São histórias distintas. Em ambas, os homens recebem uma pequena herança que aplicam. Um,
compra ovos de pata, o outro, cristais diversos. O primeiro coloca os ovos numa
cesta, e vai para o
mercado apregoar a sua mercadoria. O segundo dispõe os cristais numa canastra, encosta-se a um
muro e põe-se a aguardar os fregueses. E, cada um deles começa a
sonhar. O primeiro sonha com o pequeno lucro que vai arrecadar com a
venda dos ovos da pata, o qual aplica a comprar mais ovos e a vendê-los e assim
sucessivamente, até criar as suas próprias patas, aumentando descomunalmente as
suas vendas. O segundo, discorre da mesma forma em relação aos cristais,
atingindo lucros fabulosos que lhe permitem aumentar a oferta de pingentes,
taças e artefactos finamente cinzelados.
Neste ponto, e quanto ambos se sentem suficientemente ricos,
sonham com a filha do sultão e decidem casar com ela. Vestidos como reis,
precedidos por escravos e eunucos e seguidos por cavaleiros que atiram moedas
de ouro à populaça, vão ao palácio do sultão a quem deslumbram com a riqueza
dos seus presentes. E dessa forma, atraem a sua benevolência conseguindo
facilmente que este lhes dê a mão da sua filha, bela como uma lua cheia.
O casamento é de contos de encantar, e segue a narrativa de
género com detalhes primorosos em ambos os casos. Entretanto, o
noivo, para marcar bem a imponência e a importância que a si próprio se
atribui, trata a noiva com o maior dos
desprezo. E em
ambos os casos, antes da consumação do matrimónio, quando ela, adorável e chorosa tenta chegar aos lábios do
noivo uma taça de licor para predispô-lo a olhá-la de frente, ele esbofeteia-a para a castigar pelo intolerável abuso da familiaridade.
O desfecho é idêntico. O
pontapé do bruto desfaz os ovos da pata, o gesto violento da besta quebra todos
os cristais da canasta. E, cada um em sua história, chora amargamente os sonhos
desfeitos em gemadas e cacos. Cada um deles, sonhando à medida das suas limitações, colheu em conformidade.
Eu adoro as Mil e uma
Noites.
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