Esta é a história de uma das mais emblemáticas infantas portuguesas, rainha de Castela e imperatriz do Sacro Império Romano Germânico pelo seu casamento com Carlos V, muito injustamente esquecida na memória dos povos. Do prefácio da obra, assinado por um historiador de referência que é já também um autor de culto, João Paulo Oliveira e Costa, extraio estas palavras:
«Manuela Gonzaga assumiu todos os desafios próprios desta
tarefa complexa e embrenhou-se nos primeiros quarenta anos do século XVI. Tomou
conta de uma menina recém-nascida, filha do rei de Portugal, e viu-a no seio da
sua família, compreendeu-a no âmbito da corte lusitana e explicou a conjuntura
extraordinária que o país vivia, rasgando horizontes e obtendo vitórias
militares em terras distantes aonde não haviam chegado nem Alexandre nem os
Césares. Um turbilhão de descobertas fazia de Portugal o centro do mundo, e o
retransmissor das novidades por toda a Cristandade. E o olhar da biógrafa de
Isabel, que foi infanta de Portugal, neta dos reis de Castela e Aragão, e
depois a Imperatriz, esposa de Carlos V e regente de Castela por longas
temporadas, cedo se estende a essa Europa pulsante da primeira metade de
Quinhentos.
Para lá das narrativas que nos ilustram o mundo de Isabel, a
autora cedo nos leva até ao íntimo da mulher, e por ela transporta-nos também
até aos que a rodeavam: pais e irmãos, mais alguns cortesãos portugueses; e
Carlos, mais os filhos; e as amigas e os amigos. E esta Isabel que nos é dada a
conhecer por Manuela Gonzaga, é mulher inteira, que sofre, que sonha e que ama.
Além dos afectos, vem-la como rainha embrenhada nos jogos políticos e nas
relações formais com os súbditos, ministros e conselheiros.
Acima de todos emerge Carlos, o esposo, e sintomaticamente a
autora optou por iniciar a sua narrativa no momento em que Isabel deixou
Portugal para ir ao encontro do noivo. Este casamento era sonhado pela Casa
real portuguesa desde que Isabel nascera, e sucedeu que os calculismos
políticos que juntaram Carlos e Isabel pelo matrimónio promoveram afinal uma
união amorosa, que não é invenção de jograis ou de romancistas, mas que nos é
testemunhada unanimemente pela documentação.
A biografia de Isabel de Portugal oferece-nos pois um olhar
sobre a Europa do início do século XVI com todas as suas transformações e
contradições - as lutas políticas, especialmente o longuíssimo braço-de-ferro
entre o Império e a França e o escandaloso saque de Roma; as questões
religiosas que levaram ao Cisma protestante, especialmente na Alemanha e na
Inglaterra; a rivalidade com o mundo islâmico e as guerras intermináveis no
Mediterrâneo; a progressão dos Conquistadores
pelas Índias de Castela e a chegada dos primeiros carregamentos de metais
preciosos americanos. Ao mesmo tempo assistimos aos jogos políticos
peninsulares, e principalmente aos problemas que obrigaram à intervenção de
Isabel enquanto regente.
Acompanhando a imperatriz, podemos apreciar também vislumbres
da vida quotidiana da corte na sua permanente itinerância, mais as festas ou o
sofrimento de Isabel ao dar à luz; assistimos aos momentos jubilosos da
dinastia, e particularmente da mulher, sobretudo de cada vez que celebra o
regresso de Carlos à sua companhia, e também as cerimónias fúnebres, incluindo
as de familiares próximos, desde a própria mãe até aos filhos pequenos que não
vingaram, para terminarmos com a doença, o passamento e as exéquias da própria
Isabel.» (em "Prefácio»
João Paulo Oliveira e Costa).