Vi o Silêncio dos Inocentes há muitos anos. Por várias vezes quase abandonei a sala. Mas o filme, com dois atores fabulosos (Jodie Foster, Anthony Hopkins), tinha uma direção soberba (Jonathan Demme e resisti.
Nunca li o livro. Nem tive vontade. Não sou especialmente fã de horror, suspense e géneros adjacentes. Normalmente é má literatura.
Mas, entretanto, caíu-me no colo o início daquela que já é uma saga. Um pequeno livro (bolso), esquecido na Flor Fina, o cabeleireiro de bairro que frequento. Comecei a ler, logo ali. Entre verniz das unhas e escova no cabelo, alheei-me, desde as primeiras páginas, da voz das apresentadoras de um programa da tarde onde se discutia se as lágrimas das mulheres afastavam os homens, ou o contrário. Um painel de convidados debruçava-se sobre o assunto e havia depoimentos telefónicos ao longo do programa. Mais aterradores do que as páginas do livro onde mergulhei, emergindo a espaços. Uma mulher falava das tareias que levou durante 30 anos, e de como ficou lesionada de um rim por causa disso. Como se tudo isto fosse banal, e horrivelmente, é. São os serial killers domésticos que temos na silenciosa guerra civil que o poder e os cultos religiosos toleram, com o seu silêncio cúmplice ou envergonhado ou simplesmente preguiçoso e irresponsável.
De modo que Hannibal me conquistou de imediato. Uma criança particularmente inteligente, cujos primeiros anos de vida são passados no castelo que o seu antepassado, Hannibal the Grim (1365-1428) construiu. Uma mãe adorável, uma irmã mais nova que irá amar para sempre, um lago com cisnes e patos selvagens, professores particulares, que desenvolvem as capacidades daquele rapaz que percebe e fixa tudo, e que adora matemática. A guerra (II Guerra Mundial) na frente oriental precipita a vida de todos num pesadelo. Em poucos anos, da criança feliz resta um miúdo que perdeu a voz e todos aqueles que amava. De forma brutal. Aos nove anos, está preso por uma corrente de ferro ao pescoço, quase morto de fome no pavoroso orfanato instalado no castelo da família, quando o tio, um consagrado pintor, o descobre. De imediato, resgata a criança que leva para França onde com a ajuda da sua exótica e belíssima mulher, Lady Murasaki, Hannibal vai recuperar a voz e transformar-se num dos mais brilhantes alunos da escola médica de Paris.
Os fantasmas e os demónios, que nunca o abandonaram, transformar-se-ão no seu objetivo de vida. Um por um, aguardam-no, sem o saberem. E ele descobre a alegria, o prazer, o fascínio da caça ao monstro. Transformando-se ele próprio num.
Extremamente bem escrito, é de leitura compulsiva. A quem o esqueceu na Fina Flor, na mesa de trabalho da Maria, na Calçada do Combro, bem haja!
Nunca li o livro. Nem tive vontade. Não sou especialmente fã de horror, suspense e géneros adjacentes. Normalmente é má literatura.
Mas, entretanto, caíu-me no colo o início daquela que já é uma saga. Um pequeno livro (bolso), esquecido na Flor Fina, o cabeleireiro de bairro que frequento. Comecei a ler, logo ali. Entre verniz das unhas e escova no cabelo, alheei-me, desde as primeiras páginas, da voz das apresentadoras de um programa da tarde onde se discutia se as lágrimas das mulheres afastavam os homens, ou o contrário. Um painel de convidados debruçava-se sobre o assunto e havia depoimentos telefónicos ao longo do programa. Mais aterradores do que as páginas do livro onde mergulhei, emergindo a espaços. Uma mulher falava das tareias que levou durante 30 anos, e de como ficou lesionada de um rim por causa disso. Como se tudo isto fosse banal, e horrivelmente, é. São os serial killers domésticos que temos na silenciosa guerra civil que o poder e os cultos religiosos toleram, com o seu silêncio cúmplice ou envergonhado ou simplesmente preguiçoso e irresponsável.
De modo que Hannibal me conquistou de imediato. Uma criança particularmente inteligente, cujos primeiros anos de vida são passados no castelo que o seu antepassado, Hannibal the Grim (1365-1428) construiu. Uma mãe adorável, uma irmã mais nova que irá amar para sempre, um lago com cisnes e patos selvagens, professores particulares, que desenvolvem as capacidades daquele rapaz que percebe e fixa tudo, e que adora matemática. A guerra (II Guerra Mundial) na frente oriental precipita a vida de todos num pesadelo. Em poucos anos, da criança feliz resta um miúdo que perdeu a voz e todos aqueles que amava. De forma brutal. Aos nove anos, está preso por uma corrente de ferro ao pescoço, quase morto de fome no pavoroso orfanato instalado no castelo da família, quando o tio, um consagrado pintor, o descobre. De imediato, resgata a criança que leva para França onde com a ajuda da sua exótica e belíssima mulher, Lady Murasaki, Hannibal vai recuperar a voz e transformar-se num dos mais brilhantes alunos da escola médica de Paris.
Os fantasmas e os demónios, que nunca o abandonaram, transformar-se-ão no seu objetivo de vida. Um por um, aguardam-no, sem o saberem. E ele descobre a alegria, o prazer, o fascínio da caça ao monstro. Transformando-se ele próprio num.
Extremamente bem escrito, é de leitura compulsiva. A quem o esqueceu na Fina Flor, na mesa de trabalho da Maria, na Calçada do Combro, bem haja!
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