser tocada nos locais e objectos que restaram da realidade que foi esse Romance.

Manuela Gonzaga disse...

Muito obrigada pelas suas palavras! Uma avaria no computador impediu-me de responder mais cedo. MG

Anónimo disse...

Estou a ler o seu livro. Vou na parte em que ela regressa ao Conde de Ferreira. Estou a gostar!
Bjinho. Sílvia B.

Manuela Gonzaga disse...

Ah, está numa parte muito emocionante. Obrigada pelo feedback!

Anónimo disse...

Amei o romance de MARIA ADELAIDE COELHO DA CUNHA:DOIDA NÃO E NÃO!!
Só agora depois do falecimento de meu pai ARTUR LOPES CLARO,SOBRINHO DE MANUEL CARDOSO CLARO,POIS ESTE FOI IRMÃO DE VIRGÍNIA LOPES(MINHA AVÓ)OLHA COMO ESTE MUNDO É PEQUENO...
Quanta emoção saber que o motorista da MARIA ADELAIDE foi irmão da minha avó.
um grande abraço,
REGINA RODRIGUES CLARO

Manuela Gonzaga disse...

Regina obrigada pelas suas palavras. Percebo a sua comoçao. Afinal, esta história tão inspiradora ainda lhe toca mais perto porque corre na sua família! Abraço muito grande.