domingo, novembro 18, 2012

Ida da Imperatriz D. Isabel para Castela


 A descrição da viagem de D. Isabel para os seus novos reinos, e tudo o que se passou durante os quase dois meses que demorou até se encontrar face a face com o seu marido, Carlos I de Espanha, Carlos V do império, encontra-se publicada. O pequeno e precioso livro que a contém saltou praticamente para as minhas mãos quando vasculhava pilhas de livros num alfarrabista perto de casa. O ano de 2008 a chegar ao fim, e eu às voltas com a publicação de Maria Adelaide Coelho da Cunha «Doida não e não!», jurando a mim própria que só voltaria às biografias muitos anos mais tarde.

O pequeno livro, na sua origem uma palestra, nem sequer estava caro. Para todos os efeitos era uma raridade e continha/contém um manancial de informação de cortar o fôlego. Recordando: a 8 de Maio de 1919, A. Braamcamo Freire leu aquilo que chamou de um «pequeno quadro histórico» na sessão ordinária da Classe de Letras da Academia das Ciencias de Lisboa. Tratava-se de um memorial, se assim se pode dizer, de D. Isabel de Bragança e Habsburgo, com as «cenas do casamento» real por poderes, em Almeirim, as festas ali realizadas, e a sua ida para Castela para se reunir ao marido. Posteriormente, esse trabalho seria publicado, nele se incluindo um rico acervo documental onde se incluem as cartas do marquês de Vila Real, D. Pedro de Menezes, a D. João III, que o encarregara de entregar D. Isabel ao marido, velando e zelando por ela até essa entrega estar concluída. 

Carta por carta, transcritas em anexo documental, seguíamos como se fosse agora, as minúcias, os melindres, as expectativas, as ofensas e as alegrias que se foram sentindo na real comitiva, durante a longa viagem. E ali estava, relatado com muita circunsppecção, o episódio de que D. Pedro de Menezes dá testemunho: aquelas «lágrimas» que a jovem imperatriz não conseguiu conter quando, dois dias depois de se terem despedido, perto da Chamusca, ficou na sua liteira a ler e a reler as cartas do irmão. 

E eu lia e relia e absorvia aquela informação e procurava outra que a complementasse, para além das biografias de referência e outros estudos que, evidentemente, já tinha, e, quando dei por mim estava «ao serviço» da nossa Isabel de Portugal. Tentei, juro que tentei, afastar este trabalho, e agendar a biografia para anos posteriores, optando pelo romance que dá uma liberdade infinidamente maior. Impossivel. E A. Braamcamp Freire, grande historiador, entre nós o primeiro a resgatar a memória da filha predilecta de D. Manuel I, é o grande responsável e este seu livro, de 140 páginas (a Biblioteca Nacional, entre outras, tem-no), mudou a minha vida nestes ultimos três anos. A ignição da obra aconteceu em 2004 graças ao historiador Manuel Fernández Álvares e às suas biografias referenciais de Carlos V, Filipe II e Joana, a Louca. Com A. B. Freire, engatei em primeira e foi impossível parar o processo. Até porque depois consegui  comprar na net um outro livro imprescindível para a prossecução da obra. Vou falar dele em breve.
Ref.  Anselmo Braamcamp Freire, (1920) – «Ida da Imperatriz D. Isabel para Castela», separata do Boletim da Classe de Letras da Academia das Siciências de Lisboa, vol. Xiii, nº 2, Coimbra, Imprensa da Universidade

Sobre Braamcamp Freire, «historiador, municipalista e republicano» e citando Jorge Martins em O Leme (consultada a 18/11/2012):
«A obra historiográfica de Braamcamp Freire mantém ainda hoje uma enorme importância para os investigadores. Os medievalistas e os genealogistas não dispensam a consulta dos Brasões da Sala de Sintra. As dezenas de artigos e particularmente os documentos inéditos, publicados no Arquivo Histórico Português, a primeira grande revista portuguesa de História, têm um valor inestimável para os historiadores contemporâneos. A sua obra granjeia-lhe enorme prestígio, que lhe permite tornar-se Presidente da Sociedade de Geografia e da Academia das Ciências de Lisboa.»

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