Por Humberto Silva, em artigo sobre o Colóquio «O Jornalismo Português na Guerra Colonial, que decorreu na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH), a 28 de Maio de 2015, na página da Associação APOIAR:
M. Gonzaga, então repórter na redacção do jornal Noticias (1971) |
«A escritora Manuela Gonzaga lembra-se que a guerra era como se não existisse, quer na Metrópole quer nas próprias províncias. Em Lourenço Marques não havia guerra mas os movimentos das tropa seriam constantes e cada vez maiores. Nas grandes cidades pouco se sabia do porquê dessas movimentações e ninguém queria saber. A Guerra Colonial, para muitos, pouco mais era do que desfiles militares a fazer a apologia do regime e da glória de Portugal e o modo como se exibiam era como se não fossem fazer a guerra. No fim, o que transparecia era que todos os guerrilheiros eram vencidos ou se rendiam. O numero de mortos era anunciado nos jornais mas sempre em página par e num canto inferior. Manuela Gonzaga recorda-se de ver regressar os soldados das operações no mato, solitários, cansados e abandonados e de como absolutamente ninguém falava disso. Os relatos das operações eram tardios e embora deixassem transparecer o que se passava eram sempre redigidos de modo optimista e com a certeza da vitória.» [para ler na íntegra: O jornalismo português...]
Acrescento: o ter vivido, durante a minha adolescência, em terras onde a guerra eclodiu, Vila Cabral actual Lichinga e Tete, ajudou e muito a entender o desenho desta silenciosa tragédia.Acrescento também que foi Guilherme de Melo, jornalista e escritor, e já agora amigo, que iniciou as primeiras reportagens na frente de batalha em Moçambique conforme relato no meu livro Moçambique para a Mãe se Lembrar como Foi:
«Já a guerra ocupava três frentes, com a Frelimo a dominar as regiões de Cabo Delgado, Niassa e Tete, quando Guilherme de Melo, premiado escritor, poeta, jornalista e secretário-geral do jornal Notícias, foi destacado para as zonas de conflito. As suas reportagens, ilustradas com imagens de um também magnífico fotógrafo, Carlos Alberto Vieira, foram publicadas diariamente de abril a maio de 1968, sob o título genérico «Ao Norte — Guerra e Paz». A iniciativa revelou-se um êxito e o jornal teve de aumentar as tiragens. Finalmente, e tanto quanto a censura o permitiu, a população que tinha acesso à imprensa foi confrontada com retábulos da vida do exército português na solidão insone dos matos inconquistáveis.» (em Moçambique, cit., p.195)
Felizmente, vamos ter Actas deste encontro, organizado por Sílvia Torres (doutoranda em Ciências da Comunicação), CIMJ e CECL, a todos os títulos louvável, cujo objectivo foi reflectir sobre o jornalismo português «praticado num período critico da história de Portugal: a Guerra Colonial» conforme se pode ler na página da FCSH, da Universidade Nova de Lisboa [O Jornalismo Português na Guerra Colonial]
Siga o link Para conhecer o programa do evento e seus intervenientes.
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