Dificil dizer. Quando se esteve tão próximo durante tanto tempo, talvez não se apliquem as mesmas regras. Há mais de três anos que esta mulher anda comigo para todo o lado. Há mais de dois que invadiu a minha vida, levando-me a invadir a dela. Tentei saber tudo quanto era possivel saber-se a seu respeito. Vi-a crescer, e superar-se. Vi-a apaixonar-se e ser retribuída. Receber honras e carícias e desestimas e afrontas e vénias. Gastar fortunas na sua Casa. Adoecer de febres misteriosas e recuperar das doenças e dos tratamentos médicos que a sangravam até à inanição. Acompanhei os seus partos, as suas dores, mesmo as piores, que é quando um filho parte, e ela viu partir vários. Senti o desgosto das suas saudades, e o peso do poder que desabou sobre ela nas ausências do marido tão ausente. Ouvia-a chorar. Várias vezes. De solidão e agonia.
Quase que fiz contas, como elas as fez, uma e outra e outra vez, a avisar o rei do ouro que minguava e desaparecia nos cofres exangues do reino, para ir alimentar o caudal das guerras, enquantos as riquezas verdadeiras se hipotecavam nas mãos dos banqueiros. Insaciáveis banqueiros.
Vi-a morrer, estive ao seu lado. Ouvi os prantos que se fizeram por ela. Muitos. Tantos que até os cronistas se espantaram.
Chorei a sua morte.
Recuperei da sua memória o que havia ainda recuperar. Poemas, romances, lendas. Muita fantasia e pouca verdade. Visitei os seus retratos. Li o seu testamento, acompanhei o féretro.
Revivi-a.
Agora, o trabalho é de detalhe. Mas mesmo assim, não consigo mantè-la à distância.
Até quando? Pelas minhas contas, duas semanas.
Mas serão estas as contas dela?
Quase que fiz contas, como elas as fez, uma e outra e outra vez, a avisar o rei do ouro que minguava e desaparecia nos cofres exangues do reino, para ir alimentar o caudal das guerras, enquantos as riquezas verdadeiras se hipotecavam nas mãos dos banqueiros. Insaciáveis banqueiros.
Vi-a morrer, estive ao seu lado. Ouvi os prantos que se fizeram por ela. Muitos. Tantos que até os cronistas se espantaram.
Chorei a sua morte.
Recuperei da sua memória o que havia ainda recuperar. Poemas, romances, lendas. Muita fantasia e pouca verdade. Visitei os seus retratos. Li o seu testamento, acompanhei o féretro.
Revivi-a.
Agora, o trabalho é de detalhe. Mas mesmo assim, não consigo mantè-la à distância.
Até quando? Pelas minhas contas, duas semanas.
Mas serão estas as contas dela?
1 comentário:
Deus é mãe :)
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