Uma jornalista perguntou-me:
«porque escreve?»
Respondi: «porque tem de ser».
Podia acrescentar o que outro escritor disse, não me lembro quem, quando, onde:
«escrevo para me ver livre dos livros que estou a escrever».
A acabar a biografia da Maria Adelaide, penso no dia, na hora, no momento, em que me vejo livre desta obra. Ando com ela «às costas», na cabeça, na barriga, tropeço nela pela casa toda, comungamos o mesmo caos de papéis, cartas, documentos, livros, e depoimentos transcritos que consulto e cito, vejo e revejo. Estou empanturrada de fontes. Digestão intensa. Termo de gravidez. Trabalho de parto.
Há uma eternidade atrás -- três semanas? -- quando ainda estava no Lago Silencioso, a Andrea disse-me: «Quando chegaste aqui, a tua cabeça veio à frente. E estava muito maior do que o corpo». Se ela me visse agora. Se ela «nos»visse agora.
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