Quando o belo rapaz se foi embora, a bela menina decidiu vou chorar até esgotar todas as lágrimas, vou chorar até apagar a luz dos meus olhos, porque o dia se fez noite e a noite ficou eterna. Oh, que insanidade tamanha, disse-lhe a mãe, que lhe escutou os pensamentos. Pois não sabes que a ferida de um grande amor só se cura com a ferida de um amor maior ainda? Que lágrimas, que cegueira, que noite, que nada. Solta os teus cabelos, larga a os teus cuidados, e seca mas é os teus olhos para conseguires ver aquele outro rapaz tão belo que não tira os olhos de ti.
Oh, mãe, se eu curar a ferida de um amor tamanho com a ferida de um amor ainda maior, não mereço o dom de amar ninguém, nem por ninguém ser amada. Deixa-me com as lágrimas da minha cegueira, o meu coração trespassado e a noite dos meus dias, porque só assim mantenho vivo, e a sangrar, este amor que me morreu.
A mãe, com a sabedoria das mães muito antigas, não disse mais nada. Mas pensou: minha donzela afogada vive o adeus e a dor dessa morte, que eu cá sei muito bem da vida e do tempo, e vejo muito bem aquele outro rapaz tão bonito que não tira os olhos de ti. O tempo cura tudo. O tempo seca tudo. Até o rio da dor.
O tempo.
M. G. em Contos da Lua Vaga (a publicar)
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