sexta-feira, setembro 27, 2013

O voto? Sim, o voto.

Por uma vez, rara, trago um post meu do facebook para aqui. Ao escrever isto, sinto-me de certa forma a Cassandra, que na iminente tragédia de Tróia, ainda possível de ser evitada se os troianos estivessem atentos, foi condenada a que ninguém a ouvisse. E os que a ouvissem, a não acreditarem na sua voz.
O ponto. A democracia, a nossa, e não só a nossa, está por um fio. Porém, ainda existe porque ainda existem os mecanismos que a podem acionar. Até quando? Com demissões em bloco,  e a indiferença total pela coisa pública, por muito pouco tempo já. Aliás, o apelo ao não-voto é o melhor serviço que se pode fazer a uma oligarquia à espera de vez para institucionalizar a ditadura previsível. Depois, será uma questão de tempo.
Por isso, lembro-me sempre desta quando aparece alguém a dizer, orgulhosamente, cá eu não voto, tenho coisas mais importantes para fazer e «eles» são todos iguais. Infelizmente, a memória colectiva dos povos é muito curta, e a das pessoas infinitamente mais.
Era uma vez um povo ferozmente livre e orgulhoso da sua invenção de liberdade. Era um povo tão individualista que se autogovernava de muitas formas diferentes. Claro que aquela era uma liberdade muito particular, como todas as formas de liberdade. Escravos não contavam, e mulheres, qualquer que fosse a sua condição também não. Entretanto, essa federação de liberdades que conhecemos como cidades-Estado começou a andar muito agitada. As mais poderosas, como Atenas, estavam a braços com guerras intestinas. Havia sinais de perigo por todo o lado. Mas o individualismo era tão feroz, e a liberdade de todos era tida por tão segura e inviolável, que de uma forma ou de outra, os seres livres, votantes e pensantes, desistiram da política. Haveria sempre alguém para tomar conta do assunto.
E houve. Desunidos, os gregos foram invadidos por Filipe da Macedónia, um ‘bárbaro’, que os conhecia muito bem porque fora educado em Tebas. A este sucedeu o seu filho Alexandre o Grande, que de uma forma ou de outra, os transformou a todos em escravos. A Grécia, a Grande Grécia clássica, morreu quando desistiu. Ficou o legado, milenar, sem dúvida. Mas a liberdade foi-se.
Posto isto, «obrigada» aos que propagam que é melhor ler livros e ficar em casa. Lutou-se tanto pelo direito ao voto para chegarmos a isto.

terça-feira, setembro 17, 2013

Querido mês de Setembro

Amigos que chegam de muito longe mas que estão sempre perto. Os filhos nómadas que estão sempre connosco, mas que ainda estão mais quando se materializam e andam por aqui como se nunca se tivessem ido embora, porque nunca foram. Para nós, não. E os filhos que vemos mais vezes, para nossa alegria, porque é de outra natureza o seu, deles, nomadismo.

Uma campanha política, a primeira em que me envolvo de corpo e alma, porque o PAN, Partido pelos Animais e pela Natureza - e pelas Pessoas, mais do que um partido é um inteiro. É uma constelação de causas em que acredito de todo o coração.

O recomeço dos trabalhos de grupo no Centro de História de Além-Mar - back to Mesopotâmia.

As aulas das minhas Oficinas de Escrita - com o seminário «A minha vida dá um livro» e a preparação do próximo tema, cujo início será em meados de Outubro, «Elegias do amor e do ódio».

O reencontro com amigos e amigas que subitamente reaparecem ao fim de anos de «viagem» por outros irreais e reais quotidianos e com quem nunca deixámos verdadeiramente de estar, porque nem só de proximidades muito próximas se fazem os afectos.

A palestra sobre São Francisco, que está quase pronta, e que é já para o principio de Outubro.

As minhas crónicas, em ID e no Boas Notícias. O meu livro, que abrandou nas ultimas semanas, mas a que quero voltar o mais depressa possível.

Tinha tudo que acontecer agora? Tinha e tem. A vida é, também, este inesperado ou aguardado acontecer. A vida é um sobressalto de marés à superfície do nosso Mar da Tranquilidade. Esse a que recorro para encontrar forças quando a agitação é excessiva e quando a intranquilidade e a incerteza nos apertam as entranhas e roubam o sonho e o sono das horas de dormir.

Estamos todos no mesmo barco. 

sábado, setembro 14, 2013

Querem escrever?

Escrever é difícil. Escrever dá muito trabalho. Escrever implica persistência. Insistência. Teimosia e paixão. Inconformismo. Alegrias grandes e êxtases breves. Angústia. Cansaço. Poucos proventos. Pouco reconhecimento público, e raro reconhecimento daqueles que começamos por achar serem os 'nossos pares'. Não são. Um criador é livre, não tem pares nem ímpares. É singular. Mas mesmo assim queremos tanto fazê-lo que nada nos demove?
 
É desta massa que se faz o escritor, o poeta, o pintor, o artista. Se vos prometerem facilidades, não acreditem. Acreditem apenas nos que vos mostram o caminho, quando para vós esse caminho faz sentido. Depois, estamos por nossa conta e risco. Mas se encontrarmos quem nos acompanhe nos primeiros passos vacilantes, e nos corrija o leme, e nos aponte escolhos, ensinando-nos a identificarmos portos, praias, marés, baixios, faróis, luzes de presença e mapas das estrelas já é muito.
 
Querem escrever? É por aí que vão andar. Em solidão acompanhada. Sem garantias de coisa nenhuma. A não ser a da estrela que cada um vai ter de aprender reconhecer como sua. E essa tem uma força que vale por tudo.
 
