- Eu sou real e tu existes?
- Claro que sim, disse ele, estendendo-lhe os braços.
Ela encostou a cara à dele, e perguntou-lhe muito baixo:
- Consegues provar-me isso?
- De muitas maneiras, amor. A começar, provando-te. Ás dentadinhas.
Ela sacudiu-o. Parecia irritada.
- E aquilo que tu me disseste da Casa muito Escura onde tudo o que vemos, sentimos, cheiramos, tocamos, intuimos, adivinhamos, é processado para parecer ser o que achamos que parece que é?
- Ah!, isso. Bom, a realidade é muitas coisas, amor. Uma delas, é a fábrica onde processamos impulsos electricos e energéticos dando-lhes a forma, a aparência, atribuindo-lhe o conteúdo emocional...
- Sim, sim, já repetiste isso vezes sem conta. Mas essa Casa, então...
- Chama-se cortex, amor. É a sede da coisa.
- Que horror - ela estava quase a chorar - estás aqui, estás a dizer que somos todos fantasmas e que a realidade é um jogo virtual a três dimensões...
- Nunca te poderia dizer isso, amor, porque são muito mais dimensões do que três! É holográfico. E não, não somos um jogo cibernético, se fossemos éramos ainda feitos de zeros e de uns e nós já ultrapassámos essa fase.
- Jura.
- Juro. Isso, fomos nós em outras reencarnações. Lembras-te?
- Oh, não! Tu enlouqueces-me!
- É normal que não te lembres. Foi muito traumático. Tu tinhas sempre que me matar, e eu tinha sempre que fugir de ti de nível para nível. Não tinhamos opção. Safamo-nos desse circulo vicioso porque entupimos e violámos todas as regras da cibernética graças à bondade ou à estupidez do jogador, ainda não consegui descobrir. Mas agora estamos aqui e aqui é já plurireal.
- Numa Casa muito Escura.
- Isso mesmo, amor da minha vida.
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