Sou muito afortunada. Tenho varios amigos e amigas escritores. Ficamos felizes com os èxitos mútuos, partilhamos desconfortos e desaires, e saudamos o privilégio de servir as letras e vermos os nossos livros serem publicados e bem acolhidos. Acima de tudo, gostamos muito uns dos outros, e somos fãs das nossas respectivas obras.
Fica a sugestão de uma leitura que muito me inspirou. O último livro do meu querido amigo Luís Filipe Sarmento.
Muito sucintamente, o livro é uma introdução poética ao génio de três autores decisivos para o século XX e mais além, Kant Nietzsche Kafka, mas essa abordagem singular não é ponto de chegada, mas rampa de lançamento para voos muito mais amplos. Navegamos assim no transcendente com @Luís Filipe Sarmento, que se lança com desassombro ao poema ensaio, e, recorrendo à ironia, à metáfora, à alegoria, e aos aforismos tão frequentes na obra de Kant e de Nietzsche desenvolve as pertinentes questões metafisicas tratadas por eles. Compondo, igualmente, um texto kafkiano na medida em que é complexo, labiríntico e surreal.
E muito sedutor.
Recorrendo ao seu riquíssimo léxico, Luís Filipe Sarmento oculta e revela nesta prosa esquiva – ora poesia, ora ensaio, ora ambos, em texto impossível de classificar – oculta, dizia eu, os alvos da sua exegese, ou melhor, a fonte aonde, neste caso, foi beber a sua inspiração torrencial. O título é hermético. Em todo o caso, a leitura é voraz. Voamos entre ideias, imagens, conceitos e referências que, aos poucos vão fazendo sentido. O livro termina tal qual como começa: com um texto magistral. E eis-nos em eterno retorno. O que é, também, uma forma superior de homenagem.
Que mais se pode pedir à poesia?
Manuela Gonzaga, Monsaraz, Agosto 2019
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