Durante mais de vinte anos tive em meu poder os diários de uma amiga. É uma história tão estranha que dela só deixo aqui o lado mais residual. Um dia, ela veio ter comigo. «Guarda-mos. És a única pessoa a quem seria capaz de pedir isto». Estendeu-me um pequeno embrulho castanho, aberto. Olhei para ela, sem entender. Estávamos num café de passagem, daqueles a que nenhuma de nós frequentava ou frequentaria, a meio caminho entre as nossas mútuas casas. Nesse tempo, já nem sequer éramos próximas, pelo que o pedido dela me aturdiu.
- O que faço com isto?
- Guarda-mos contigo. Por favor.
- Até quando?
- Até um dia destes. Até sempre.
Levei o embrulho para casa, e selei-o com tiras de fita cola. Depois enfiei-o nas profundas de uma gaveta, e esqueci-me dele. Ou fiz por isso. Nunca mais nos encontrámos. Nunca mais nos telefonámos sequer. Ela mergulhara numa trepidante vida nova. Estava muito feliz. Estava a recuperar os anos todos em que ficara longe do seu grande amor, que, entretanto, voltara para ela.
Depois, soube que o final feliz tivera desfecho infeliz. Ela estava outra vez sozinha. Esperei que me contactasse. Esperei sei lá o quê. Até ao dia em que, bruscamente, alguém me disse que ela tinha morrido. «Não soubeste? Foi há poucos dias». Eu também tinha, entretanto, mudado de casa, mas carregando aquele «peso» a que de repente atribuí um valor ainda maior. O que fazer? Havia pessoas a quem devia entregá-lo, mas tinha de saber se a altura era certa, e se estariam preparados para receber o pequeno despojo poético das aspirações de uma menina adolescente, que se prolongara pelos desabafos da mulher madura como a conheci.
Até então, nunca lera ou abrira sequer o embrulho castanho onde permaneciam aqueles Diários. Mas entretanto era preciso tomar uma decisão em relação a eles, e honrar a memória daquela amiga. Só então abri o envelope, e li algumas páginas, em leitura cruzada e comovida. Mas os encontros para reencaminhar este legado não foram fáceis, nem imediatos. E assim passaram mais uns anos.
Este Natal, finalmente, o precioso legado encontrou o seu justo caminho. Pu-lo no correio há uns dias, com votos de alegria e felicidade para os que, de forma directa, poderão comungar os segredos de alma e coração desta pessoa que fez parte da minha vida durante alguns anos, e que faz e fará parte da deles para sempre.
- O que faço com isto?
- Guarda-mos contigo. Por favor.
- Até quando?
- Até um dia destes. Até sempre.
Levei o embrulho para casa, e selei-o com tiras de fita cola. Depois enfiei-o nas profundas de uma gaveta, e esqueci-me dele. Ou fiz por isso. Nunca mais nos encontrámos. Nunca mais nos telefonámos sequer. Ela mergulhara numa trepidante vida nova. Estava muito feliz. Estava a recuperar os anos todos em que ficara longe do seu grande amor, que, entretanto, voltara para ela.
Depois, soube que o final feliz tivera desfecho infeliz. Ela estava outra vez sozinha. Esperei que me contactasse. Esperei sei lá o quê. Até ao dia em que, bruscamente, alguém me disse que ela tinha morrido. «Não soubeste? Foi há poucos dias». Eu também tinha, entretanto, mudado de casa, mas carregando aquele «peso» a que de repente atribuí um valor ainda maior. O que fazer? Havia pessoas a quem devia entregá-lo, mas tinha de saber se a altura era certa, e se estariam preparados para receber o pequeno despojo poético das aspirações de uma menina adolescente, que se prolongara pelos desabafos da mulher madura como a conheci.
Até então, nunca lera ou abrira sequer o embrulho castanho onde permaneciam aqueles Diários. Mas entretanto era preciso tomar uma decisão em relação a eles, e honrar a memória daquela amiga. Só então abri o envelope, e li algumas páginas, em leitura cruzada e comovida. Mas os encontros para reencaminhar este legado não foram fáceis, nem imediatos. E assim passaram mais uns anos.
Este Natal, finalmente, o precioso legado encontrou o seu justo caminho. Pu-lo no correio há uns dias, com votos de alegria e felicidade para os que, de forma directa, poderão comungar os segredos de alma e coração desta pessoa que fez parte da minha vida durante alguns anos, e que faz e fará parte da deles para sempre.
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