sábado, junho 18, 2022

Não eram amigos verdadeiros. Eram clientes.


A cerimónia da cremação pretende libertar a alma de quem morreu. As famílias recolhem as cinzas   numa casca de coco, e levam-nas para o mar ou para o rio mais próprio, devolvendo os restos mortais à Mãe Terra. 

Da Vida e seus tropeços

Depois, há aqueles dias em que tudo o que era a nossa terra firme desaparece. Amores, bens, casas, empregos, esteios das mais diversas naturezas do palpável. Em breve, os amigos tão constantes, tão presentes, diluem-se num horizonte de solidões. Em boa verdade, não eram amigos verdadeiros. Eram clientes. Da nossa alegria, da nossa riqueza material ou imaterial, do nosso cintilar que, como pequenas borboletas tontas e nocturnas, fogem para junto de outras efémeras luzes. Só que nesse mesmo instante em que parece que tudo acabou, é que a Vida na sua girândola volta a recomeçar e o caminho apresenta-se mais nítido do que nunca. Mesmo através de um véu de nevoeiros e medos e lágrimas, se ainda as soubermos chorar.

Todos os destinos passam por estes ordálios. Todos. Caminhar é viver. Viver é cair e levantar e seguir em frente. Às vezes, só em solidão podemos voltar a ouvir a voz verdadeira que nos indica, sem falha, o rumo da estrela polar da vida que determinámos ser. A nossa própria voz. Daí a importância vital do Sonho, o único bem inalienável que possuímos. Para além do tempo, mas sobre este ultimo não temos poder algum, apenas usufruto.

Sem comentários: