Há muito tempo que não ouvia ninguém gritar assim. Com uma paixão na voz, um desespero na alma e um vozeirão capaz de espantar o trânsito. Espantou-me, pelo menos, a mim. Parei. A um quarteirão da Biblioteca Nacional, interrompi o sprint automático que me leva à frescura tão amável daquela casa, para ver a quem pertenciam aqueles gritos. «Amor! Achas? Eu juro-te! achas que eu era capaz amor, a ti? nunca, nunca nunca nunca. Amor!»
O corpo chegou muito depois da voz e o homem parecia um torpedo a rasgar o espaço claríssimo do dia à minha frente, a gritar sempre as mesmas coisas, sobrepondo os seus argumentos às acusações que saiam pelo auricular do telemóvel. Era alto, era forte, era moreno e não via ninguém. Atravessou a rua sem ver os carros que, felizmente e por ser Agosto, se espaçavam preguiçosamente pela avenida. O discurso foi, enquanto o ouvi, sempre o mesmo, amor juro eu nao te fazia uma coisas dessas juro amor amor juro.
Tive de fazer um esforço para não ir atrás para ouvir o resto do monólogo. Venceu a princesa cujos destinos ando a investigar. Não por ser mais interessante, que o é sem sombra de dúvida, mas porque a BN vai fechar portas não tarde nada, e há muita coisa que ainda preciso de descobrir a respeito dela. Outros lamentos, outros gritos, outras alegrias e esplendores. Breve destino.