Mergulhada nas agruras sentimentais do consultório da revista Maria, passou-me ao lado a passagem dela pela rua, diante da montra do salão. "Oh, que pena", comentou a cabeleireira. "Não viu." Desfoquei a minha atenção do drama do pénis enorme do namorado da leitora da revista, a quem a psicóloga aconselhava (paciência? magia tântrica? ginástica pélvica?), e foquei-me no assunto empolgante que galvanizara o salão.
- Não vi o quê?
- Não é o quê, querida, é quem! Ela acabou de passar.
Deslizando rua abaixo, ao encontro dele. Linda e maravilhosa. Um corpo de sonho, coberto de roupa e sapatos e carteira de marcas caríssimas. Uma pele assombrosamente branca. Olhos azuis como jóias. Cabelo louro, comprido, de corte irrepreensível.
- Ela é sua cliente? - perguntei à morena, que esticava o meu cabelo em gestos precisos e automáticos.
- Que nada!! Ela não bota o pé em salãozinho de bairro. Aquela ali é tudo do bom e do melhor e do mais caro - retorquiu a brasileira.
Situei-me. Ainda não foi desta que a vi, mas sei de quem se fala. Ela é o bem-querer de ele, que a partilha com... o outro. Ela é jovem e linda. Ele é jovem e até podia ser bonito, só que as poucas vezes que o vi foi a chorar ou quase, e sempre em agonia. O outro é "o velho muito rico", que "banca ela". Pagando-lhe os estudos superiores. Oferecendo-lhe jóias, viagens, o carro esplêndido, a casa mobilada, o anel de noivado com o pedido de casamento anexo.
O rapaz não aceita esta triangulação. Entra no salão como quem vai à Igreja, e interpela a morena e pequenina mulher como quem está no confessionário. Ele não nos vê.
- Diga que ela me ama. Ela vai casar comigo, não vai?
A brasileira, que já não o pode ouvir, lamentando amargamente o dia em que lhe deu ouvidos e conselhos, leva-a à porta e despede-o:
- Quando quiser cortar o cabelo, eu corto, mas com marcação. Quando quiser falar da vida, telefone à sua mãe, aos seus amigos, ou arranje um psicólogo.
Depois volta-se para nós, que, querendo ou não, ouvimos tudo, detalha, e acrescenta:
- Desta vez, ele não vai ter cara para voltar.
Volta, sim. Todas as semanas. É por isso que estamos tão por dentro deste romance que ela desvirtua:
- Que romance que nada, minha gente! A menina só gosta dele pelo sexo. E só gosta do outro pelo dinheiro. É linda, inteligente e uma grande mulher. E ele é um parvo se pensa que ela vai largar o bem-bom, só porque ele comprou uma colcha nova para a cama onde os dois se deitam.
- Não vi o quê?
- Não é o quê, querida, é quem! Ela acabou de passar.
Deslizando rua abaixo, ao encontro dele. Linda e maravilhosa. Um corpo de sonho, coberto de roupa e sapatos e carteira de marcas caríssimas. Uma pele assombrosamente branca. Olhos azuis como jóias. Cabelo louro, comprido, de corte irrepreensível.
- Ela é sua cliente? - perguntei à morena, que esticava o meu cabelo em gestos precisos e automáticos.
- Que nada!! Ela não bota o pé em salãozinho de bairro. Aquela ali é tudo do bom e do melhor e do mais caro - retorquiu a brasileira.
Situei-me. Ainda não foi desta que a vi, mas sei de quem se fala. Ela é o bem-querer de ele, que a partilha com... o outro. Ela é jovem e linda. Ele é jovem e até podia ser bonito, só que as poucas vezes que o vi foi a chorar ou quase, e sempre em agonia. O outro é "o velho muito rico", que "banca ela". Pagando-lhe os estudos superiores. Oferecendo-lhe jóias, viagens, o carro esplêndido, a casa mobilada, o anel de noivado com o pedido de casamento anexo.
O rapaz não aceita esta triangulação. Entra no salão como quem vai à Igreja, e interpela a morena e pequenina mulher como quem está no confessionário. Ele não nos vê.
- Diga que ela me ama. Ela vai casar comigo, não vai?
A brasileira, que já não o pode ouvir, lamentando amargamente o dia em que lhe deu ouvidos e conselhos, leva-a à porta e despede-o:
- Quando quiser cortar o cabelo, eu corto, mas com marcação. Quando quiser falar da vida, telefone à sua mãe, aos seus amigos, ou arranje um psicólogo.
Depois volta-se para nós, que, querendo ou não, ouvimos tudo, detalha, e acrescenta:
- Desta vez, ele não vai ter cara para voltar.
Volta, sim. Todas as semanas. É por isso que estamos tão por dentro deste romance que ela desvirtua:
- Que romance que nada, minha gente! A menina só gosta dele pelo sexo. E só gosta do outro pelo dinheiro. É linda, inteligente e uma grande mulher. E ele é um parvo se pensa que ela vai largar o bem-bom, só porque ele comprou uma colcha nova para a cama onde os dois se deitam.
Sem comentários:
Enviar um comentário