Da minha colaboração com Boas Noticias, onde comecei com a crónica a que tão prazerosamente chamei «Tempo dos Milagres» passei muito recentemente para uma crónica literária, que iniciei com um dos livros que tenho por «Farol» na minha vida. Moby Dick.
Descobri-o tarde, aí por volta dos meus 30 anos. Preconceituosamente, assumira o preconceito de que aquela obra de catalogação impossível era literatura «para rapazes». Em nossa casa, nos tempos de infância, havia uma adaptação justamente inserida numa colecção com esse nome. Nada mais impróprio. É como se dizer que o Principezinho é literatura infantil, ou Jane Austen autora de livros para senhoras. Ora, Moby Dick escapa a todos os arpões que se lancem para o rotular. Menos a um só, consensual. É uma obra prima da literatura.
Deixo apenas umas linhas da minha crónica onde reproduzo um irresistível extracto da obra. As palavras que me prenderam no arpão da trama. Para sempre:
«Tratem-me por Ismael - Há alguns anos – não interessa quantos – achando-me com pouco ou nenhum dinheiro na carteira, e sem qualquer interesse particular que me prendesse à terra firme, apeteceu-me voltar a navegar e tornar a ver o mundo das águas. É uma maneira que eu tenho de afugentar o tédio e de normalizar a circulação. Sempre que sinto um sabor a fel na boca; sempre eu a minha alma se transforma num Novembro brumoso e húmido; sempre que dou por mim a parar diante de agências funerárias e a marchar na esteira dos funerais que cruzam o meu caminho; e principalmente, quando a neurastenia se apodera de mim de tal modo que preciso de todo o meu bom senso para não começar a arrancar o chapéu de todos os transeuntes que encontro na rua – percebo então que chegou a altura de voltar para o mar, tão cedo quanto possível. É uma forma de fugir ao suicídio.»
Para ler a recensão inteira: Moby Dick...
Ficha Técnica: MELVILLE, Herman (1962) – Moby Dick, trad. Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves, Lisboa, Editorial Estudios Cor.
Ambroise Louis Garneray, Pêche de la Baleine, engraved by Edouard Travies (n.d.). (Image courtesy of the Hart Nautical Collection, MIT Museum.) |
Descobri-o tarde, aí por volta dos meus 30 anos. Preconceituosamente, assumira o preconceito de que aquela obra de catalogação impossível era literatura «para rapazes». Em nossa casa, nos tempos de infância, havia uma adaptação justamente inserida numa colecção com esse nome. Nada mais impróprio. É como se dizer que o Principezinho é literatura infantil, ou Jane Austen autora de livros para senhoras. Ora, Moby Dick escapa a todos os arpões que se lancem para o rotular. Menos a um só, consensual. É uma obra prima da literatura.
Deixo apenas umas linhas da minha crónica onde reproduzo um irresistível extracto da obra. As palavras que me prenderam no arpão da trama. Para sempre:
«Tratem-me por Ismael - Há alguns anos – não interessa quantos – achando-me com pouco ou nenhum dinheiro na carteira, e sem qualquer interesse particular que me prendesse à terra firme, apeteceu-me voltar a navegar e tornar a ver o mundo das águas. É uma maneira que eu tenho de afugentar o tédio e de normalizar a circulação. Sempre que sinto um sabor a fel na boca; sempre eu a minha alma se transforma num Novembro brumoso e húmido; sempre que dou por mim a parar diante de agências funerárias e a marchar na esteira dos funerais que cruzam o meu caminho; e principalmente, quando a neurastenia se apodera de mim de tal modo que preciso de todo o meu bom senso para não começar a arrancar o chapéu de todos os transeuntes que encontro na rua – percebo então que chegou a altura de voltar para o mar, tão cedo quanto possível. É uma forma de fugir ao suicídio.»
Para ler a recensão inteira: Moby Dick...
Ficha Técnica: MELVILLE, Herman (1962) – Moby Dick, trad. Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves, Lisboa, Editorial Estudios Cor.
Sem comentários:
Enviar um comentário