Entrei no quarto, ela estava a sair ao meu encontro. Linda, como sempre. Casaquinho encarnado, cabelo brilhante de tão branco, um branco que há muito dispensa tintas e outros cuidados para além do bom corte. Abraçou-me radiante. «Hoje estava cá com uma neura» - disse, manifestando a alegria que sempre manifesta quando nos vê. Estendi-lhe o livro. Ela voltou para trás, eu abri a persiana, o quarto dela dá para um pátio grande, há árvores e tudo, e ela olhou-o deslumbrada:
- Isto parece-me um milagre.
Depois sentou-se na cama, e eu, dispensando o sofá, sentei-me em frente dela. O livro tinha acabado de me chegar às mãos, exemplar único por enquanto, mas não tive tempo para o olhar em detalhe, na urgência de lho ir entregar. E de repente, também a mim me parecia um sonho que aquelas páginas de historias soltas que desde há um ano e meio fui escrevendo para ela, com as histórias dos nossos dias de há muito tempo, estivessem agora concluídas em livro, com a capa maravilhosa que ela não se cansava de olhar.
Depois, mostrei-lhes as fotografias que conseguimos reunir e que acompanham estes registos. «Ah, que bom, tem fotografias e tudo!!» E então, nomes de pessoas - às vezes só pelo apelido, ou pelo diminutivo - e nomes lugares começaram a fazer-se presentes na memória esquiva dela.
- Mas é um livro enorme! Quanto tempo demoraste a escrevê-lo?
Fez-me esta pergunta varias vezes, e de todas as vezes respondi-lhe como se fosse a primeira:
- Um ano e meio, mãe.
Quando, ao fim de um bom bocado me vim embora - aulas de escrita à minha espera, leituras urgentes que tenho de terminar e outros afazeres - ela não se importou nada. Estava agarrada ao livro.
- Tenho muito com que me entreter! Foi a melhor coisa que me podias ter dado. Parece-me um milagre.
Os olhos dela riam, a cara toda aberta num sorriso. Parecia uma criança. Voltei para casa a flutuar numa nuvem de indizível melancolia e ternura e felicidade.
- Isto parece-me um milagre.
Depois sentou-se na cama, e eu, dispensando o sofá, sentei-me em frente dela. O livro tinha acabado de me chegar às mãos, exemplar único por enquanto, mas não tive tempo para o olhar em detalhe, na urgência de lho ir entregar. E de repente, também a mim me parecia um sonho que aquelas páginas de historias soltas que desde há um ano e meio fui escrevendo para ela, com as histórias dos nossos dias de há muito tempo, estivessem agora concluídas em livro, com a capa maravilhosa que ela não se cansava de olhar.
Depois, mostrei-lhes as fotografias que conseguimos reunir e que acompanham estes registos. «Ah, que bom, tem fotografias e tudo!!» E então, nomes de pessoas - às vezes só pelo apelido, ou pelo diminutivo - e nomes lugares começaram a fazer-se presentes na memória esquiva dela.
- Mas é um livro enorme! Quanto tempo demoraste a escrevê-lo?
Fez-me esta pergunta varias vezes, e de todas as vezes respondi-lhe como se fosse a primeira:
- Um ano e meio, mãe.
Quando, ao fim de um bom bocado me vim embora - aulas de escrita à minha espera, leituras urgentes que tenho de terminar e outros afazeres - ela não se importou nada. Estava agarrada ao livro.
- Tenho muito com que me entreter! Foi a melhor coisa que me podias ter dado. Parece-me um milagre.
Os olhos dela riam, a cara toda aberta num sorriso. Parecia uma criança. Voltei para casa a flutuar numa nuvem de indizível melancolia e ternura e felicidade.
A mãe aos 28 anos, pouco antes de casar |
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