Ver, ver, ele não vê. Ele sente, detecta, encurrala e expulsa fantasmas. Basicamente, fareja-os num raio de muitos metros. Por exemplo, estamos a jantar, a conversar, a rir - porque ele é muitíssimo divertido - e de repente faz uma pausa e diz, hum hum, e saca do pêndulo, ou nem isso, e afirma com uma total convição:
- Vocês têm aqui um espectro.
A seguir passeia pela casa, que ainda é grande, e encontra-o. Normalmente acaba por descobrir mais um ou dois aninhados em cantos junto de tomadas de corrente - «por causa da energia», explica - e depois faz a cena dele. Que é como quem diz, manda-os dar uma curva. Ninguém, além dele, vê, sente, pressente, seja o que for. Nem o cão. Mas é irresistível segui-lo, não muito perto, porque ele não deixa, enquanto abre janelas, estala os dedos, fala com o invisível, e limpa o nosso lar.
- Não é por nada - explica - é por tudo. Os espectros sacam uma data de energia às pessoas. Aí por volta das três, quatro da manhã, acordam da letargia, e colam-se à malta, a sugar o mais que podem. Muitos pesadelos que as pessoas têm é por causa disso.
A princípio, sentíamos uma espécie de medo. Não por causa do invisível, mas pelo visível deste aparato. Olhávamos um para o outro, ou uns para os outros, ou tentávamos nem olhar de todo, a fazer de conta que é tudo muito normal, apesar do friozinho no estômago, ou do desconforto da antevisão de grades nas janelas e camisas de força... «estamos todos doidos, é isso?».
- Eu estou, de certeza absoluta - responde ele.
Tem um maravilhoso sentido de humor, um belo apetite e um enorme coração. E uma incrivel acutilância em áreas de acesso restrito. Nas últimas vezes tem falado de algumas das suas viagens que são tão extraordinárias como tudo o resto. Mas agora, nada do que diz ou faz nos perturba. Gostamos dele. Gostamos mesmo muito dele. Ele é como é, e aceitamo-lo inteiramente assim. Com o seu universo de invisibilidades e probabilidades e outras singularidades, entrou no nosso pequeno mundo, abencoou-nos com a sua amizade, e alargou decididamente o meu, o nosso, irreal quotidiano.
- Vocês têm aqui um espectro.
A seguir passeia pela casa, que ainda é grande, e encontra-o. Normalmente acaba por descobrir mais um ou dois aninhados em cantos junto de tomadas de corrente - «por causa da energia», explica - e depois faz a cena dele. Que é como quem diz, manda-os dar uma curva. Ninguém, além dele, vê, sente, pressente, seja o que for. Nem o cão. Mas é irresistível segui-lo, não muito perto, porque ele não deixa, enquanto abre janelas, estala os dedos, fala com o invisível, e limpa o nosso lar.
- Não é por nada - explica - é por tudo. Os espectros sacam uma data de energia às pessoas. Aí por volta das três, quatro da manhã, acordam da letargia, e colam-se à malta, a sugar o mais que podem. Muitos pesadelos que as pessoas têm é por causa disso.
A princípio, sentíamos uma espécie de medo. Não por causa do invisível, mas pelo visível deste aparato. Olhávamos um para o outro, ou uns para os outros, ou tentávamos nem olhar de todo, a fazer de conta que é tudo muito normal, apesar do friozinho no estômago, ou do desconforto da antevisão de grades nas janelas e camisas de força... «estamos todos doidos, é isso?».
- Eu estou, de certeza absoluta - responde ele.
Tem um maravilhoso sentido de humor, um belo apetite e um enorme coração. E uma incrivel acutilância em áreas de acesso restrito. Nas últimas vezes tem falado de algumas das suas viagens que são tão extraordinárias como tudo o resto. Mas agora, nada do que diz ou faz nos perturba. Gostamos dele. Gostamos mesmo muito dele. Ele é como é, e aceitamo-lo inteiramente assim. Com o seu universo de invisibilidades e probabilidades e outras singularidades, entrou no nosso pequeno mundo, abencoou-nos com a sua amizade, e alargou decididamente o meu, o nosso, irreal quotidiano.
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