Sentia-se tão parva com aqueles disfarçes, mas todos os anos instiam em mascará-la. Depois era o suplício das festas em casa de amigos que raramente se viam, e ela sempre a sentir-se muito mais crescida do que a gente pequena da sua idade. Depois o circo, ela que odiava circo, detestava palhaços e tinha horror aos animais escravizados que faziam piruetas. Finalmente, ficava furiosa com as fotografias que insistiam em tirar-lhe para "mais tarde recordar!". Esta, em Lisboa tem data de 1929.
E ela, que se recorda de muito pouco, reconhece a criança de nove anos vestida de holandesa que não era, e ri-se: "é verdade, estava danada." Tanto que escreveu mais tarde no verso da imagem isso mesmo. Há tanto tanto tempo. "Como o tempo passou!" - exclama, finalmente em paz com a miúda mascarada. Herdei estas aversões dela. Será que estas coisas passam nos genes? Afinal sou sua filha. E a minha filha sente exactamente o mesmo. Carnaval não é connosco.
PS: oh mãe, mas Carnaval nunca calha em Junho! Pois não. Mas gostaram tanto de me ver com este trajo que resolveram repetir, mais tarde, a foto em estúdio.
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