A minha grande amiga Mozzaic, que vive em Las Vegas,
contactou-me hoje com a seguinte mensagem:
Hoje estive a falar no Skype com a Iris e ela disse-me que odiou fazer a dissecação de um sapo para ciências. Ficou muito contrariada, pediu desculpa ao sapinho por esta a fazer-lhe aquela maldade mas precisava da nota. Que tal sugerir que as crianças têm direito a recusarem-se fazer crueldade aos animais, sobretudo agora que há vídeos interativos que substituem o ter que fazer uma crueldade para aprenderem. Eu pessoalmente sou contra esse método de ensino. E tu? O que achas?
Virtual frog dissection |
Respondi de
imediato: «Acho ODIOSO». Há dois anos, a minha neta Maria desabafou comigo,
pouco antes de uma aula: «temos de dissecar uma rã, mas não vou conseguir, acho
horrível». Aconselhei-a a invocar «motivos éticos», o que ela fez. A professora
aceitou, e não a penalizou na nota.
Factos: muitos milhões de animais são dissecados todos os
anos, no mundo inteiro, em aulas do ensino secundário e universitário (nalguns
países isto começa na escola primária). Cada um destes animais retalhado e
morto representa uma vida desperdiçada, e um contributo decisivo para uma
mentalidade que encara o abuso de animais e do ambiente como natural e útil.
Cada
um destes pequenos seres torturados em nome de uma falsa ciência – dado que
existem muitas outras formas de se estudar anatomia – reforça a
insensibilização de todos e cada um destes futuros adultos, face à natureza e
aos outros seres que partilham connosco a casa comum, a Terra. E,
consequentemente, a indiferença perante o Outro – humano ou não humano. Desde
que pertença a um grupo diferente.
No
ensino básico e secundário, as rãs constituem os exemplares mais utilizados.
Mas também são utilizados ratos, coelhos, vermes, insectos, fetos de porcos,
cães e peixes. Muitos são adquiridos em unidades de reprodução animal que os
oferecem aos estabelecimento de ensino, destinando o grosso da produção aos
laboratórios que utilizam animais nas suas experiencias. É um negócio que
movimenta milhões, e só isso explica a sua existência… Alguns – segundo os
estudos levados a cabo pela PETA – são caçados nos seus habitats naturais.
Outros são animais de companhia roubados aos seus tutores ou até abandonados
por estes.
O
que podemos fazer? O que é justo e o que é certo. Invoquem-se motivos éticos,
cívicos, ambientais. Leve-se o tema às reuniões das escolas. Porque há muitas outras formas de fazer ciência. Há programadas de computador que tornam obsoletos
estes exercícios de falsa ciência. O que não dispensável é a saúde mental e
psicológica das crianças e dos adolescentes a quem este tipo de exercício
embrutece ou fere por demais. Ambas as consequências são terríveis.
Nota positiva:
Na Índia a PETA disponibilizou, gratuitamente, um softwear que permite aos estudantes aprenderem a dissecar sem terem de utilizar animais nos laboratórios. Acrescentem-se que a utilização massiva de rãs nestes exercícios está a colocar em perigo a biodiversidade pelo extermínio destes animais. Ver: Virtual Frog Dissection
PETA, «Dissection: Lessons in
Cruelty» http://www.peta.org/issues/animals-used-for-experimentation/animals-used-experimentation-factsheets/dissection-lessons-cruelty/ consultado a 12/10/2015
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