Há pouco
tempo, dois meses talvez, comecei a colocar trechos de um próximo
livro no meu mural do facebook. Tem sido uma experiência curiosa. Deslocados de contexto, estes pedaços de prosa poética se assim lhe quisermos
chamar e vários o têm feito, vivem por si, sem dar pistas.
Ou melhor, fornecendo uma multiplicidade de pistas. Já se avançou em
sugestões de título, palpites sobre o conteúdo no seu todo, e até sob o meu
próprio estado de saúde físico, psicológico.
E de repente, muitas pessoas reapareceram. Em mensagens privadas, em recados directos, ou mesmo por indirectas vias a inquirir sobre o meu estado:
Esta lua cheia de enganos
E de repente, muitas pessoas reapareceram. Em mensagens privadas, em recados directos, ou mesmo por indirectas vias a inquirir sobre o meu estado:
«Mas tu estás bem? Mas ela está bem?»
Obrigada!!! Estou, sim.
A narradora do meu próximo livro, porém, está a passar por um processo... cosmogónico.
Transcendente. Perceberão tudo, quando soltar o título. E mais ainda, quando
soltar o texto. Entretanto, continuarei
a deixar pistas neste caminho das pedras feito de palavras.
«Mas isto remete-me à questão inicial. Que nudez é a
minha, agora? Creio que é uma mistura de ambos os despojamentos. Consentido e
imposto. Assumo a última fronteira. Agora, sou só eu e a minha pele, sabendo
que sou muito mais do que a epiderme marcada e pálida que me cobre ossos e
músculos, e veias e artérias e órgãos. Como quase sempre, é preciso fazer
escolhas. Sem um arrimo que me sustente, perco-me nas margens do lago. De modo
que sou eu ou o meu trajar: e que importam os trajes se o corpo falece?
Segura bem nessa corda, querido. Se a soltares,
perco-me. Se a deixares quebrar, perco-me. Ainda me ouves? Eu já deixei de te
ouvir. O coaxar das rãs, à minha volta, é ensurdecedor. E o medo é grande. O
medo e o fascínio. Há uma beleza terrível neste lugar. Ouves o ruído das minhas
sandálias a caírem na água parada, uma após a outra? Fizeram um semicírculo no
ar. Duas pequenas setas brancas com reflexos de ouro, recortadas fugazmente no
negrume do céu estrelado, à luz desta lua cheia de enganos.
Ai, mas
tão bela.»
Manuela Gonzaga, em ????, a publicar.
Sem comentários:
Enviar um comentário