sábado, dezembro 21, 2013

Miracles do happen

Agora, a olhar para a concretização de mais um dos meus sonhos - editar em livro as minhas, as nossas, oficinas de escrita -, só posso dizer que os milagres realmente acontecem. Eu gosto de dar aulas. Na multiplicidade das minhas ocupações, onde o jornalismo avulta em primeiríssimo lugar até o ter largado para me dedicar à escrita a tempo inteiro e à investigação académica na área de História, dei, frequentemente, aulas pro bono, ou sem ser pro bono, a quem delas precisava. E isto desde os meus 16, 17 anos. História, Português, Geografia... Fui professora de jornalismo e regente da cadeira, no início da década de 90. E  finalmente, há uns tempos, concebi e estruturei encontros oficinais na área da escrita chamada criativa. Em todo o caso, sempre achei que  uma oficina sem a consagração material do seu trabalho não tinha grande sentido. Era como fazer um curso de culinária sem apresentar no final, pelo menos um bolo. Ou frequentar um atelier de desenho de moda, sem coroar a aprendizagem com um desfile. 


 
 
Em todo o caso, é preciso que se diga que os 'milagres' só acontecem quando chamamos por eles e o que eu me fartei de chamar por este. E foi assim que um dia, em conversa de rua, num encontro de vizinhas, a Livraria Alêtheia, a que se associa a Várzea da Rainha e a Sinapis editores, abriram os braços e as portas a este projecto, prontificando-se a apoiá-lo em todas as suas etapas. O que, numa soma de boas-vontades e entusiasmo,  nos permitiu trabalhar, criar raízes e produzir o livro lançado recentemente, a coroar o sonho de um punhado de pessoas que nunca imaginou publicar, ou pelo menos, publicar tão cedo. 







 




Vemos, nas imagens, a Clara Ferrão, a Elda Aguilar Rainho, a Carla Lemos, a Maria Teresa Figueiredo. Um aspecto da assistência. O Timóteo e a Happy, porque a Livraria Aletheia é dog friendly. Quem falta? Dois alunos que seguiram o curso á distância, e cujos maravilhosos textos figuram nesta antologia. Presente, mas 'ausente', a Maria Pinto de Araújo, pseudónimo de uma autora que não se quer revelar ainda. O seu texto deixa uma mensagem poderosa, eloquente e cheia de esperança. É o testemunho de alguém que sobreviveu ao inferno da violência doméstica, e que conseguiu reerguer-se e redescobrir-se e que, por isso mesmo, quer ajudar outras pessoas nessas circunstâncias. O seu 'Coração de Cristal' é, em forma de escrita, a primeira abordagem à sua missão de ajudar.

Noutro registo, a Teresa Figueiredo, que foi ao fundo das memórias de infância, ao encontro de tanta luz mas também de algumas sombras, por exemplo, também está lançada e já prometeu aos numerosos amigos que ali acorreram, que em 2014 o seu livro virá a público. O seu entusiasmo e determinação não conhecerão barreiras e a sua história é poderosa e envolvente. A Clara também não vai ficar por aqui. Precisa é de mais tempo para organizar literariamente a sua história de vida que... daria um filme. Os seus textos encantadores, a revelarem tanta rebeldia e imaginação desde tenra idade, são apenas um primeiro passo.

Noutro registo, e sempre a raiar  a poesia, a Carla Lemos delicia-nos com pequenos contos 'arrancados' de gavetas e baús secretos, pois, fotógrafa de profissão - a reportagem do lançamento é dela! . , é avessa a desnudar-se em palavras que trazem memórias. Mas os seus textos são cintilações onde os silêncios são tão eloquentes quanto as palavras. No extremo oposto, o José Saraiva transporta-nos à história dos seus primeiros anos de vida, com  uma mestria e um sentido de humor que nos prende e surpreende da primeira à ultima linha, detalhando personagens, cenários, cheiros e sabores que nos permitem ver o filme da sua infância a cores e a três dimensões. Por fim, chegamos aos lindíssimos textos da Sónia que remontou o puzzle da sua vida contando-nos a história do seu nome e das suas mudanças de vida, com uma sensibilidade tocante, que culmina no único conto que me fez realmente chorar, o pungente 'Fantasma de Laika'. Espero bem que também não fique por aqui.


Isto não é um pequeno milagre? Claro que sim. Para todos nós

E um belíssimo presente de Natal.  

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