Guardaste-me tão bem, mas tão bem, que já nem eu própria acedo à memória de mim, a essa que cultuas no segredo dos teus pensamentos. Às vezes, deixas escapar uma frase, um poema, para que eu partilhe as migalhas do teu culto. No incêndio que traçam, essas palavras só me acordam uma breve melancolia. Por instantes, olho de frente a vertigem do passado. Nesses momentos invejo-te. Não nos fui tão fiel. Não te construi catedrais ou mausoléus. Os meus braços estão demasiado cheios de nada, os meus pés estão demasiado impacientes pelo seu insone caminhar. Onde guardo as formas de tudo o que fomos e somos? Num palácio semelhante ao que nos dedicaste. Mas depois perdi a chave e o mapa. Para lá chegar, só em sonhos que, creio bem, me envias para me acordar.
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