Era grande, gordo e amarelo. Era o gato mais gordo que conheci em toda a minha vida, disse ela. Era o gato da mãe e a mascote de uma família que adora felinos. Um dia a mãe foi-se deitar mais cedo do que era costume. O pai ficou na sala. Adormeceu no sofá de orelhas. Acordou com o gato grande e amarelo a dar-lhe pancadas suaves na careca. Sacudiu-o e voltou a dormir. E voltou a acordar. E voltou a sacudir o gato amarelo. E voltou a dormir. À terceira vez ficou acordado. Sentou-se e olhou para trás. O gato estava parado à entrada do corredor. Miava, e sem desfitar os olhos, movia o corpo como se esperasse por ele para recomeçar a andar. O pai dela estranhou e foi atrás do gato amarelo até à cama onde a mãe estava tão mal, mas tão mal, que nem conseguia falar quanto mais mexer-se. Depois veio o médico, a ambulância, o internamento no hospital.
Depois o médico disse à minha mãe, disse ela, que mais um pouco e ela não teria resistido.
O gato, gordo e amarelo, se até então era amado, passou a ser adorado e a familia teve um desgosto brutal quando ele morreu. O fim da história coincidiu com o fim da lavagem do meu cabelo no fantástico salão do Sandro, onde posso ir e levar o meu cão. A Paula, que tem gatos e cães e mora no campo, passou a partilhar estas e outras histórias de bichos desde que me vê com o Tim. E a seguir, enquanto o Sandro me penteava, levou-o até à porta onde, ainda de gola azul, ele se sentou a namorar os pombos.