domingo, outubro 09, 2022

Que a paz esteja connosco

 Já se cruzaram as fronteiras todas e nada, nem ninguém, vai ficar de fora. Sobre a mesa das operações redentoras, discute-se, ao pormenor de última hora, o novo esquisso geopolítico à escala do planeta. Longe dos teatros de guerra, mas tragicamente perto de tudo, porque a guerra dos nossos tempos inquina a Terra inteira e todas as suas formas de vida, estrategas e dirigentes dos grandes blocos cavalgam os ventos da energia que fez nascer a civilização em que vivemos. Com um olho nos recursos hídricos, outro nas fontes primárias dos combustíveis que nos alimentam os quotidianos.

A fome já chegou a muitos lados. Nalguns países é (forçadamente) endémica. São as populações da regiões tragicamente mais ricas de recursos, que vendem energia e minérios imprescindíveis à sua instalação e desenvolvimento, mas que são deixadas às escuras e na mais infame pobreza... cortesia do Ocidente civilizado, claro. Mas tudo está a mudar tanto que, nos outros paises onde a abundância foi regra a partir de meados do último século, a escassez de alimentos já determinou a mobilização de exércitos a postos para conter as multidões quando a fome explodir em focos de violência global. E esta gente claramente armada, para nos defender, pois, é a ponta mais visivel do domínio implacável que já começou a vigiar e condicionar todos os nossos movimentos.
Mas a defesa de um país invadido, a Ucrânia, de onde milhares e milhares de cidadãos tiveram de fugir, e tantos já morreram, não passou pela mesa das negociações. A diplomacia esteve e está ausente desta tragédia no coração da Europa. De uma Ucrânica reduzida a escombros, e de uma Rússia acuada e capaz de ir às últimas consequências, só se contabiliza o número avassalador de mortes, sempre em crescendo, e a animadora, sempre em crescendo, entrega de armamento cujo valor dava para acabar com a fome "endémica" no mundo todo. Se alguma vez tivesse existido sequer a sombra dessa vontade. E com falso optismo, reportam-nos "sanções" ao país invasor, que acima de tudo nos penalizam a todos nós, gente.
Com o presidente dos Estados Unidos a invocar o Armagedom, já se normaliza a "inevitabilidade" da utilização das armas de destruição total que existem em grande quantidade de Leste a Oeste. Mas quantos países, entre todos os que existem ou querem existir, já se manifestaram aberta e inequivocamente pela Paz? Quantas manifestações têm eclodido a exigi-la? Já se esqueceram quando, na iminência da destruição do Irão por via das armas de destruição massiva que o pais manifestamente não tinha, as gentes vieram para a rua, em todo o mundo?
E quantos politicos, em Portugal e no resto do mundo, têm dado a cara e emprestado a voz pela defesa dos indefesos -- 90% da população mundial, números optimistas --, e todas as restantes criaturas animais e vegetais que o habitam? Saberão estas excelências o que está realmente em jogo? O que vai realmente acontecer? O que nos espera, sem sombra de dúvidas? Porque não falam, porque não gritam, porque não exigem? Onde estão os Martin KLuther King e os Mandela dos nossos tempos? É que só nos chegam noticias de gabinetes, onde é gerida a estratégia da autosobrevivência dos grupos que representam...
Resta-nos a pequenina e bruxuleante luz indestrutível da esperança. E velas, muitas, muitas velas, para atravessarmos a escuridão do inverno que se aproxima.
Que a paz seja connosco.

Sobre a imagem: no dia 26 de Janeiro de 2014, durante a oração do Angelus, duas crianças acompanhadas pelo Papa Francisco, soltaram algumas pombas brancas da janela do Palácio Apostólico do Vaticano. Na praça, uma multidão seguia o evento. Subitamente, um corvo e uma gaivota atacaram ferozmente uma das pombas.
Pode ser uma imagem de ave e ao ar livre



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