terça-feira, setembro 28, 2010

Once upon a dog

A entrada de um cão na minha vida mudou totalmente as rotinas. Felizmente aconteceu em Agosto, numa Lisboa bastante pasmada e, com a grande migração do Estio, muito mais transitável.
Depois, as férias foram «negociadas». A Andrea ainda hesitou, mas depois acabou por admitir o nosso «amigo de quatro patas» na casinha da quinta. Rendeu-se à história que lhe contei com soma de detalhes... «coitado do cão, tá bem». E aqui estamos, há dez dias.

Já não passeamos para lado nenhum, sem tomar em atenção se ele pode, ou não, acompanhar-nos.
Já ficámos com o carro em fanicos porque uma noite, e durante dez minutos, o deixámos no carro enquanto, numa tasca aqui perto, parámos para tomar um café.

Já acordámos a meio de uma noite riscada de relâmpagos, seguidos de trovões impressionantes, com os seus quarenta quilos de músculo e pêlo a espremerem-se entre o mosquiteiro e a parede da nossa cama baixa, enquanto ele tentava abrir caminho para se enroscar no meio de nós.


Já corremos atrás dele na estrada nacional, por acaso com muitos carros a circularem, porque era Domingo, enquanto ele corria à toa, à nossa procura. Eu tinha saído para fotografar burros. E ele saltou pela janela atrás de mim. Tudo em segundos.

Falo com dúzias de pessoas que metem conversa comigo unicamente por causa dele. Do Timóteo. Em português, inglês, alemão, holandês, castelhano... . Pessoas com cães pela trela, ou em fotografias. Cheias de memórias, e às vezes de saudades como a senhora que rompeu em lágrimas enquanto me pedia no seu doce castelhano de andaluza, que a deixássemos afagar «el perro» que lhe fazia lembrar tanto, mas tanto!, os dois que tivera até há quatro meses atrás. Morrendo, um após o outro, com 14 e 18 anos, respectivamente.

Nunca, em quatro filhos que tive e tenho, e carreguei comigo para todo o lado, fui tão interpelada como  por causa deste novo membro da família. Aos meus bebés, as mulheres, e nem todas, achavam graça. Os homens, abstinham-se. Algumas pessoas de idade, nos jardins públicos onde passeava com eles, faziam perguntas e demonstravam interesse. Mães e pais de outros miúdos e miúdas interagiam por vezes mas apenas quando as crianças estabeleciam contactos entre si.

A República dos cães é outra realidade.

Sem barreiras, nem passaportes, nem diferenças de cor, de idade, de cultura, de sexo. Nada. Salta-se o muro, e corre-se para a fogueira e em segundos estamos todos sentados à volta a falar com uma espontaneidade de  nómadas. É uma coisa muito muito muito antiga. É um amor primordial e selvagem, este que liga a tribo dos que amam os animais.

quarta-feira, setembro 15, 2010

Timoteo got a family


primeiro o spa: banho profissional no Prazer do Cão.

depois, mais tarde, a visita ao veterinário: e a necessidade do chapéu.
o Tim virou um cãodeeiro.
finalmente, livre de dermatites e outras ites, um cão livre a feliz a correr na floresta
e pela vizinhança

O que é a moralidade, papá?

Well, it depends. Coronel Walter Kurtz would tell you this:
«They teach boys how to bomb villages with napalm – but don’t allow them to write the word 'fuck' on their airplanes.»(Apocalypse Now).

terça-feira, setembro 14, 2010

André e o Segredo dos Labirintos

«E foi nesta altura que o tigre resolveu irromper pelo quintal, com tanto entusiasmo ou tamanha falta de pontaria, que se enredou nas cordas dos varões, deitando ao chão os livros que ainda se encontravam ali. Finalmente, cuspiu um Ágis de rosto iluminado de alegria, que foi aterrar um pouco mais longe da barafunda criada pelo animal.
– Voltei!! – gritou o tigre, com uma corda de livros à volta do pescoço.
– Voltámos – secundo-o Ágis num tom de voz muito mais baixo.
Parecia mais crescido, mas continuava extremamente esguio. Desfizera-se das roupas com que André o conhecera, e vestia agora uma túnica branca, muito macia, que lhe chegava um pouco abaixo dos joelhos. Na cabeça, em vez do chapéu que o tigre lhe arrancara, usava um turbante amarelo. Nos pés, três tiras de couro e uma palmilha, faziam de sapatos.
Aproximando-se de André que ainda não tivera tempo de reagir, o rapaz pôs-lhe uma mão no ombro:
– Já sei como podemos salvar Violante. Mas precisamos, eu e o tigre, da tua ajuda. Para libertar a Dama do Lago.
– O tigre passou a ser teu? – André não conseguiu reprimir a pergunta, nem dissimular a inveja que sentia, mas Ágis pareceu nem se dar conta, porque lhe retorquiu com um sorriso cheio de luz:
– Tornamo-nos um, André. Separados, eu e ele, éramos incompletos e frágeis. Juntos, temos agora um poder imenso. Se soubéssemos por onde andámos! Quanto tempo achas que passou desde que saímos daqui?
– Muito – resmungou o rapaz. – Umas quatro horas, pelo menos.
– Aqui, sim. Mas num dos lugares onde ficámos, para eu aprender o que devia aprender, vivemos quase dois anos. Voltámos à terra onde o tigre nasceu, André. Estivemos na Índia. No planeta Terra de onde tu vieste.»

pequeno extracto da próxima aventura da colecção «O Mundo de André». Brevemente darei mais informações e irei postar a capa, identificando o autor da magnífica ilustração...

 

quarta-feira, setembro 01, 2010

um gato grande, gordo e amarelo

Era grande, gordo e amarelo. Era o gato mais gordo que conheci em toda a minha vida, disse ela. Era o gato da mãe e a mascote de uma família que adora felinos. Um dia a mãe foi-se deitar mais cedo do que era costume. O pai ficou na sala. Adormeceu no sofá de orelhas. Acordou com o gato grande e amarelo a  dar-lhe pancadas suaves na careca. Sacudiu-o e voltou a dormir. E voltou a acordar. E voltou a sacudir o gato amarelo. E voltou a dormir. À terceira vez ficou acordado. Sentou-se e olhou para trás. O gato estava parado à entrada do corredor. Miava, e sem desfitar os olhos, movia o corpo como se esperasse por ele para recomeçar a andar. O pai dela estranhou e foi atrás do gato amarelo até  à cama onde a mãe estava tão mal, mas tão mal, que nem conseguia falar quanto mais mexer-se. Depois veio o médico, a ambulância, o internamento no hospital.
Depois o médico disse à minha mãe, disse ela, que mais um pouco e ela não teria resistido.
O gato, gordo e amarelo, se até então era amado, passou a ser adorado e a familia teve um desgosto brutal quando ele morreu. O fim da história coincidiu com o fim da lavagem do meu cabelo no fantástico salão do Sandro, onde posso ir e levar o meu cão. A Paula, que tem gatos e cães e mora no campo, passou a partilhar estas e outras histórias de bichos desde que me vê com o Tim. E a seguir, enquanto o Sandro me penteava, levou-o até à porta onde, ainda de gola azul, ele se sentou a namorar os pombos.