sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Tempo dos Milagres : O Jardim dos Desafectos

A minha nova nova crónica no nosso Boas Notícias:

 «Sufocada de espanto, olhava para aquele rosto de olhos fechados, as mãos cruzadas sobre o peito, o cabelo branco a emoldurar o rosto sereno, percebendo que de repente já não existia nada nem ninguém para habitar o memorial de desafetos que construíra em sua homenagem com todas as fibras do meu ressentimento. Afinal, e tal como suspeitara, eu gostava tanto dela e agora era tarde demais para colher uma gota que fosse do amor que lhe tinha. Um abraço sincero, um beijo de alma naquelas mãos quando ainda estavam quentes, teria bastado.»

 http://boasnoticias.clix.pt/noticias_Tempo-dos-Milagres-O-Jardim-dos-desafectos_14679.html

sábado, fevereiro 09, 2013

Sonho que sonho que sonho

Quando sonho que sonho sinto-me acordada. E esse é um momento de alegria indizivel. Depois, preciso fazer um esforço consciente para não acordar de vez ou não adormecer de todo, de forma a conseguir permanecer tanto tempo quanto possível nesse território inexplorado e sempre diferente, onde tempo e espaço jogam com cores e formas e densidades de uma fluidez pasmosa. Andar por ali, sabendo que se anda por ali, é da experiências mais exultantes e intrigantes que me, que nos, é dado experimentar.
É a aventura em estado puro, acordar no sonho sabendo que se está a dormir. 

sexta-feira, fevereiro 08, 2013

O meu primeiro livro publicado

Normalmente, a maravilhosa aventura de vermos o nosso primeiro livro editado e publicado, redunda na mais completa frustração. O jovem autor - mesmo que não seja tão jovem assim - está totalmente «verde» em relação aos meandros de uma indústria sobre a qual tem uma ideia muito romântica. Tudo isso, somado à gratidão que experimenta ao assinar o primeiro contacto de edição, «gostam do meu livro, vão publicar-me! Iupiii», conduz a uma relação sem futuro que terminará como terminam todas as relações desiguais.

É quase curricular que «O meu primeiro livro publicado» coincida com o primeiro grande desgosto no cursus honorum de um autor. As histórias que se ouvem e partilham neste campo davam para muitos outros livros. São lições que se colhem e, nesse sentido, têm uma grande utilidade. Mas aceitem este conselho do coração: não paguem, jamais e em circunstância alguma, para serem editados, a menos que se abalancem a uma edição de autor. Se um editor vos pedir dinheiro para publicar o vosso livro, não confiem nele nem na sua máquina de fazer dinheiro à vossa custa.Imaginam um merceeiro a exigir dinheiro ao agricultor para lhe vender as maçãs ou as batatas da sua produção? Mas escrever não é menos trabalhoso do que plantar batatas ou apanhar maçãs. Assim, se um editor invoca os dramas económicos da existência para não arriscar um eurito que seja na vossa obra, virem-lhe as costas. Na verdade, se ele paga à gráfica, à distribuidora, e a toda a máquina que envolve a indústria do livro, porque raios e coriscos o quer fazer a expensas do coração e do seu sangue que fazem girar a dita máquina, ou seja, a nossa escrita?

Em síntese, uma das primeiras lições que o autor aprende, e quando mais depressa a aprender melhor, é a dizer não. E a perceber que um contracto de edição, tal como todos os outros contractos, tem de ser favorável a ambas as partes. Leiam-no com todo o cuidado, e levem-no a um advogado que perceba de direitos de autor. Jamais assinem de cruz, na embriaguez de gratidão e alegria em que todos começamos por cair, nós os autores.

E em seguida, procurem um bom, um honesto, um empenhado e aguerrido editor/a. Acreditem que tal personagem existe e não desistam de o/a encontrar. Essa é, pode e deve ser, uma relação para a vida. Merece o nosso maior empenho.





Uma bela síntese de «Imperatriz Isabel de Portugal»

Acabo de ler, num blogue mais ou menos vizinho, uma bela síntese do meu último livro, com referências que só a biografia que escrevi disponibilizou «em bloco», digamos assim, e em linguagem acessível a todos, sem deixar de ser um livro académico.
Fiquei, naturalmente, contente. Gosto muito que esta ilustre «desconhecida» do grande público seja por este cada vez mais conhecida. O que achei menos correcto, mas não acredito que fosse por mal, foi o seu autor não referir a obra onde se baseou. Todos nós, todos nós repito, nos apoiamos uns nos outros quando acumulamos conhecimento ou quando o procaramos. Quando este não é do domínio geral, público portanto, só nos enobreve referirmos as fontes onde nos apoiámos. E uma vez que o autor do blogue em questão se diz interessado em História, deve seguramente saber que esta prática é um dos seus pilares.
Perdoem-me repeti-lo: Imperatriz Isabel de Portugal é em português, a primeira biografia da nossa infanta que foi rainha de Castela. E mesmo em espanhol as obras mais genéricas que ilustram a sua vida são muito poucas. Que eu conheça, houve uma biografia recente, e que refiro no livro, mas que deixa de fora muitos dos aspectos que iluminei. De resto, há ensaios, monografias, e muito, e bom!, trabalho académico em torno desta mulher exemplar. Mas, repito, contar a sua vida, como eu o fiz, cruzando tantas e tantas fontes e referências, não tinha sido feito ainda.