Uma «última noite» que foi o primeiro dia deste novo livro, que comecei a escrever há nove meses atrás - sim, nove meses - sem perceber que era livro até que, no encadeado das narrativas, muito curtas, que me foram atropelando todos os pensamentos, obrigando-me à sua fixação em suporte digital, percebi.
Havia uma mulher e essa mulher estava a despedir-se do amante. Havia um homem, e esse homem não queria deixar aquela mulher deixá-lo. E havia histórias, muitas histórias que cruzavam os tempos, desde tempos muito remotos, que ela insistia em contar-lhe porque, dizia, eram outros tantos retábulos da vida dos dois, através das muitas vidas em que se tinham cruzado. E porém, estes relatos pareciam também subterfúgios para conquistar tempo... o tempo da distância que ele não lhe deixava tomar...
A principio, eu não sabia dela mais do que ela queria que eu soubesse. E não sabia dele, a não ser por intermédio do que ela queria que eu soubesse. Depois, a história tomou conta de mim, de uma forma avassaladora. Quando disse ao meu editor, Eduardo Boavida, que tinha um livro novo a caminho, ele até se riu. Tinha acabado de lançar Moçambique pra a mãe se lembrar como foi, e o processo fora estimulante, muitíssimo envolvente, mas... doloroso.
Quanto tinha cerca de setenta páginas e um montão de dúvidas, enviei-lhas. Ele gostou. E deus sabe como precisamos de estimulo e apoio nessa fase silenciosa e escondida, em que nos enrolamos nas nossas próprias estórias, procurando dar-lhe o chão seguro de uma narrativa que suporte, com elegância e credibilidade, o seu esqueleto musical.
Ontem, 11 de Março, o livro foi apresentado ao público. Trechos da obra selecionados e lidos na voz lindíssima do Samuel Pimenta criaram uma aura de silencio mágico na sala. Deixem-me acrescentar que a FNAC do Chiado estava mesmo muito cheia. Mas antes, Vítor Rua fez uma apresentação brilhante, generosa, inusitada a reflectir uma leitura muito profunda do livro. E o prazer muito evidente que ele teve em lê-lo. Foi... extraordinário. A principio, o registo era tao como dizer? out que criou uma aura de espanto. Estas coisas da cultura costumam revestir-se de alguma solenidade excessiva, que, no meu caso, tento arredar. Mas nem toda a gente consegue o prodígio que este músico, este intelectual, conseguiu. Criar silêncios arrepiados e arrancar gargalhadas.
O meu neto, Gabriel, que é um dínamo, um furacão à solta, escutou tudo numa imobilidade reverencial, e isto diz muito de uma criança de três anos que no fim, voltou ao seu estado 'normal' e, saltando do colo do pai, desatou a correr pela FNAC fora, tipo lebre. Ora quando até uma criança assim ouve como o Gabriel ouviu, é porque um anjo passou por aquele espaço. Vítor falou de deus, ao falar do livro, mas nem me atrevo a citá-lo. Quando estiver online, deixarei aqui o que aconteceu e foi filmado.
A todos muito obrigada. Tanto, tanto, tanto. Adorei todos os abraços, todas as palmas, gargalhadas, expectativa, encontros, reencontros com amigos e desconhecidos. Adorei a apresentação do Vítor Rua, e os trechos escolhidos pelo Samuel Pimenta. Agora, o livro já não é meu. É, literalmente, de quem o apanhar. A vossa leitura, fará o resto.
Havia uma mulher e essa mulher estava a despedir-se do amante. Havia um homem, e esse homem não queria deixar aquela mulher deixá-lo. E havia histórias, muitas histórias que cruzavam os tempos, desde tempos muito remotos, que ela insistia em contar-lhe porque, dizia, eram outros tantos retábulos da vida dos dois, através das muitas vidas em que se tinham cruzado. E porém, estes relatos pareciam também subterfúgios para conquistar tempo... o tempo da distância que ele não lhe deixava tomar...
A principio, eu não sabia dela mais do que ela queria que eu soubesse. E não sabia dele, a não ser por intermédio do que ela queria que eu soubesse. Depois, a história tomou conta de mim, de uma forma avassaladora. Quando disse ao meu editor, Eduardo Boavida, que tinha um livro novo a caminho, ele até se riu. Tinha acabado de lançar Moçambique pra a mãe se lembrar como foi, e o processo fora estimulante, muitíssimo envolvente, mas... doloroso.
Quanto tinha cerca de setenta páginas e um montão de dúvidas, enviei-lhas. Ele gostou. E deus sabe como precisamos de estimulo e apoio nessa fase silenciosa e escondida, em que nos enrolamos nas nossas próprias estórias, procurando dar-lhe o chão seguro de uma narrativa que suporte, com elegância e credibilidade, o seu esqueleto musical.
Ontem, 11 de Março, o livro foi apresentado ao público. Trechos da obra selecionados e lidos na voz lindíssima do Samuel Pimenta criaram uma aura de silencio mágico na sala. Deixem-me acrescentar que a FNAC do Chiado estava mesmo muito cheia. Mas antes, Vítor Rua fez uma apresentação brilhante, generosa, inusitada a reflectir uma leitura muito profunda do livro. E o prazer muito evidente que ele teve em lê-lo. Foi... extraordinário. A principio, o registo era tao como dizer? out que criou uma aura de espanto. Estas coisas da cultura costumam revestir-se de alguma solenidade excessiva, que, no meu caso, tento arredar. Mas nem toda a gente consegue o prodígio que este músico, este intelectual, conseguiu. Criar silêncios arrepiados e arrancar gargalhadas.
O meu neto, Gabriel, que é um dínamo, um furacão à solta, escutou tudo numa imobilidade reverencial, e isto diz muito de uma criança de três anos que no fim, voltou ao seu estado 'normal' e, saltando do colo do pai, desatou a correr pela FNAC fora, tipo lebre. Ora quando até uma criança assim ouve como o Gabriel ouviu, é porque um anjo passou por aquele espaço. Vítor falou de deus, ao falar do livro, mas nem me atrevo a citá-lo. Quando estiver online, deixarei aqui o que aconteceu e foi filmado.
Vítor Rua, atrás do tablet desdobrável, a apresentar brilhantemente Xerazade - A Última Noite, de Manuela Gonzaga, com Eduardo Boavida e Samuel Pimenta |
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