domingo, setembro 28, 2008

Quand vient la fin de l'été às vezes até chove


Quand vient la fin de l'été começa o Outono. Às vezes até chove. Ontem vimos a trovoada chegar a cavalo nas ondas. Estávamos no Oceano, da Arrifana (que bem se come ali!!). O céu estava dividido ao meio. Do lado do mar, escuríssimo e riscado de relâmpagos de cor violenta. Do lado da serra, muito mais claro. Estavam a dizer que o temporal vinha da Vila do Bispo. Depois viemos para casa, mas o D. saiu da quinta para ir a uma tasca qualquer, nas imediações, ver a bola. O Sporting perdeu, disse ele quando voltou, mas eu já estava quase a dormir.
Hoje não vai ser preciso regar o jardim.
Time to go home.

sábado, setembro 27, 2008

Encontro com o Rinoceronte e o Unicórnio

Trago o lago connosco, na versão holográfica do universo que comporta vasos comunicantes com as múltiplas dimensões do real. E preparo-me para o encontro marcado com o Rinoceronte e com o Unicórnio. Estou ligeiramente atrasada. Porém eles não se vão embora, e isso é um conforto.
Entretanto estou bastante às ordens de Maria Adelaide, mas creio que em dois meses cumprirei os seus desígnios a respeito da tarefa que me incumbiu de levar a cabo. Contar a história a sua vida. Uma honra que me tenho esforçado arduamente por merecer.




sexta-feira, setembro 26, 2008

Quand vient la fin de l'été




O calor fica diferente, a luz fica diferente, o cheiro é outro, os pássaros têm novas canções, o dia acaba mais depressa, muito mais depressa, as formigas organizam-se em exércitos e levam os dias a carregar sementes enormes para dentro das suas secretas cidades, o telefone chama de outra maneira, as conversas começam ou acabam sempre com "quando é que voltas?", os emails do poderoso e mágico círculo dos afectos vêm enfeitados de cintilantes solicitações, mesmo que não nos digam respeito, há noticias que furam a campânula dourada que nos preservou durante três semanas dos ecos estridentes das tragédias todas, próximas e remotas, dos medos colectivos e da ameaça brutal do fim do mundo das economias podres, e os pés já sabem que vão voltar à escravidão do sapato.
Essa é que é essa.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Os pés no chão em terra viva

Leio. E releio, por exemplo, Oliver Twist, que comprei numa Loja de Caridade aqui em Aljezur de onde também trouxe Shark Dialogues, de Kiana Davenport. Não sei quem é, mas chamou-me a atenção. Ou As Palavras e as Coisas, de Foucault. Céus, é denso de cortar a respiração. Precisamos de capacete e picareta para conseguir entrar, como nas obras, mas compensa. Até porque faz parte da minha "dieta" académica por vários motivos. Além disso, leio e releio as memórias da "minha" Adelaide, cuja biografia vai bem avançada, bem como uma porção de documentos e processos que lhe estão associados e que vieram comigo dentro de num grande cesto de plástico, com asas. Enfim, um belo sortido de géneros. Sem contar com jornais. E, uma vez por outra, as inevitáveis revistas do coração.
Entretanto há peixes no lago. Damos-lhes as sobras de pão do pequeno almoço. As grandes carpas vêm das águas escuras do fundo, e saltam agitando a superficie do lago, disputando entre si as codeas. Os minusculos peixes das margens, que comem as larvas dos mosquitos, organizam-se em constelações frenéticas em torno de migalhas. Ultimamente uma familia de patos mergulhões veio viver para aqui em carácter permanente. Ficam a nadar, no meio do lago. Se viermos embora aproximam-se e também disputam este festim. Pode-se ficar muito tempo nesta actividade, sem dar pelo tempo a passar. Há três semanas que não vemos televisão. Zero, nikles. Só uma vez em Monchique, porque o restaurante onde almoçámos tinha écrans por todo o lado. Muitas pessoas mastigavam em silêncio, olhando por cima dos ombros dos parceiros, para o que acontecia no mundo. Fazia muita impressão.

Tempo para ler... The Company

Ele lê. Um tijolão de um livro de mil e tal páginas. Deve ser muito interessante, porque o "tijolo" anda connosco para todo o lado. A saber, Robert Littell, The Company. Esta obra está para a CIA como O Padrinho, de Mario Puzzo está para a Mafia. Muito bem escrita, muito bem documentada, e muito absorvente... Diz ele. Acredito. Em meia dúzia de dias já vai a meio da obra. É obra.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Quinta do Lago Silencioso

O lago fica em frente deste terraço. Tem peixes, sim. O som deste silêncio é uma música feita de conversas de pássaros, zumbido de insectos, aragem nos canaviais. O cavalo de oito anos, mais a sua carroça e os caixotes de livros, desapareceu dos meus sonhos. As noites são densas, de repouso total. Este é provavelmente o local mais zen onde estive nos últimos tempos alargados. Começamos a habituar-nos a respirar esta paz. Praias a poucos quilómetros.
O lago é silencioso. O tempo parou.
http://www.quintadolagosilencioso.com/quinta.html

terça-feira, setembro 09, 2008

Por uma carroça de livros

Este cavalo tem oito anos e está a puxar uma carroça no meio do trânsito. A carroça tem caixotes e mais caixotes. Cheios de livros. O homem insensível está a carregar a carroça, sem contemplações. Ele tem um sorriso mau. O pequeno cavalo olha-me assustado. Meto-me no trânsito e desato a berrar contra o homem, mas o homem ri-se e puxa a carroça para sitios da estrada onde não consigo chegar, e eu no meio de riquexós e porshes, quase fico esborrachadinha. "Vocês não podem permitir isto!", grito para os condutores e para os transeuntes. Acordo a discutir, em inglês, com um casal de turistas, esparramados num riqxó, que olham embevecidos, e dizem que é tudo tão deliciosamente typical. Inclusivé uma mulher, eu, aos berros no meio do trânsito de uma cidade que parece um cruzamento entre o Rio de Janeiro e Nova Iorque, com um toque de Bombaim, por causa de um cavalo assustado a puxar uma carroça cheia de caixotes cheios de livros.
Resultado: larguei tudo e vim apanhar sol e dormir, e passear no campo. Estamos no Algarve, perto de Aljezur.
Mas na primeira noite:Martinhal. Fomos os últimos hóspedes. Em poucos dias vão demolir os pequenos apartamentos em frente da praia. Em dois anos, naquela paisagem de sonho, vai surgir um hotel pequeno. O projecto é muito bonito. Sagres é que não. É uma terra desolada.