terça-feira, julho 10, 2012

sexo explicito e biografias


Há uns dois anos, um grupo de leitoras honrou-me com um convite para um jantar temático em torno das refeições de Maria Adelaide Coelho da Cunha, com o pretexto da sua biografia. Como da muita riqueza, a Senhora de São Vicente passou à muita pobreza – que felizmente ultrapassou ao lado do seu Manuel Claro – as leitoras viram-se aflitas para pescar uma refeição satisfatória. Encontraram-na sem dificuldade, nos tempos em que os dois viveram um idílico maravilhoso na aldeia do Rossão. Época de muito amor e muita fartura, e saborosas feijoadas. E feijoada jantámos. Por fim, o diálogo. Uma questão prendia-se com a ausência de descrições de carácter erótico, numa história de amor que se percebia ser intensa, tórrida, fatal. Ora se aquele romance tinha tudo… porque motivo a autora, eu, tinha ficado à porta da alcova? Não era uma crítica, era uma perplexidade.
Eu adoro quando chamam «romances» às minhas biografias. É um elogio imenso. Mas se me estou a reportar a factos, não quero, não devo, não consigo, falsear as regras. Além disso, tudo está lá. A começar pelas tardes em que Adelaide sai do palácio com a desculpa da neurastenia e vai passear a pé até à baixa, regressando a casa à hora do jantar. Os processos de tribunal, que consultei, colocam-na nesses tempos e nessas horas, num quartinho esconso na Rua de São Nicolau, onde se encontrava com o Manuel. Bem como as referências que ela faz ao preço que teve de pagar pelos «nossos beijos». Santo Deus, isto é tão erótico. Em 1920! Não é difícil imaginar o resto, e nem sequer é precisa muita imaginação. Encher páginas com arroubos e suores, gemidos e uma confusão de corpos nus e arfantes, quando não há testemunhos orais ou escritos que suportem a narrativa, está para lá do que posso ou quero ousar. Porque as pessoas cuja intimidade desvelo, existiram mesmo.
Outro tanto não digo quando os personagens saem diretamente do poço sem fundo da imaginação onde nadam nas misteriosas águas do indiferenciado à espera de se fazerem história. Já no romance tenho essa liberdade.
Preconceito? Medo? De forma alguma. Coerência e fidelidade. Quando necessário, as palavras não me faltam. Nem a vontade de as organizar em descrições. Mas esse é outro debate. 
Kama-sutra à Khajuraho. Um caderno de viagens com uma bela explicação destas imagens.

2 comentários:

António Maia disse...

gosto muito de leitura que me emociona, a erótica também ahahah muito, como em tudo, se tiver qualidade... adorooo

Manuela Gonzaga disse...

Literatura erótica é muito bom. De repente vários nomes vêm-me à cabeça. Anaïs Nin à cabeça de todos. Tenho de relê-la urgentemente, que saudades.