«HQ ondas de tempestade mar, céu, nuvens, chuva, chuva, um raio do farol, os elementos de luz»
 

sábado, setembro 07, 2013

Velhos e velhas, os criminosos que o Estado persegue

Afinal há justiça. Muitos criminosos estão a ser perseguidos e punidos de forma exemplar por delitos muito graves. É fácil detectá-los. São velhos e velhas que vivem de reformas de miséria, no interior cada vez mais desertificado do País. Uns, pegam no excesso de ovos caseiros que as suas galinhas produzem e vendem-nos. Sem recibo. Outros fazem pão no forno comunal e vendem-nos. Sem recibo. Outros ainda, dedicam-se aos seus crimes de volta do fogão, fazendo bolos e vendendo-os aos pequenos cafés locais. Sem recibo. Este estado de coisas, graças ao empenho das autoridades, está a terminar. Vejam como tudo começou e como tudo acaba ao longo de um artigo fundamental de que citamos uma pequena parte.
Procura-se mulher perigosa, com reforma de miséria, que faz bolos em casa e os vende sem recibo

«É que, e ao contrário de Espanha, Portugal não negociou acordos especiais para quem tem pequenos negócios. As consequências: toda a produção em pequena escala - cafés, restaurantes, lojas e padarias que tornam este país atractivo - é de facto ilegal. Só existem duas hipóteses, ou legalizam o seu comércio tornando-se grandes produtores ou continuam como fugitivos ao fisco. Até agora e de certa forma, isto era aceitável em Portugal mas neste momento, parece que o governo descobriu os verdadeiros culpados da crise: o homem modesto e a mulher modesta como pecadores em matéria de impostos. Como resultado, as autoridades fecharam uma série de casas comerciais e mercados onde dantes eram escoadas os excedentes das parcas produções dos pequenos produtores e transformadores, que ganhavam algum dinheiro com isso, equilibrando a economia local.»

Para ler o artigo na íntegra: Leila Dregger, «SUBSISTÊNCIA É RESISTÊNCIA» em Transição e Permacultura Portugal

sexta-feira, setembro 06, 2013

Moby Dick

Da minha colaboração com Boas Noticias, onde comecei com a crónica a que tão prazerosamente chamei «Tempo dos Milagres» passei muito recentemente para uma crónica literária, que iniciei com um dos livros que tenho por «Farol» na minha vida. Moby Dick.
Ambroise Louis Garneray, Pêche de la Baleine, engraved by Edouard Travies (n.d.). (Image courtesy of the Hart Nautical Collection, MIT Museum.)

Descobri-o tarde, aí por volta dos meus 30 anos. Preconceituosamente, assumira o preconceito de que aquela obra de catalogação impossível era literatura «para rapazes». Em nossa casa, nos tempos de infância,  havia uma adaptação justamente inserida numa colecção com esse nome. Nada mais impróprio. É como se dizer que o Principezinho é literatura infantil, ou  Jane Austen autora de livros para senhoras. Ora, Moby Dick escapa a todos os arpões que se lancem para o rotular. Menos a um só, consensual. É uma obra prima da literatura.

Deixo apenas umas linhas da minha crónica onde reproduzo um irresistível extracto da obra. As  palavras que me prenderam no arpão da trama. Para sempre:

«Tratem-me por Ismael - Há alguns anos – não interessa quantos – achando-me com pouco ou nenhum dinheiro na carteira, e sem qualquer interesse particular que me prendesse à terra firme, apeteceu-me voltar a navegar e tornar a ver o mundo das águas. É uma maneira que eu tenho de afugentar o tédio e de normalizar a circulação. Sempre que sinto um sabor a fel na boca; sempre eu a minha alma se transforma num Novembro brumoso e húmido; sempre que dou por mim a parar diante de agências funerárias e a marchar na esteira dos funerais que cruzam o meu caminho; e principalmente, quando a neurastenia se apodera de mim de tal modo que preciso de todo o meu bom senso para não começar a arrancar o chapéu de todos os transeuntes que encontro na rua – percebo então que chegou a altura de voltar para o mar, tão cedo quanto possível. É uma forma de fugir ao suicídio.»

Para ler a recensão inteira: Moby Dick...

Ficha Técnica: MELVILLE, Herman (1962) – Moby Dick, trad. Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves, Lisboa, Editorial Estudios Cor.

quinta-feira, setembro 05, 2013

Somos PAN, o partido do Inteiro Amor.

Para quem como eu, nunca esteve por dentro dos meandros de um partido político - a não ser como jornalista, em anos muito idos - fazer parte do arranque de uma campanha eleitoral é estranho, emocionante, divertido, cansativo e muito curioso. Não necessariamente por esta ordem. E nem sempre com esta adjectivação.

Já expliquei várias vezes aos meus amigos - que de resto percebem muito bem esta minha opção - que o que me aproxima do ideário do Partido dos Animais e da Natureza, é justamente não me sentir num «partido» mas num «inteiro». O PAN é... abrangente. Ou como diz o Paulo Borges, «é um partido de tudo e de todos». Holístico, em suma - que raio de palavra dirão muitos, mas aprendam-na porque é maravilhoso alargar o leque vocabular. É como provar novos sabores, doces ou salgados, exóticos ou nem isso.

E então, lá estivemos a organizar as nossas manifestações de acordo com a filosofia muito pessoal que nos orienta. Somos pelas Causas. Pessoas, animais e natureza, a perfeita triangulação. Somos pelas cidades à medida dos homens. Somos pelos homens à medida da natureza. Somos pelos animais porque alguém tem de ser a sua voz tao desprezada. Somos pelos sem voz: todos eles. E somos uma voz a crescer.

Somos o partido do Inteiro Amor.